Ofensas, ataques sexuais, fake news, agressão nas redes sociais. Esses são alguns exemplos de violência política que afastam as mulheres e causam a baixa representatividade feminina nos espaços de poder. De acordo com pesquisa inédita realizada pelo Instituto Justiça de Saia, 51% das mulheres relataram que já sofreram alguma das condutas de violência, sejam como eleitoras, candidatas ou no exercício do mandato.
A pesquisa, que faz parte dos resultados dos primeiros 46 dias da pesquisa online Políticas de Saia, realizada pelo Instituto Justiça de Saia com o apoio da organização Justiceiras , pretende apoiar a mudança no cenário de sub-representação feminina em espaços políticos e aprimorar a democracia brasileira, a pesquisa vai mapear a violência política contra mulheres no país até outubro de 2022.
Dentre as formas de violência relatadas pelas mulheres entrevistadas estão as ofensas morais e os xingamentos (50,3%), a exclusão, expulsão ou restrição a espaço político (35,9%), as ameaças (21,6%), os ataques sexuais (18%), as fake news (16,8%), a agressão física (6%) e a invasão de redes sociais (7,4%). Por não confiar no sistema Judiciário, não saber onde denunciar, medo ou vergonha, apenas 9,4% denunciaram seus agressores.
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Falta de representatividade
O levantamento mostra também que 89% das mulheres não se sentem representadas pelos homens na política. Para 95,4% das participantes, não há número suficiente de mulheres na política. E 96,7 % acreditam que a existência de mais mulheres na política impacta positivamente o desenvolvimento de políticas públicas e ações em prol das mulheres.
“Não podemos nos ater à retórica de que as mulheres não se interessam por política, os dados dizem o contrário, 62% exercem algum tipo de liderança, almejam uma transformação social, são líderes comunitárias, são empresárias, são professoras, são cidadãs com anseio de mudança e justiça de ponta a ponta do Brasil”, explicou a promotora Gabriela Manssur, presidente do Instituto Justiça de Saia e uma das idealizadoras do projeto.
Do universo das 155 mulheres entrevistadas, 13,1% afirmam ter se candidatado a algum cargo público, 123 não foram eleitas (79,4%) e 121 relatam que a promessa de campanha para a candidatura não foi cumprida pelo partido. 90,8% concorreram a cargos de vereadora, 11,8% a deputada estadual, 3,9% a prefeita, 3,3% a vice-prefeita, 10,5% a deputada federal e 1,3% a senadora . Das candidatas eleitas, 42 (29,4%) exercem alguma liderança na casa legislativa local.
Publicidade“Descontrolada”
Durante uma audiência na CPI da Pandemia, no dia 21 de setembro, a senadora Simone Tebet (MDB-MS) foi ofendida pelo ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, ao ser chamada de descontrolada. A fala gerou reações inflamadas de senadores, acusações de machismo e o reconhecimento, mesmo entre membros da base governista, de que a resposta de Rosário à senadora foi despropositada e “fora do tom”.
“Ele resolveu deixar sua função de controlador-geral, portanto chefe de um órgão de fiscalização e controle interno preventivo do Ministério da Saúde para fazer uma defesa intransigente e, ao meu ver, equivocada, do Ministério da Saúde e do governo federal”, afirmou a parlamentar. “No momento em que nós mostrando as incongruências de tudo que estava sendo disso, ele não aguentou e obviamente partiu para pronunciamentos e falas infelizes”, contemporizou a senadora após afirmar que o ministro havia lhe pedido desculpas.