O ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, começa a semana que marca os 100 primeiros dias do governo sem saber se seguirá à frente da pasta. Assim que foi convidado para o cargo, o professor colombiano naturalizado brasileiro atribuiu sua escolha ao escritor e polemista Olavo de Carvalho. Vélez chega a esta segunda-feira (8) emparedado pela crise administrativa no ministério, pela disputa entre militares e apoiadores de Olavo e pela desconfiança do presidente da República e, agora, do próprio padrinho político. Além disso, como mostrou o Painel do Poder, do Congresso em Foco, o ministro é o pior avaliado pelos parlamentares mais influentes da Câmara e do Senado.
O presidente reconheceu, em café da manhã com jornalistas na última sexta-feira, que a gestão no Ministério da Educação não está funcionando e adiantou que terá hoje uma conversa decisiva com o auxiliar. No fim de semana, Olavo chamou o “afilhado” político de “traiçoeiro” e sinalizou apoio à sua eventual demissão.
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“Conheci o professor Vélez por seus livros sobre a história do pensamento brasileiro, publicados mais de vinte anos atrás. Nunca tomei conhecimento das suas obscenas tucanadas e clintonadas, que teriam me prevenido contra o seu comportamento traiçoeiro. Não vou fazer nada contra ele, mas garanto que não vou lamentar se o botarem para fora do ministério”, postou Olavo nas redes sociais. O escritor exerce grande influência sobre os filhos do presidente, sobretudo, Carlos e Eduardo.
Vélez afirmou na sexta-feira que não vai entregar o cargo e só sairá se for demitido. Caso seja essa a opção do presidente, será o segundo ministro a cair. O primeiro foi Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência), que deixou o governo após entrar em confronto com Carlos Bolsonaro e, em seguida, com o próprio presidente. Discute-se no governo a possibilidade de se remanejar Vélez para cargo de menor escalão em outro órgão federal.
Ele ainda tem esperança de receber nova chance de Bolsonaro e ser mantido à frente do ministério. Mas as palavras do presidente sobre a relação entre os dois não são das mais animadoras para ele. “Está bastante claro que não está dando certo o ministro Vélez. É uma pessoa honrada, mas está faltando gestão. Na segunda-feira, vamos tirar a aliança da mão direita, ou vai para a esquerda ou vai para a gaveta”, disse o presidente na sexta.
A gestão do ministro tem sido marcada por confusões. Há duas semanas ele foi enquadrado pela deputada Tabata Amaral (PDT-SP), de 25 anos, ao ir à Câmara, para uma audiência pública, sem apresentar qualquer projeto de sua pasta. Foi chamado de incompetente e ouviu da jovem deputada que deveria pedir demissão.
PublicidadeEsse, porém, está longe de ser o maior dos problemas de Vélez. Uma disputa entre apoiadores de Olavo de Carvalho e militares dentro do ministério fez do Ministério da Educação o ambiente mais instável da Esplanada dos Ministérios, com trocas quase diárias em cargos importantes. A saída dos chamados “olavetes” irritou o escritor.
Vélez também se envolveu em outras polêmicas. Na semana passada criou atrito entre os próprios militares ao dizer que determinaria mudanças no conteúdo de livros de História para negar que o Brasil tenha sido alvo de golpe de Estado em 1964, mas salvo por um “contragolpe” para impedir a instalação do comunismo no país.
Em março, o ministério determinou a suspensão dos testes de alfabetização para crianças de sete anos, com a promessa de retomá-los em 2021. A portaria foi assinada pelo Inep, que é o órgão responsável pelos exames. Mas foi revogada no dia seguinte após a repercussão negativa. O ministro alegou, internamente, ter sido surpreendido com a medida.
Antes, ele pediu a diretores de escolas que lessem para alunos uma carta que terminava com o slogan da campanha de Bolsonaro nas eleições. O texto também orientava os diretores a filmarem alunos durante a execução do hino nacional e da leitura da carta e a enviarem para o MEC os vídeos. Ele desistiu da ideia e admitiu ter se equivocado após forte repercussão do caso e abertura de investigação contra ele por improbidade administrativa.
Em entrevista à revista Veja, o ministro também polemizou ao dizer que o brasileiro, quando viaja, parece um “canibal”. O ministro foi notificado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para que esclarecesse o teor das declarações. Ele afirmou ainda que os turistas brasileiros roubam hotéis.
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