Carlos Alberto Decotelli afirmou na noite desta segunda-feira (29) que vai assumir a cadeira de Ministro da Educação. “Sou ministro, tenho trabalhos agora e vou tentar corrigir trabalhos de Enem, Sisu. Não tem nenhum arrependimento. São correções em relação a textos”, disse em conversa com jornalistas.
Anunciado para o comando da pasta na semana passada, o professor teve de se explicar com relação à descoberta de plágio em sua dissertação de mestrado e ainda sobre os títulos de doutorado e pós-doutorado que constam em seu lattes, mas que foram desmentidos pelas universidades de Rosário, na Argentina e de Wuppertal, na Alemanha.
Decotelli afirmou que quando escreve é preciso ter “disciplina mental” também para revisar e mencionar o que citar. “Cuidado. É possível haver distração? Sim, senhora. Hoje, a senhora tem mecanismos para verificar, [tem] softwares. Mas naquela época, pela distração… Não houve plágio, porque o plágio é quando faz ‘Control + C, Control + V’, e não foi isso”, justificou.
A declaração aconteceu após uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro. Durante a tarde, o Planalto anunciou que a posse de Decotelli ainda não tem data definida. Até então, a liturgia estava marcada para essa terça-feira (30).
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O ministro também comentou sobre a questão do doutorado. “A banca falou que a tese tinha um ponto de corte muito longo e me mandou fazer readequações. Essa foi a recomendação formal. Eu precisava voltar ao Brasil, porque toda a despesa foi pessoal, não havia bolsa. Com dificuldade, não mais voltei. Fiquei com o diploma de créditos concluídos, posso disponibilizar a vocês”, disse.
Na semana passada, o MEC já havia encaminhado este documento para a imprensa após o reitor da universidade argentina negar, pelas redes sociais, que Decotelli obteve o grau de doutor na instituição. Nesta segunda-feira (29), foi a vez da faculdade alemã negar que o futuro ministro tenha obtido lá o grau de pós-doutor. “Ele não adquiriu nenhum título em nossa universidade. A Universidade de Wuppertal não pode fazer nenhuma declaração sobre títulos obtidos no Brasil”.
Reações
No início da tarde de hoje (29), a Câmara cobrou explicações do professor. A deputada Margarida Salomão (PT-MG), presidente da Frente Parlamentar da Educação, disse ao Congresso em Foco que, em um primeiro momento, não era a intenção da oposição colocar o ministro contra a parede com requerimentos de convocação. No entanto, ela não descarta a apresentação de pedidos nesse sentido.
“Eu acho que pode acontecer, eu aguardo isso, não vejo alternativa, porque a postura do governo Bolsonaro em relação à educação desde a indicação de Ricardo Vélez sempre foi muito ruim”, afirmou.
No início da noite, Bolsonaro comentou sobre a escolha de Decotelli em suas redes sociais.”Desde quando anunciei o nome do Professor Decotelli para o Ministério da Educação só recebi mensagens de trabalho e honradez. Por inadequações curriculares o professor vem enfrentando todas as formas de deslegitimação para o Ministério. O Sr. Decotelli não pretende ser um problema para a sua pasta (Governo), bem como, está ciente de seu equívoco. Todos aqueles que conviveram com ele comprovam sua capacidade para construir uma Educação inclusiva e de oportunidades para todos”, afirmou o presidente.
Na semana passada, quando foi anunciado ministro, um grupo de ex-alunos de Decotelli, de uma turma de MBA de Gerenciamento de Projetos na Fundação Getúlio Vargas (FGV), em Curitiba, comemorou a indicação do professor para a pasta em mensagens de um grupo do Whatsapp, do qual o Congresso em Foco teve acesso.
“Que legal. Força Decotelli”, disse uma das ex-alunas. “Que massa”, falou outro. “De fato um professor fantástico, muito inteligente. Será que aguenta esse doido?”, questionou um terceiro. Nesta segunda-feira (29), no entanto, o humor no grupo era diferente. “Aff… e ninguém nem checa nada. Tô pagando mensalidade com valor de pós-doutorado dos professores”, desabafou uma das ex-alunas.
Durante o fim de semana, a FGV anunciou que vai apurar a denúncia de plágio na dissertação de mestrado.
Decotelli é o terceiro ministro da Educação no governo Bolsonaro. Ele sucede Abraham Weintraub, demitido por ter participado de um ato contra o Supremo Tribunal Federal. “Já falei a minha opinião, o que faria com esses vagabundos”, disse na época. Ele também é alvo de investigação do STF por ter defendido, em reunião ministerial de 22 de abril, que os ministros da mais importante corte do país fossem presos.
Antes de Weintraub a pasta era comandada por Ricardo Vélez Rodriguez, que em dois meses no comando do MEC demitiu o presidente do Inep, Marcus Vinicius Rodrigues, pediu que as escolas filmassem os alunos cantando hino nacional e enviassem o vídeo ao ministério, afirmou que universidade não é para todos e disse em entrevista que o brasileiro parece um “canibal” quando viaja ao exterior.
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