Eduardo Militão
O garçom Severino Garcia de Araújo, flagrado em conversa admitindo ter comprado, com material de construção, vagas para seus dois filhos trabalharem como funcionários terceirizados na Câmara, negou o que ele mesmo declarou nas conversas registradas nas gravações obtidas pelo Congresso em Foco.
Questionado três vezes pelo site sobre a diferença entre os áudios – gravados em março e em junho – e sua entrevista concedida na segunda-feira (12), ele assim respondeu:
“Isso é fofoca. Eu posso ter falado, eu posso ter falado um milhão de vezes. Isso é fofoca de peão.”
“Isso é conversa de quem falou isso pra você.”
“Quem falou isso é porque falou pra vocês.”
A entrevista foi concedida pelo garçom na segunda-feira (12) pela manhã no Anexo II da Câmara. Durou cinco minutos até Severino virar as costas para a reportagem e ir embora reclamando em voz alta.
Na entrevista, o garçom negou ter pago qualquer quantia ou feito reformas para empregar na Câmara os filhos Fernanda Freitas de Araújo e o rapaz identificado apenas como Rogério. Ele ainda disse que Rogério trabalhou pela antiga Capital Empresa de Serviços Gerais Ltda. (antecessora da Unirio Manutenção e Serviços Ltda. na Casa) no quartel general do Exército em Brasília, no Setor Militar Urbano.
O garçom afirma que Rogério trabalhou durante sete ou oito meses na Capital. E confirmou que seu filho foi demitido, sem nenhuma explicação, assim que os contratos da empresa passaram para a Unirio. “Eu não sei e até hoje eu fico perguntado, porque eu não sei”, disse.
Nas gravações obtidas pelo site, Severino se queixa porque “ela” empregou Rogério e depois o mandou embora. “Eu cheguei pra ela e falei: ‘Ó, a partir de hoje, eu só falo com você quando você fichar o Rogério seja onde for. Eu não sou otário, não, tá entendendo?’ ”, relatou o garçom, no grampo. “Quem fichou ele aqui? Ela. Quem tirou ele daqui? Ela.”
A reportagem questionou se Severino possui mesmo notas fiscais dos pisos cerâmicos como cita nas gravações. “É mesmo?”, surpreendeu-se, antes de negar a posse dos documentos. Ele afirmou não ter cerâmica nem mesmo em sua residência.
Poder e influência
O garçom disse ao site que não seria vantajoso pagar pela vagas dos filhos. Diz que o salário dos funcionários da limpeza é baixo e que ele já acumula poder e influência para conseguir empregar pessoas na Casa sem precisar gastar dinheiro.
“Eu entrei em 1993. Você acha que eu não tinha direito de botar uma pessoa aqui na Câmara sem precisar disso?”. Um pouco antes, Severino dissera não entender por que seu filho ingressou na Casa e depois foi dispensado.
Na conversa com o site, o garçom disse que as pessoas que compraram vagas é que deveriam ser procuradas. “Você vai atrás das pessoas que fizeram isso, e não atrás de mim”, protestou Severino, alguns segundos antes de se retirar do local sem que a entrevista fosse encerrada.
Silêncio comentado
Nas gravações obtidas pelo site, o garçom ainda avaliou que o silêncio de Patrícia ao ser procurada pela primeira vez pelo Congresso em Foco, chamado de “jornalzinho”, demonstra que ela não quis se incriminar.
SEVERINO – E o jornalzinho não tá falando, não? Ali quem depôs. Ali quem depôs foi na polícia. Ali quem depôs foi na polícia. Ou você é doido ou você se faz. O jornalzinho… Você viu no jornalzinho o que ela falou? “Eu prefiro o silêncio”. Quando você vai ao delegado ou qualquer pessoa e vai depor e diz “Eu prefiro o silêncio” é porque você não quer se condenar.
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