Nos estertores de 2018, a banda brasiliense Superquadra acabou, enfim, por lançar o seu aguardado segundo disco – Norte. Já não era sem tempo: lá se vão 12 anos desde que o grupo, liderado pelo vocalista Cláudio Bull e pelo guitarrista Wilton Rossi, nos brindou com Tropicalismo Minimal, um dos melhores registros sonoros da tão badalada história do rock made in Brasília – e isso, convenhamos, não é pouca coisa.
Para quem não conhece, a Superquadra é rock feito por quem tem mais de três neurônios e uma verdadeira paixão pela cultura pop e pela história da música e das artes. Por quem quer cantar essa Brasília tão vanguardista nas formas quanto conservadora no seu modo de viver. Por quem sabe que os desejos e afetos não cabem dentro das linhas bem-comportadas de uma superquadra.
Por detrás dos cobogós
Nas primeiras audições de Norte, lembrei-me de Céu de Brasília, música de Toninho Horta e Fernando Brant. Nela, o guitarrista mineiro canta um passeio pelas ruas da capital à noite – logo depois que a cidade “acalmou” -, vendo pelas janelas as famílias se entretendo com a “fria luz” das televisões ligadas.
Corta para o disco da Superquadra: no lugar das famílias ingênuas da década de 1970, espiamos o que parece ser uma discussão barra-pesada de um casal prestes a se separar (em Não fale assim), o contentamento inebriado de um apaixonado à espera de seu amor chegar em casa (em Brisa), as tentativas de controle à distância de um amante misantropo (em 1000 ondas elétricas – música que ganhou um videoclipe). Cenas verossímeis do cotidiano de uma metrópole onde a vida não passa de “entretenimento e dor”, como canta Cláudio Bull em Lestat.
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Rumo ao dark side
Norte nos proporciona também um passeio pelo “wild side” da capital – não é à toa que a capa do disco é uma imagem estilizada do Conic, esse centro comercial esquizofrênico no coração de Brasília onde se encontram evangélicos, garotas de programa, sindicalistas e alternativos em geral. Nesse tour noturno, procura-se inspiração artística nas criaturas da noite (Toulouse-Latrec) e ouvem-se discursos paranoico-pessimistas nas mesas de bar (Judas). Na melhor tradição dos poetas malditos, mergulha-se no dark side das ruas na tentativa de desvelar o lado obscuro da natureza humana, os segredos mais inconfessáveis. “A crueldade está em mim”, admite o vocalista na segunda faixa do disco.
Se for para escolher uma canção de destaque, fico com Frenesi, uma balada meio alt-country que revela a maturidade insuspeita de uma banda que se aproxima de completar duas décadas de existência – mesmo que intermitente. Vale a pena transcrever seus primeiros versos: “Se o mundo me leva rápido, eu vou devagar / Quem corre chega à frente para se lamentar / Quero tranquilamente te ver dormir / O mundo quer que eu corra só para me enganar / Nada para, nada freia esse frenesi.”
Norte é um lançamento do selo Quadrado Mágico e já está disponível nas principais plataformas de streaming. Clicando aqui você escuta o disco pelo YouTube.
Que legal ler isso. Curto demais o primeiro disco deles e concordo que Frenesi é a melhor do novo. Que essa galera apareça mais