Nossa crise é a da exaustão do nosso modelo político e econômico. Sua moldura, trágica, é a da histórica desigualdade social. O centro da Lava Jato tem que ser o combate ao conluio histórico entre grandes empreiteiras, partidos e poder político, aprofundando as investigações sobre essas relações espúrias. Sempre respeitando o devido processo legal, sem seletividade ou arbitrariedade.
A Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal, importantíssimos, não são a encarnação do “bem absoluto”: também erram, também fazem vazamentos seletivos, também cedem à tentação do espetáculo midiático. Determinar “condução coercitiva” ou pedir prisão para investigado que não tenha se recusado a depor é um desbordamento. Tornar o cárcere um meio de pressão para delação premiada também!
Delcídio é a figura símbolo desses tempos de cartas embaralhadas: começou sua atuação na Petrobras como homem de confiança do PSDB na empresa; elegeu-se senador pelo PT; era líder do governo, com “excelente trânsito em todas as bancadas”, como gostava de dizer. Agora denuncia empreiteiros, pessoas do Executivo, do Judiciário e do Legislativo, e a si próprio. Precisa vir a público confirmar tudo isso, e não se esconder.
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O país tem que superar esse “Fla X Flu” rebaixado que “opõe” práticas assemelhadas: de um lado, privatização, trensalão e merendão; de outro mensalão, petrolão e propinão. Com Cunha, réu pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, “afagado” ora por um, ora por outro polo desse centrão.
Passadas mais de duas décadas dos governos do “sociólogo socialdemocrata”, do “metalúrgico fruto da consciência política da classe trabalhadora” e da “ex-guerrilheira”; não superamos um sistema político fundado no fisiologismo, no toma-lá-dá-cá e no patrimonialismo. Nosso modelo econômico liberal-periférico, quando o preço das commodities despencam, fica muito debilitado, o que afeta o emprego, as políticas públicas e, sobretudo, os mais pobres. Medidas de mais do mesmo, minimizando o papel do Estado, não são solução.
Sem reformas estruturais, troca de governo será substituir seis por meia dúzia. Manter a esperança é preciso. Como dizia D. Helder Câmara, “quanto mais escura a noite, mais carrega dentro de si a madrugada”.
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