“En ese tiempo solo llanto se escuchaba en la comunidad de San Juan. Los pájaros se ocultaban, las hojas de los esbeltos cocoteros se entristecieron y las olas del mar resistían a ser escuchadas, como si la naturaleza misma se negara a reaccionar ante el mandato del Divino Creador”
La Bahía del Puerto del Sol y la masacre de los Garífunas de San Juan” (página 59)
Na minha ignorância, nunca tinha ouvido falar do professor e escritor Victor Virgilio López Garcia, autor de doze livros, entre os quais o que retiro a frase acima. Tampouco tinha ouvido falar do seu povo, os garífunas.
Professor Virgilio, como é conhecido, é hondurenho. Conheci-o em uma recente viagem, a trabalho, a Honduras. Ele vive numa comunidade chamada Tornabe, costa do Atlântico de Honduras.
Hospedado em um hotel à beira-mar, no município de Tela (costa do Atlântico), e proibido, segundo eles, por questão de segurança, ultrapassei as “fronteiras” do mesmo e fui além. Caminhei pela praia e cheguei a uma comunidade pobre.
Nesta comunidade, a primeira coisa que encontro é um barco debaixo de uma cobertura de palha de coqueiro e algumas redes coloridas penduradas. Recuado da praia, um cemitério. Cemitério de enterrar gente pobre.
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Em seguida, aparecem na beira da praia algumas choças, sem paredes, também cobertas de palhas de coqueiros. Semelhantes às do nordeste brasileiro. Debaixo delas, algumas mesas rústicas e bancos. Imagino que devem servir de bares aos fins de semana.
Um rapaz caminha entre as choças. Parece procurar alguma coisa. Imagino, que por ser segunda-feira, procura alguma coisa que porventura os visitantes de ontem (domingo) tenham perdido. Imagino: o pobre anda sempre de cabeça baixa, como que procurando alguma coisa perdida por alguém.
Dois homens, negros, pescam de linha. Paro para conversar. Pergunto o nome do local. “Tornabe”, respondem. E em seguida um deles me diz: “Nós que aqui moramos somos garífunas, temos uma língua própria”.
Curioso, começo a perguntar de onde vieram, se têm cantos e danças próprias. Respondem que foram trazidos da África para serem escravos em San Vicente e que dali fugiram para Honduras, Belize e Guatemala, e que vivem no litoral.
No hotel, contei a um funcionário que havia estado em Tornabe e que gostaria de ter mais informações sobre os Garífunas. Este funcionário, um descendente dos garífunas, informou-me que em Tornabe vive um homem, professor Virgílio, que é um dos maiores conhecedores da história e da cultura do povo garífuna.
Na noite seguinte fomos (eu e o Luis) a Tornabe procurar o professor Virgilio. Foi fácil encontrá-lo, todos em Tornabe sabem quem é ele e onde mora.
O professor Virgilio é um homem magro, deve pesar cerca de 60 quilos. Estatura de pouco menos que 1,70 metro, anda com dificuldade moderada e apoia-se sobre uma bengala. Conta que foi vítima de quatro acidentes vasculares cerebrais (AVCs), o que, felizmente, não afetou sua capacidade de pensar. Tanto que, dos doze livros publicados que tem, oito escreveu após os AVCs.
Conversamos por mais de uma hora. Contou-nos que foi professor primário e agora está aposentado. Diz que começou a se interessar pelo seu povo ainda jovem, e que quando estudava gostava de escrever e ouvir as histórias dos mais velhos.
Relatou-nos que, aos domingos, tinha um programa de rádio chamado “Clamor Garífuna”, e que, para colocar o programa no ar, fazia algumas pesquisas sobre história, cultura e costumes do povo garífuna.
A partir desse programa e dessas pesquisas, recebeu o estímulo para escrever o primeiro livro, que na língua garífuna se chamou Lamunhuga garifuna, que significa “clamor garífuna”.
Na saída, compramos alguns livros do professor Virgilio, entre eles La Bahía del Puerto del Sol y la masacre de los garífunas de San Juan, que conta a história do massacre do povo garífuna, executado em 1937 a mando do ditador Tiburcio Carías Andino, que ficou no poder por 16 anos.
A frase de abertura deste artigo é justamente como o autor sentiu poeticamente os dias do massacre.
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