Em live promovida pelo Congresso em Foco, deputados e representantes de entidades de defesa da educação consideram que a resposta à pandemia no setor de educação foi ruim, e que o debate sobre o retorno às aulas, hoje, é deficiente. Os deputados convidados foram premiados no Prêmio Congresso em Foco 2020.
“A pandemia ainda está num patamar muito alto no Brasil, e falar em retorno às aulas gera muita insegurança”, apontou a presidente-executiva da ONG Todos pela Educação, Priscila Cruz. A representante apontou que, por mais que o momento ainda seja de preservar vidas, providencias precisam ser tomadas agora para que, protocolos estejam prontos no momento de retorno às atividades escolares.
Priscila disse que o seu medo, neste momento, é que esta situação inédita justifique demora na tomada de decisões. “Tenho muito medo deste discurso de que ‘este é um ano perdido e só voltamos ano que vem’, porque distensiona a gestão pública”, afirmou a presidente-executiva, que projetou: “Quando esse cavalo selado passar, e a pandemia permitir retomar as aulas, o que vai acontecer: as escolas não estarão preparadas, não haverá formação dos professores, não tem um novo currículo pensado, assim como protocolos sanitários, processos de acolhimento e de recuperação.”
Análise similar foi feita pelo deputado federal Marcelo Freixo, do PSOL carioca – que definiu a discussão do retorno às aulas no Brasil, hoje, como “um debate torto”. Para Freixo, o debate carece de valorização de professores, assim como de diálogo para um retorno seguro ao calendário escolar.
Freixo ideia de volta as aulas vai além de um mero debate sobre estar ou não dentro de sala de aula. “Não pode ser apenas um debate de ir e vir, mas tem de estar casada com outras políticas públicas”, explicou o parlamentar fluminense. O deputado também usou como exemplo o caso da educação no seu próprio estado, que definiu como “caso de polícia” – já que hoje, mais cedo, a polícia prendeu o secretário de educação local por suspeita de fraude em contratos.
Para a deputada federal Tabata Amaral, do PDT de São Paulo, o Ministério da Educação (MEC), que tem em Milton Ribeiro seu quarto ministro em 21 meses, ainda não cumpriu seu papel de apontar diretrizes e apoiar caminhos às secretarias estaduais com mais dificuldades. Tabata firmou que a inação do MEC não é, entretanto, motivo para que ativistas pela educação como ela aceitem a atual conjuntura.
“Não podemos falar que, como o governo federal não está se importando com a educação, vamos cruzar os braços e deixar uma geração inteira perder a chance de uma geração melhor”, afirmou. “Como Congresso, temos que apresentar respostas.”
Tabata afirmou que trabalha em projetos a respeito do planejamento da volta às aulas e a possibilidade de conectividade para alunos de baixa renda, que historicamente possuem menores possibilidades de acesso à Internet. A parlamentar apontou que um novo planejamento para a educação deve custar mais caro do que uma educação normal, mas “essa conta vai chegar, e vai ser muito caro ao Brasil ter cruzado os braços e abandonado tanto seus estudantes.”
O deputado Raul Henry (MDB-PE) apontou que o Brasil pode aprender com a experiência de outros países para um retorno seguro. Questionado sobre como estaria o MEC na gestão do governo Bolsonaro, Henry buscou contextualizar a situação ao afirmar que uma situação favorável ao presidente, com Congresso, sociedade e imprensa favoráveis a uma nova política educacional, foi desperdiçada. “O presidente resolveu jogar tudo isso fora, e resolveu apostar no conflito”, disse.
Ao lembrar do antigo titular da pasta, Abraham Weintraub, Henry afirmou que era “um sujeito agressivo, sem nenhuma qualificação, que agrediu Priscila pessoalmente. Como a educação é fundamental para o país, certamente foi a educação quem mais perdeu neste governo.”
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