Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre as eleições 2020 apontam que apenas 6% dos vereadores eleitos são negros. Mas para a vice-presidente do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), Wania Sant’Anna, “os resultados eleitorais são uma honra para a população negra”, ressaltou durante live promovida pelo Congresso em Foco nesta terça-feira (24).
O debate reuniu as autoras da coluna Olhares Negros, espaço dedicado a reflexões sobre educação, religião, política, mercado de trabalho, saúde e outros temas sob uma ótica antirracista.
“Já temos muitos anos de domínio branco na política, e é importante racializar isso. Essa política que se nega e produz resultados nefastos para a coletividade vem sendo produzida há muitos por brancos”, defendeu Roberta Eugênio, a advogada e ex-assessora de Marielle Franco.
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Na análise de Wania, “é uma honra saber que temos uma juventude negra que não tem medo da política. Não somos só corpos jovens negros tombados, somos jovens que temos tido a coragem de dizer que esses corpos jovens negros não podem ser tombados”, enfatizou.
Para a presidente do Conselho Deliberativo do Fundo ELAS, Helena Theodoro, os negros não recebem “o status de cidadão plenos desse governo”. “Quem representa o Brasil é o samba que vem da comunidade negra. A feijoada também é da comunidade negra, mas a postura do brasileiro é voltada para a Europa”, criticou.
Racismo
O caso de João Alberto Silveira Freitas, cliente negro de 40 anos, espancado até a morte por dois seguranças do Carrefour, também foi debatido na live. Assim como eleições municipais, intolerância religiosa e a fala do vice-presidente da República, Hamilton Mourão que afirmou que no Brasil não existe racismo.
“Nós não recebemos desse governo o status de cidadão plenos”, avaliou Helena ao refletir os casos de racismo no país ignorados pelo governo. Para Wania, a fala do presidente Hamilton Mourão “alimenta o antagonismo e ameaça a existência” das pessoas negras.
“O humano no mundo é o cristão, branco, europeu, os outros não são humanos. […] Ou isto ou a morte”, citou Helena ao lembrar que na época da colonização brasileira, “era preferível um escravo ou um índio mortos do que não convertidos à religião”. Em suaavaliação, esse cenário ainda perpetua. “É importante dizer, escrever, porque tivemos mordaça o tempo inteiro e não dá para calar mais”, concluiu.
Assista na íntegra:
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