Muita gente fala, ou tenta falar, sobre como ter concentração nos estudos voltados à preparação para concursos públicos. Muitas abordagens sobre o tema são colocadas como se fossem fórmulas mágicas de fácil implementação e eficácia garantida, sendo apresentadas com colocações cativantes que, por vezes, se traduzem numa verdadeira venda de ilusão. E tais mercadores de idéias sobre como se concentrar nos estudos, geralmente, ou não passaram efetivamente pelo processo de preparação – e com o alcance de resultados, desprovidos, portanto, de elementos empíricos, ou não contam com a devida compreensão científica sobre o tema, o qual envolve um conjunto de complexidades.
O objetivo do presente texto é que você entenda, efetivamente, como funciona o mecanismo da concentração. Inclusive para que, a partir desta compreensão, desenvolva suas próprias técnicas e estratégias para se concentrar, com o devido respeito às suas particularidades. Também serão apresentadas algumas atitudes que considero relevantes, em relação às quais tenho a convicção da eficácia, tanto a partir da minha experiência de candidato, quanto de vários outros que pude acompanhar. Porém, não há qualquer pretensão universalizante, no sentido de que seja eficaz para todos.
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A concentração tem uma relação direta com a atenção. Há quem entenda existir alguma diferença conceitual, a qual considero irrelevante, principalmente diante do objetivo do presente texto. Segundo a neurociência, nós temos funções cognitivas primárias e secundárias. As primárias consistem na atenção e memória, ao passo que as secundárias têm como espécies a linguagem e a aprendizagem. Repare que as primárias são condições para a realização das secundárias.
A atenção, por sua vez, consiste na capacidade de seletividade de estímulos. Ou seja, ao nos concentrarmos ignoramos alguns estímulos e valorizamos outros. Imagine a experiência de atravessar a rua e não valorizar o estímulo correspondente aos carros trafegando, deixando de ignorar outros estímulos como as demais pessoas atravessando, os sons, o céu, o iphone ou o smartphone. O resultado tenderia a não ser muito bom. Inclusive, isto mostra que a capacidade de concentração conta com uma lógica de sobrevivência.
Portanto, a primeira idéia fundamental a ser compreendida é que se concentrar nos estudos significa ignorar os estímulos que não correspondem ao objeto de conhecimento a ser estudado. Com esta compreensão é preciso que você entenda que, qualquer “técnica” que lhe for apresentada deve buscar o referido objetivo. Dessa maneira, o mais importante é que as estratégias e atitudes que você venha a adotar ou construir devem buscar o referido objetivo.
Exatamente por isto, a definição do local de estudos é importante. Ou seja, o espaço físico deve proporcionar poucos estímulos. E por este motivo valorizo a biblioteca como local de estudo, pois se trata de um ambiente adequadamente estruturado para os estudos, em termos de ocupação do espaço físico e, geralmente, imune aos estímulos sonoros, isto é, um local silencioso.
Vale lembrar que, conceitualmente, a concentração, enquanto seleção de estímulos, pode ser voluntária ou provocada. Quando assistimos a partida final do campeonato de futebol com o nosso time em campo, tendemos a nos concentrar voluntariamente naquele estímulo, de modo que ignoramos todos os demais que não seja a bola em campo. Porém, dificilmente o mesmo ocorrerá nos estudos.
Enquanto em curso minha trajetória de candidato, me preparando para o concurso público, construí empiricamente as seguintes estratégias para colaborar com a concentração:
1- estudava em locais com poucos estímulos, principalmente em termos sonoros, ou seja, geralmente estudava em bibliotecas;
2- durante o percurso de deslocamento evitava rádios de notícias, conversar com as pessoas, dar e atender telefonemas, de modo a evitar estímulos como informações, notícias, problemas, novidades e fatos que tivessem o potencial de prevalecer sobre o estudo;
3- ainda durante o percurso, procurava ouvir música clássica ou músicas com sons de natureza, evitando músicas com letras, também de modo a evitar que estas se colocassem como estímulos a furtar minha concentração;
4- após me acomodar no local de estudo, procurava me manter, por cerca de 3 a 5 minutos, respirando profundamente e pausadamente, com os olhos fechados, tentando relaxar as pálpebras e evitando pensar em elementos ou fatos concretos.
Estas atitudes para mim contavam com eficácia e as adoto até hoje, ao executar minha permanente rotina de estudos. Porém, pode ser que seja eficaz para você ou não. O fundamental é entender o seu sentido e avaliar como se compatibiliza com à sua realidade, procurando promover as estratégicas mais adequadas.
Inclusive, para quem conta com dificuldades como o TDAH, tais atitudes e preocupações são indispensáveis. E ouso dizer que muitas vezes pode ser mais eficiente que a medição, ainda que não ignore o seu papel.
Outra informação importante é que a concentração pode ser treinada. Aliás, esta compreensão tem relação com a disciplina, o que foi objeto de texto específico publicado também no meu blog (veja aqui). Conforme matéria recentemente publicada no Caderno Equilíbrio da Folha de São Paulo, “…o bom é que a capacidade de se concentrar pode ser treinada…” (20/07/2010, FSP,Caderno Equilíbrio, págs 6/8).
Portanto, concluindo, muito cuidado com as fórmulas mágicas, compreenda a importância e o sentido da concentração e construa as suas estratégias mais adequadas à sua realidade.
Rogerio Neiva é Juiz do Trabalho desde 2002, foi Advogado da União e Procurador de Estado. É Professor de cursos prepratórios para concursos públicos, autor dos livros “Concursos Públicos e Exames Oficiais: Preparação Estratégica, Eficiente e Racional” (Ed. Atlas) e “Como se preparar para concursos públicos com alto rendimento” (Ed. Método), parceiro do SOS Concurseiro e criador do Sistema Tuctor.
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