São muitas as perguntas que tenho para fazer, mas há uma que me persegue: o que leva alguém a votar num determinado candidato a deputado (estadual e federal) e vereador? Os votos para governador e presidente são mais fáceis para identificar a razão. Para o Senado, já é um pouco mais complexo, mas para deputado e vereador não é nada fácil.
Um cidadão vota para presidente e para governador levando em consideração, na maioria das vezes, a questão ideológica e programática. Já para deputado e vereador isso também pode ocorrer, mas é diluído em outras razões e/ou desinformações.
Ao longo dos meus 26 anos sendo eleito, quando encontro alguém que diz ter votado em mim, faço a pergunta: “o que te levou a votar em mim?” Recebo as mais diversas respostas, algumas delas até engraçadas.
O que leva alguém a votar em determinado candidato ou candidata para a Câmara dos Deputados, Assembleia Legislativa e Câmara de Vereadores me persegue com mais afinco. Busco compreender, pois nessas instituições têm chegado mais e mais parlamentares sem nenhuma identificação com as causas populares.
No último final de semana, conversando sobre eleições e comportamento de parlamentares, num grupo de amigos e amigas, uma delas, carioca, tascou: “o povo do Rio de Janeiro já foi mais inteligente”. Reagi: como? Explique?
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“Sim, foi mais inteligente, anos atrás, votando no Macaco Tião do que agora, votando em Jair Bolsonaro. Não é desfazer do povo do estado em que nasci, mas pelo momento político que vivemos não é inteligente votar nesse cara. No passado, foi mais inteligente votar no Macaco Tião”.
PublicidadeO Macaco Tião era o nome de um chimpanzé do zoológico do Rio de Janeiro e era famoso pelo mau humor. Tinha o costume de jogar o próprio excremento nos visitantes.
Em 1988, primeiras eleições nas capitais após o fim da ditadura militar, Tião foi lançado, por brincadeira e como voto de protesto, candidato à prefeitura do Rio de Janeiro.
Na época, não havia urna eletrônica, o voto era dado em cédula de papel. Muitos votantes, ao invés de colocar um xis na frente do nome de um dos candidatos, escreveram o nome do macaco, “Tião”. Estima-se que o Macaco tenha recebido mais de 400 mil votos.
Houve outros momentos, tanto anteriores como posteriores a esse, em que os votos de protesto ganharam ênfase. Durante a ditadura militar, havia também campanhas pelo voto nulo, mas só era possível fazê-la sub-repticiamente, pois ir a público significava risco de vida. O protesto, até o advento da urna eletrônica em 1996, ia desde riscar a cédula, às vezes com um grande xis, até escrever algum palavrão ou votar em alguém como o Macaco Tião. Ou no Cacareco.
Tinha somente nove anos de idade quando o povo de São Paulo elegeu um rinoceronte, o Cacareco, vereador. Lembro até hoje que mesmo morando no interior do Paraná ouvíamos pelo rádio os comentários sobre o voto no Cacareco.
Fui até o Google e encontrei o seguinte comentário: “Dos 540 candidatos que ‘ofereceram suas vidas em holocausto ao bem-estar público’ concorrendo às 45 cadeiras da Câmara Municipal de São Paulo, somente um – Cacareco – conseguiu empolgar, de maneira espetacularmente inédita o eleitorado paulistano” (O Cruzeiro, 24/10/1959). Continua. “A soma de seus votos é um recorde nas eleições municipais de São Paulo, pois Cacareco, sozinho, totaliza muito mais do que a legenda mais poderosa.”
Atualmente, o protesto se dá votando nulo ou em algumas pessoas (melhor não dizer nomes) “folclóricas” ou “famosas” para deputado ou vereador, sem importar-se com o que farão.
Tanto o Macaco Tião como o Cacareco nunca fizeram apologia ao crime, como fazem inúmeros parlamentares, entre os quais Jair Bolsonaro, todos os dias na Câmara dos Deputados e nas Câmaras de Vereadores por esse Brasil afora.
Aqui entra a minha pergunta: o que leva um eleitor ou eleitora a votar num homem como Bolsonaro? Alguns dizem que o voto é resultado do que você pensa. Que a pessoa vota em alguém que se identifica em pensamento, palavras e obras. Será que há tanta gente pensando como Bolsonaro no Rio de Janeiro para fazer dele o deputado mais votado por aquele estado?
Se tiver, realmente a minha amiga carioca tem razão.
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