O atual vice-prefeito de São Bernardo do Campo (SP), Frank Aguiar (PTB-SP) admitiu ter direcionado recursos para um evento idealizado por ele, quando era deputado federal. Sua emenda de R$ 1,4 milhão destinou dinheiro para uma ONG que agora é cobrada pelo governo a devolver R$ 2,5 milhões.
Frank Aguiar afirmou que não vê incompatibilidade alguma em fazer emendas para um evento dele próprio. “Que incompatibilidade poderia haver? O professor não pode defender a causa da educação? O médico não pode defender a causa da saúde? Por que o nordestino não pode defender a sua região?”, afirmou o ex-deputado, lembrando que, assim como ele, a maioria de seu eleitorado é nordestina.
Apesar disso, o ex-deputado se disse disposto a colaborar com o governo para dirimir dúvidas sobre a realização da feira Mostra Nordeste Brasil, organizada em abril de 2009 em São Paulo. “Se tiver problema, quero contribuir para acertar as coisas”, prontificou-se Frank.
O petebista disse ser descabida qualquer interpretação de que ele possa ter agido em causa própria ao mandar dinheiro do orçamento para uma mostra que concebeu. “Não é questão de causa própria. Nada me impede de defender a minha região. Não fiz esse projeto para mim. Mas para o Brasil, enaltecendo o potencial turístico do nordeste brasileiro”, ressaltou.
O evento ocorreu em abril, dois meses antes de Frank Aguiar ser escolhido candidato a vice-prefeito de São Bernardo do Campo, na chapa de Luiz Marinho (PT). O ex-deputado contou que, além de idealizar a mostra, cumpriu outro papel: buscar dinheiro para a realização do evento. “A ideia da mostra partiu de mim, para fazer os brasileiros conhecerem nossas coisas. Minha parte foi idealizar e buscar recursos”, declarou. Segundo ele, outros nove deputados também direcionaram emendas para o evento, a seu pedido.
Surpresa
Frank Aguiar disse ter ficado surpreso ao tomar conhecimento pelo Congresso em Foco de que houve problema na prestação de contas da mostra e que o dinheiro está sendo cobrado de volta pelo Ministério do Turismo. “O pessoal foi muito competente na organização do evento, mas pode não ter sido na prestação de contas. Achei que estava tudo certo”, declarou o músico.
O ex-deputado afirmou que não conhecia os responsáveis pela entidade para a qual mandou uma emenda de R$ 1,43 milhão. Segundo ele, o evento seria organizado por uma empresa de Brasília que apresentou problemas em outra prestação de contas, o que prejudicaria a captação de recursos. Ele disse que foi procurado, então, por representantes do Instituto Promur. O petebista não soube precisar o nome das pessoas que o contataram.
“Não tive contato com eles nem antes nem depois do evento”, disse. “O evento existiu. Meto a mão no fogo. O que idealizei, conseguimos mostrar. Fiscalizei a execução do projeto. Tudo o que pedimos, eles cumpriram”, elogiou.
Presenças ilustres
O ex-deputado declarou que o instituto contratou uma empresa especializada na montagem de feiras. Segundo ele, a Mostra Nordeste Brasil, realizada entre 24 e 27 de abril de 2008, no Anhembi, em São Paulo, foi “um sucesso” e recebeu, inclusive, a visita e elogios de governadores nordestinos e da então ministra do Turismo, Marta Suplicy. “Ela disse que fui muito ousado”, contou.
De acordo com ele, pelo menos dez mil pessoas passaram por dia no Anhembi durante a mostra. O músico afirmou que não recebeu cachê para dar “uma palhinha” no evento e que convenceu amigos artistas a reduzirem o valor cobrado para se apresentarem na festa. Cantores como Alceu Valença, Elba Ramalho e Dominguinhos e a banda Calcinha Preta animaram a mostra. “Pedi para que viessem. Todo mundo acreditou”, afirmou.
No evento, estados do Nordeste expuseram seus atrativos culturais e gastronômicos e tiveram a oportunidade de fazer negócios, explica Frank. “O Maranhão vendeu arroz. O Piauí vendeu cajuína. Cada estado tinha um estande para mostrar seus potenciais turísticos”, ressaltou.
Frank Aguiar disse que era criterioso na hora de elaborar as emendas ao orçamento. Ele exerceu o mandato por dois anos na Câmara. O atual vice-prefeito de São Bernardo do Campo contou que se recusou, por exemplo, a destinar emendas para eventos em que ele se apresentaria. “Não me permitiria fazer isso.”
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