Em meio aos esforços do PT para formar sua base de apoio no Congresso Nacional, um partido vem recebendo atenção especial do Palácio do Planalto: o União Brasil. Na nova legislatura, que começará no próximo dia 1, a legenda contará com 59 deputados e 12 senadores – terceira maior bancada da Câmara e segunda mais numerosa do Senado. No governo Lula, o partido tem em sua conta três ministérios: Turismo, Comunicações e, de maneira indireta, a Integração Nacional e o Desenvolvimento Regional. Fora o PT, apenas o MDB, o PSB e o PSD têm tantas pastas sob seu controle. Assim como as demais siglas governistas, participa ativamente das negociações para os cargos do segundo escalão do governo.
Mesmo assim, sua posição em relação ao governo no Congresso está longe de ser resolvida. O flerte com a nova gestão não agrada a todos. Parte de seus deputados cobra que o União siga de forma independente na nova legislatura. Uma reunião da bancada na Câmara está marcada para o dia 31, véspera da posse do novo Congresso, para definir o assunto.
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De acordo com o deputado Danilo Forte (CE), existe uma insatisfação tanto entre a maioria dos parlamentares quanto de parte dos militantes do partido diante da possibilidade de prestar apoio incondicional ao governo Lula, uma vez que a maioria apoiou Jair Bolsonaro (PL) nas últimas eleições. É o caso, por exemplo, do senador eleito Sergio Moro (União-PR), ex-juiz da Operação Lava Jato, ex-ministro da Justiça de Sergio Moro e declaradamente inimigo político de Lula. Outros, como o deputado reeleito Kim Kataguiri (SP), opuseram-se tanto ao ex quanto ao atual presidente da República durante o segundo turno da eleição.
Para a reunião, Forte planeja apresentar um manifesto em conjunto com os demais deputados cobrando da liderança a independência das bancadas na Câmara e Senado. Sua crítica não é necessariamente à possibilidade de uma aliança com o governo, mas à forma como a conversa está sendo realizada, por meio de negociações ao redor de cargos públicos, em especial na chefia de autarquias estratégicas.
“Se a gente continuar com esse balcão de cargos, todos perdem o respeito. O partido perde o respeito, a política perde o respeito, o Congresso perde o respeito”, disse ao Congresso em Foco. Danilo Forte considera que a negociação de cargos também pode ser prejudicial para o próprio governo. “Ele se expõe e se fragiliza. Ele perde a credibilidade para discutir até mesmo os seus próprios temas”, avalia.
Caso a liderança do partido decida formar uma aliança com o governo, o deputado defende que ela seja montada ao redor não de cargos, mas de pautas. “Precisa ser montada em cima de programas, de propostas, de projetos. Precisamos tratar, por exemplo, da reforma tributária, de redução dos impostos para o consumidor e para o produtor, do combate à violência contra as mulheres, da defesa da democracia. Se for dessa forma, tudo bem, aí estou dentro”, disse.
Ao seu ver, não há motivo para o partido recusar cargos no governo, mas esses não podem ser tratados como uma prioridade ou moeda de troca. “É desrespeitoso. E se o União Brasil quer ser um partido grande, com força, credibilidade e um projeto nacional, o pior caminho é colaborar com a política dessa forma. Uma composição deve ser ao redor de políticas públicas, não de um toma-lá-dá-cá”.
Produto da fusão do PSL e do DEM, duas legendas com histórico de oposição ao PT, o União Brasil foi cortejado pelo presidente Lula durante a formação de seu ministério. Sua participação na Esplanada só foi confirmada na última hora. Lula tirou o Ministério das Comunicações das mãos do deputado Paulo Teixeira (PT-SP), remanejando-o para o Desenvolvimento Agrário, para oferecê-lo ao presidente do União, o deputado Luciano Bivar (PE), que indicou o também deputado Juscelino Filho (MA).
O presidente entregou o Ministério do Turismo à deputada Daniela Carneiro (União-RJ), conforme negociação também acertada com Luciano Bivar (PE). E reservou outra pasta, Integração e Desenvolvimento, à sigla. Por uma articulação feita pelo senador Davi Alcolumbre (União-AP), a vaga foi parar no colo de um pedetista, o ex-governador amapaense Waldez Góes. O ministro se licenciou do PDT e assumiu o compromisso de articular o apoio do União ao governo no Congresso. A medida foi mal recebida por deputados da sigla, que alegam não se sentir representados por Góes. Mais: afirmam, ainda, que o ex-governador é nome exclusivamente de Alcolumbre, de quem é aliado político no estado.
O Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional era cobiçado pelo líder da bancada na Câmara, Elmar Nascimento (BA). Mas seu nome foi vetado por petistas da Bahia, que não o queriam comandando uma pasta responsável por um grande volume de recursos e por órgãos como a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf) e o Banco do Nordeste. O veto ao nome de Elmar causou grande desgaste para Lula dentro da bancada.
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, recebeu Elmar nesta semana para tentar acalmar o deputado baiano. O governo entende que ele é o principal foco de resistência dentro do partido na Câmara atualmente. O líder pode indicar o novo presidente da Codevasf como forma de compensação pela perda do ministério. Elmar indicou o atual presidente da empresa, Marcelo Andrade Moreira Pinto, durante a gestão de Jair Bolsonaro. Lula, no entanto, é pressionado por outros partidos, que também disputam a indicação.
A ministra Daniela Carneiro começou o governo sob forte pressão, após revelações de que teve apoio em sua campanha à Câmara de líderes de milícias no Rio de Janeiro. Assim como o marido, o prefeito de Belford Roxo (RJ), Waguinho (União), a deputada declarou apoio a Lula no segundo turno, gesto que a aproximou do petista. Por isso, uma ala do partido reclama que não se vê representada pela ministra, por entender que sua indicação foi uma retribuição do presidente da República ao apoio dado por ela e pelo marido a Lula. Reclamam, ainda, de não terem sido consultados por Bivar.
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