Já parou para pensar que muitas vezes somos levados a pensar ou fazer algo por conta de hábitos, costumes ou pré-condições incutidas em nossa mente? Que se parássemos para pensar não agiríamos desse ou daquele modo? Sabia que essas condições podem ser manipuladas de modo a condicionarmos a conduta das pessoas ao nosso redor?
Se você olhar para os livros de economia, aprenderá que o homo economicus pode pensar como Albert Einstein, guardar tanta memória quanto a IBM, e exercitar a força de vontade de Mahatma Gandhi. Sério. Mas as pessoas que nós conhecemos não são assim. Pessoas reais têm dificuldade de fazer divisões longas se não possuírem uma calculadora, às vezes esquecem o aniversário da esposa e tem ressaca depois do ano novo. Essas pessoas não são homo economicus; eles são homo sapiens.
A economia tradicional pressupõe que nossas ações são racionais. Trata-se de um pressuposto metodológico muito útil para as análises tradicionais, mas que se mostra insuficiente para explicar algumas atitudes humanas. Por exemplo, por que acabamos nos deixando levar por impulsos consumistas e entramos no cheque especial? Por que comemos algo sabendo que não vai nos fazer bem? Por que fazemos bolhas de sabão? Só porque é legal. Não há razões lógicas que expliquem alguns comportamentos humanos.
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É nesse contexto que entra nosso assunto. Entender que a mente humana trabalha sobre vieses cognitivos ajuda a entender porque as pessoas tomam decisões ruins. Conhecer diferentes “cutucões” permite aos gestores públicos arquitetar escolhas e promover comportamentos com vistas à melhoria do bem-estar social.
Uma das áreas mais importantes da economia comportamental busca utilizar evidências para propor alterações em políticas públicas e em processos de decisão privados, relacionados a negócios, mercado e consumo. A arquitetura da escolha, nudge, consiste em aplicar intervenções comportamentais, com embasamento científico e foco no contexto, a fim de influenciar o comportamento das pessoas.
A economia comportamental, criada na academia chegou aos governos orientando países na implementação de políticas públicas. O primeiro a incorporar a economia comportamental a políticas públicas o Reino Unido durante a gestão do primeiro-ministro David Cameron. Em 2010 ele criou 2010 o Behavioural Insights Team, conhecido como “Nudge Unit”, ligado ao seu gabinete. Foi a primeira instituição governamental no mundo a aplicar a economia comportamental para influenciar o comportamento humano nas políticas públicas.
PublicidadeEm 2015, o então presidente dos EUA, Barack Obama publicou decreto dispondo que os órgãos públicos americanos usassem o enfoque comportamental nas políticas públicas. No mesmo ano foi criado o Social and Behavioral Sciences Team, ligado à Casa Branca para assessorar o governo nessa matéria.
Ainda em 2015 o Banco Mundial criou a The Global Insights Initiative para utilizar a ciência comportamental em políticas públicas. O Banco incentiva governos e sociedade civil adotem estratégias, ferramentas e métodos com enfoque comportamental para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Esse foi o tema de seu Relatório Anual de Desenvolvimento Mundial, com o título Mente, Sociedade e Comportamento.
Era o começo de uma tendência global. Hoje, vários países e governos criaram ou estão criando suas próprias unidades de ciência comportamental aplicada, também chamadas de Unidades de Nudge. Em todo o mundo estudiosos e instituições se organizaram para aprofundar o conhecimento e aplicar a economia comportamental para otimizar resultados em políticas públicas, nas áreas de saúde, transporte, segurança, previdência e diversas outras.
Políticas públicas baseadas em insights comportamentais são em geral mais eficientes e têm custo muito menor (seja legislativo, político, operacional ou financeiro) e são menos invasivas do que as regulações tradicionais baseadas em obrigações (positivas ou negativas) e sanções (prêmios ou penas). Veja por exemplo os casos de doação de órgãos e da contribuição para aposentadoria. Em ambos casos e muitos outros a formulação passou pelo diagnóstico de que parte do problema estava no viés cognitivo da população e as medidas implementadas estavam em pequenos cutucões para induzir a conduta dos cidadãos.
Os governos têm encontrado na economia comportamental soluções mais eficientes para prestarem serviços efetivos. Inovações políticas com resultados comprovados utilizando técnicas de nudging tem uma das suas principais aplicações recentes nas políticas públicas. A economia comportamental é uma das ideias mais quentes da política pública.
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