Tempos sombrios os nossos. Se não bastassem as históricas desigualdades sociais e a crise econômica profunda, o mundo político se afunda cada vez mais num lodaçal de corrupção, num pântano, onde a ética não tem vez e a ideia republicana do espaço e do interesse públicos é invadida por objetivos menores e mesquinhos. A arte da política está nublada pelo pragmatismo cego e oportunista. O patrimonialismo, o clientelismo, o corporativismo e a falta de princípios parecem dominar a cena. A cada operação da Polícia Federal e do Ministério Público a mancha da corrupção engolfa lideranças políticas e partidos.
A credibilidade das instituições políticas cai meteoricamente. Os homens públicos deveriam despertar respeito e admiração. Mas hoje os cidadãos em geral têm desconfiança, desprezo ou repulsa pela política. Lembro-me como líderes da estatura de Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Mário Covas e Teotônio Vilela despertavam na minha geração esperança e confiança. Eram atores movidos pelo compromisso com a Nação e o povo. Suas condutas morais nunca foram colocadas em xeque. Como disse, certa vez, Tancredo: “sempre que você transige em princípios, ganha um episódio, mas apenas um episódio. Perde em substância e permanentemente”; e ainda, “sou pragmático e conciliador na ação, mas inflexível em matéria de princípios”. Princípios, princípios, uma palavra que parece meio fora de moda na vida pública brasileira.
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Nos tempos de movimento estudantil e de luta contra a ditadura, minha geração imaginava mudar o mundo e o país pela política. Hoje vemos referências daquela época mergulhadas em escândalos e pegas em traição aos sonhos de juventude na busca de enriquecimento pela via fácil da corrupção.
Como pedir às pessoas que acreditem na política como ferramenta de transformação? É possível recuperar a ideia de participação política como campo de exercício de valores, princípios, sonhos, utopias? É verdade que esta crise cultural não é privilégio brasileiro. Mas a cada Lava Jato ou Mensalão fica mais difícil ganhar as pessoas para a vida pública.
Mas não há alternativa. O caminho para a construção do futuro é a liberdade e a democracia. Isto pressupõe a existência de instituições, partidos, líderes, eleições, programas, objetivos, escolhas, esperança e fé. Afinal, como já nos alertava Aristóteles, “o homem, por natureza, é um animal político”. Temos que arbitrar nossos conflitos e escolher nossos caminhos coletivos. Estamos “condenados” à política e à participação. Fora disso, nos alertava Brecht, “nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem”.
É urgente recuperar a política para o interesse público e para a ética. Libertar a política da corrupção e da mediocridade. Acreditar no caráter humano, pois como desafiou Lincoln, “… se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”. É urgente recuperar a decência e a esperança. O poder como instrumento de mudança.
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