Na última quarta-feira (3), fiz parte de um grupo de senadores de diversos partidos que esteve reunido com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming. Tratamos de assuntos diversos — comércio, amizade, cooperação, vacinas — mas o fundamental desse encontro foi afirmar integrantes do Senado da República, representantes dos estados da Federação, como interlocutores qualificados para tratar com esse país amigo sobre questões que tanto interessam às nossas regiões.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil, uma relação que teve um crescimento extraordinário nas duas últimas décadas. Nos últimos 12 meses, por exemplo, o fluxo comercial entre nossos países ultrapassou os US$ 102,2 bilhões.
Para isso muito contribuíram a parceria estratégica firmada por Brasil e China, em 1993, e a instância de alto nível de diálogo e cooperação entre os dois países, criada em 2004, e a articulação do Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — consolidada em 2011.
É um longo caminho, que vem sendo percorrido desde 1974, quando, ainda no governo Geisel, foram restabelecidas as relações diplomáticas entre o Brasil e o gigante asiático. Décadas de diálogo, com resultados benéficos para o povo brasileiro e para o povo chinês.
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Nada disso, porém, parece acordar o atual governo, imerso no sonambulismo terraplanista que tem marcado sua política externa. Além de espalhar o pânico até mesmo em apoiadores de primeira hora do bolsonarismo, como os setores mais conservadores do agronegócio—um segmento que, como um todo, tem muito a perder com as hostilidades aos chineses.
PublicidadeNossa sorte é que há adultos “do lado de lá” e o governo chinês tem demonstrado distinguir com clareza o que é o Brasil e o que é o atual governo — desastrado, mas circunstancial. Mesmo diante das reiteradas ofensas recebidas de figuras encasteladas na cúpula governamental.
A “antipatia aos vermelhos” nutrida pelos templários que atualmente chefiam nossa diplomacia foi muito bem instrumentalizada pelo governo de Donald Trump, interessado na disputa tecnológica entre Estados Unidos e China.
Um exemplo é a carta de intenções assinada pelos governos Trump-Bolsonaro, em outubro passado. Segundo o documento, o EximBank (Banco de Exportação e Importação dos EUA), financiaria projetos de infraestrutura, principalmente telecomunicações e 5G no Brasil. Traduzindo: os Estados Unidos concederiam empréstimos para comprarmos exclusivamente bens e serviços norte-americanos eliminando a concorrência de empresas chinesas.
Na semana passada, em artigo aqui no Congresso em Foco, chamei a atenção para a orfandade de sabujo sem dono que se abate sobre Bolsonaro, Guedes e o chanceler Araújo a partir da reviravolta política nos EUA. Os chineses têm sido pacientes com suas sandices — como exige a diplomacia e a cooperação entre as nações.
Quem não pode ser paciente é o povo brasileiro, o maior prejudicado com pela barafunda promovida por uma visão rançosa e obsoleta de política externa.
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