O coronavírus já levou a três indígenas a óbito no Brasil. Uma senhora de 87 anos, da etnia Borari, morreu em Alter do Chão (PA), vítima de covid-19, um jovem Yanomami, de 15 anos, residente em Roraima e um homem, de 55 anos, da etnia Mura e que morava na capital amazonense. Os dados são do Instituto Socioambiental (ISA).
Ao todo, segundo dados do ISA, oito indígenas já foram infectados com a doença no país. O instituto lançou nesta sexta-feira (3/4) uma plataforma para monitorar o avanço da pandemia nas terras indígenas (TIs) e municípios próximos a elas. O site “Covid-19 e os Povos Indígenas” reúne as principais bases de dados sobre a doença e a estrutura de saúde no Brasil de forma georreferenciada — dispostas em um mapa.
Os dados do instituto diferem dos números oficiais da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), pois o órgão não está contabilizando os casos de índios que moram nas cidades. Segundo os dados do órgão do governo, seis indígenas foram infectados e um faleceu vítima do covid-19.
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Segundo consta no site da instituição, os “povos indígenas estão submetidos a uma situação de vulnerabilidade social e econômica, e sofrem com a dificuldade logística de comunicação e de acesso aos territórios. Tudo isso agrava o risco de mortalidade entre os povos indígenas. Viroses respiratórias foram vetores do genocídio indígena em diversos momentos da história do país, com dezenas de casos provocados por epidemias registrados em documentos oficiais, como o relatório da Comissão Nacional da Verdade de 2014 e o relatório Figueiredo de 1967”.
“As vulnerabilidades dos povos indígenas reforçam a necessidade de ações emergenciais dos órgãos e entes públicos, como a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), União, Estados e Municípios, de forma complementar, coordenada e integrada, sobretudo na prevenção da disseminação da doença entre os povos indígenas, mas também na garantia do pleno atendimento, evitando a ocorrência de “pontos cegos” e a evolução dos casos eventualmente constatados decorrente da demora no atendimento”, afirma Antonio Oviedo, pesquisador do ISA.
“A maioria dos municípios no Brasil não tem Unidades de Terapia Intensiva (UTI) disponível e não vai dispor de leitos hospitalares caso a epidemia se dissemine no país”, lembrou Ana Lúcia Pontes, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz. “Muitas Terras Indígenas estão localizadas em municípios com esse tipo de perfil”.
Esse é o caso, por exemplo, de São Gabriel da Cachoeira (AM), com 45.564 habitantes, no Alto Rio Negro. O local não possui leitos de UTI e tem apenas oito respiradores, equipamentos considerados essenciais para salvar vidas dos pacientes com o quadro mais grave do covid-19.
Segundo o ISA, um indígena de uma das TIs do Alto Rio Negro, próximas à São Gabriel, teria que ser deslocado até a cidade, e depois, ainda pegar um avião ou barco até Manaus, onde enfim teria acesso à uma UTI.
Em Canarana (MT), com 21.579 , cidade próxima ao Território Indígena do Xingu (TIX), só há um respirador e não existe leito de UTI. Em Altamira (PA) (99.075 habitantes) às margens do Rio Xingu, a situação é ligeiramente melhor, com 40 leitos de UTI (19 desses neonatais, ou seja, destinados a mulheres no pós-parto) e 43 respiradores. No entanto, apenas cinco deles estão no Sistema Único de Saúde (SUS). Boa Vista (RR) (399.213 habitantes) os de UTI e 154 respiradores.
Epidemias que já dizimaram povos indígenas
Fazendo uma busca no sistema lançado pelo ISA nessa sexta, é possível ter acesso a outras epidemias que dizimaram povos indígenas no país. Confira os dados disponíveis na plataforma:
Em 2000 uma epidemia de varicela, doença evitável por vacina, atingiu 80% da população araweté, resultando em nove mortes.