O presidente do BNDES, Gustavo Montezano, negou que tenha havido irregularidade na contratação da auditoria externa que apurou empréstimos feitos pela instituição para o grupo JBS, um dos alvos da Operação Lava Jato. Segundo ele, os contratos foram aditados duas vezes devido ao aumento do volume de informações e à ampliação do foco das investigações com os dados da CPI do BNDES e da “auditoria shadow”, que revisa a principal.
Ele fez também uma correção no valor da auditoria. De acordo com Montezano, a quantia gasta com o procedimento foi de R$ 42,6 milhões, e não de R$ 48 milhões, como havia sido anunciado em 21 de janeiro. O subprocurador do Ministério Público no Tribunal de Contas da União (TCU), Lucas Furtado, pediu na semana passada ao tribunal que avalie se houve irregularidade no gasto autorizado pelo BNDES. A investigação foi contratada no governo do ex-presidente Michel Temer e teve como alvo principal as operações realizadas principalmente nas gestões Dilma e Lula.
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As afirmações foram dadas um dia após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) levantar suspeitas sobre o resultado da auditoria, bem como dos valores aplicados na apuração independente. “Essa auditoria começou no governo Temer. E tiveram dois aditivos. O último parece, não tenho certeza, seria da ordem de R$ 2 milhões. E chegou a R$ 48 milhões no final. Tá errado. Tá errado”, afirmou. De acordo com o presidente, alguém queria “raspar o tacho”.
Segundo Montezano, os gastos na auditoria dos empréstimos do BNDES à JBS, questionados por Bolsonaro, são justificáveis. “É muito dinheiro, mas não assusta”, ressaltou.
O presidente do BNDES disse, no entanto, que não foi encontrada qualquer ilegalidade nos empréstimos da instituição ao grupo JBS nem em outros contratos. “É razoável que a gente tenha uma dúvida, ou o cidadão brasileiro, quando foi dito que R$ 20 bilhões foram emprestados pelo banco a uma empresa envolvida em um dos maiores escândalos de corrupção nacional”, declarou. “É legítimo a sociedade ter essa dúvida e a gente está aqui para esclarecer”, acrescentou.
Corrupção legalizada
PublicidadeO presidente do BNDES, Gustavo Montezano, afirmou que foi criado um aparato para legalizar desvios de recursos públicos da instituição. “O esquema foi legalizado”, disse a respeito do repasse de mais de R$ 20 bilhões para a JBS. O dirigente não detalhou que mudanças legais deveriam ocorrer para que esse tipo de prática não voltasse a ocorrer.
Ele sugeriu que não existe caixa-preta na instituição, diferentemente do que diz Bolsonaro desde a campanha eleitoral. Montezano afirmou que a suspeita levantada pelo presidente é legítima devido às denúncias contra dirigentes do grupo. “Como representante democraticamente, ele fala pelo povo”, declarou. “Não houve nada de ilegal”, frisou.
O presidente do BNDES disse que não está no cargo para acusar ou defender quem quer que seja. “A obrigação é com a verdade, com os fatos. E até hoje não foi encontrada nenhuma irregularidade. E para encontrar fatos, não pode torcer para nenhum dos lados. É importante que a verdade seja esclarecida, seja ela qual for, e o fato é que até hoje nada foi encontrado”, emendou.
Caixa-preta
De acordo com Montezuma, novas auditorias sobre contratos do BNDES só serão realizadas se houver indícios de irregularidade em outros empréstimos. O presidente do banco de fomento evitou usar o termo “caixa-preta”, usado por Bolsonaro, para se referir a uma eventual falta de transparência do órgão, mas disse que não há mais a esclarecer.
“Nossa função, como executivo, é recuperar reputação da instituição. Se você assume uma instituição do tamanho e porte do BNDES, é nossa missão endereçar esse ponto, para todo cliente, acionista, sociedade, que o banco não tenha nada a esconder. A gente fez um trabalho extenso de todo no banco. Nada de ilegal foi encontrado no BNDES e o banco já foi visto e revisto por diversas fontes de investigações internas e externas”, afirmou.
Novo perfil
O presidente do BNDES ressaltou que, em sua gestão, mudou o enfoque de financiamento da instituição. “É preciso virar a página”, destacou. “Não temos mais meta financeira, nossa meta é melhorar a vida da população”, declarou.
Segundo Gustavo Montezano, o resultado financeiro do BNDES e o volume de desembolsos da instituição em 2019 deve ficar “pouco abaixo de R$ 60 bilhões”.
“A partir de 2020, não tem meta fixa de desembolso e lucro. A meta do BNDES para esses três anos é estruturar projetos que levem saneamento a 20 milhões de pessoas, iluminação pública a 14 milhões de pessoas, e botar equipamento adequado para 1 milhão de alunos [nas escolas]. Não temos mais metas financeiras. O quanto o banco está desembolsando é secundário”, declarou.
A política dos governos petistas ficou marcada pelo financiamento dos chamados “campeões nacionais”, como a JBS e grandes empreiteiras, a exemplo da Odebrecht. Com os repasses do governo, essas empresas ampliaram sua atuação no mercado nacional e internacional, chegando a adquirir outras gigantes de suas respectivas áreas.
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