Edson Sardinha, Renata Camargo e Thomaz Pires
Ao apertar a tecla para confirmar seu voto na urna, parte do eleitorado brasileiro deu sinal verde a candidatos para os quais este site acendeu o sinal amarelo durante toda a semana passada. Dos 331 nomes que exigiam muita, muita atenção do eleitor na hora de votar, pelo menos 44 se elegeram no último domingo (3) e quatro passaram para o segundo turno. Esse número pode ser maior, já que muitas candidaturas ainda estão “sub judice” por causa do impasse em torno da aplicação da Lei da Ficha Limpa este ano.
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Entre esses 48 candidatos eleitos com algum tipo de complicação, 31 são réus de ações penais no Supremo Tribunal Federal por crimes como formação de quadrilha, corrupção, lavagem de dinheiro, apropriação indébita e contra a Lei de Licitações. Cinco já estiveram presos em operações das polícias Civil e Federal. Outros sete respondem a processo na Justiça Federal de Mato Grosso acusados de envolvimento com a chamada máfia dos sanguessugas.
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Pelo menos cinco dos eleitos no domingo tiveram contra si parecer pela cassação no Conselho de Ética da Câmara ou do Senado. E outros três escaparam de ter seus votos anulados pela Lei da Ficha Limpa graças a liminares. Mas seus casos ainda são passíveis de novo julgamento. Esses foram os cinco critérios adotados pelo Congresso em Foco para a elaboração da lista que servia de alerta ao eleitor.
A eleição de domingo abriu caminho para o retorno ao Congresso de seis parlamentares que deixaram a Casa, na legislatura passada, sob a acusação de participar da máfia das ambulâncias. Réus na 2ª Vara da Justiça Federal em Mato Grosso, Nilton Capixaba (PTB-RO), Josué Bengtson (PTB-PA), Benjamin Maranhão (PMDB-PB), Paulo Feijó (PR-RJ) e Pastor Heleno (PRB-SE) conseguiram voltar à Câmara.
O ex-deputado Pastor Amarildo (PSC-TO), que também responde a processo pelo mesmo caso em Mato Grosso, pode voltar ao Senado como primeiro suplente do senador João Ribeiro (PR-TO), reeleito anteontem. O ex-deputado Raimundo Santos (PR-PA), outro réu, também se elegeu deputado estadual.
Maioria na Câmara
A maioria dos eleitos enrolados vai ocupar assento na Câmara. São 35 deputados federais, quatro senadores e um suplente de senador, dois deputados estaduais e um distrital. Um foi eleito vice-governador: o deputado Jackson Barreto (PMDB-SE), vice de Marcelo Déda (PT), reeleito em Sergipe. Jackson é réu em cinco ações penais em tramitação no Supremo por peculato.
A lista é composta ainda por dois candidatos a governador – Ronaldo Lessa (PSB), em Alagoas, e Neudo Campos (PP), em Roraima – e dois a vice: os deputados Francisco Rodrigues (DEM-RR) e Rômulo Gouveia (PSDB-PB). Os quatro ainda terão de passar por novo crivo dos eleitores no próximo dia 31.
Lessa conseguiu reverter no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na semana passada, a decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Alagoas que havia barrado sua candidatura com base na Ficha Limpa. O ex-governador foi condenado, em 2006, por abuso de poder político nas eleições de 2004 e ficou inelegível por três anos. Ele vai disputar o segundo turno com o atual governador, Teotônio Vilela Filho (PSDB).
Réus e presos
Com 47,61% dos votos válidos, Neudo Campos passou na primeira colocação para o segundo turno. Há dois meses, ele renunciou ao mandato na Câmara, e puxou para a Justiça em seu estado duas dezenas de ações e inquéritos contra ele que tramitavam no STF e lhe rendiam o título de campeão em número de processos entre os parlamentares.
O ex-deputado foi preso em 2003 na Operação Gafanhoto, acusado de liderar um esquema para criar folhas falsas de pagamento, que usava 5.500 funcionários fantasmas, os chamados “gafanhotos”, para o enriquecimento de 30 autoridades do Estado, entre elas ex-parlamentares, atuais deputados estaduais e federais e conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. O esquema pode ter desviado mais de R$ 230 milhões dos cofres públicos em Roraima.
O candidato a vice na chapa do adversário de Neudo, o deputado Francisco Rodrigues, também é réu no STF, acusado de peculato. Candidato a vice na chapa encabeçada por Ricardo Coutinho (PSB) na Paraíba, o tucano Rômulo Gouveia responde no Supremo por crimes eleitorais.
Assim como Neudo, pelo menos outros quatro candidatos que saíram vitoriosos das urnas ontem também já tiveram o desgosto de serem presos: o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), o deputado federal Sebastião Bala Rocha (PDT-AP), ambos reeleitos domingo; o deputado Carlos Magno (PP-RO), que desembarca na Câmara para o primeiro mandato, e o deputado estadual Antonio Albuquerque (PTdoB), de Alagoas. Albuquerque foi preso em 2008 na Operação Ressurgere, acusado de pistolagem e formação de quadrilha.
Entre os eleitos e reeleitos até agora, quem acumula mais ações penais no Supremo é o deputado Lira Maia (DEM-PA). Reconduzido ao mandato por 118 mil votos, Lira responde a quatro ações por crimes contra a Lei de Licitações e de responsabilidade.
Quem pode dividir com ele essa posição é o conterrâneo Jader Barbalho (PMDB-PA), candidato ao Senado que ainda aguarda decisão da Justiça para saber se será eleito de fato. Jader é um dos barrados pela Ficha Limpa que não conseguiram reverter o indeferimento da candidatura antes da eleição. O deputado busca a confirmação do mandato na base dos recursos.
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