Alessandro Vieira*
“Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro”. É com essa frase de Mateus 6:24 que provoco nosso presidente a refletir sobre as escolhas que deve fazer para o país. Escolhas tão difíceis e solitárias quanto inevitáveis. Entretanto, enquanto nosso presidente toma sua decisão, é preciso que o país tenha clareza sobre o que ele está escolhendo: interesses de sua família ou do Brasil.
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Deve ser difícil, para qualquer pai, escolher entre seus filhos e o compromisso assumido com 57 milhões de eleitores de combate incessante à corrupção. Mas é também impossível para qualquer cidadão fazer concessões morais em um momento tão decisivo de reconstrução da confiança dos brasileiros.
Bolsonaro escolhe a família quando insiste em nomear seu filho Eduardo como embaixador em Washington para, nas suas palavras, garantir a ele o “filé mignon”. Se não fosse suficiente a evidente falta de experiência e qualificação, a indicação consiste claramente em ato de nepotismo. Para sanar qualquer dúvida quanto a isso, fiz questão de requisitar parecer sobre o caso à consultoria do Senado Federal, que concluiu que a nomeação representaria um flagrante nepotismo, alertando inclusive para o possível cometimento de crime de responsabilidade, caso a indicação seja levada adiante.
Bolsonaro escolheu seu filho Carlos no lugar dos interesses nacionais quando aceitou que ofensas pessoais atingissem quadros militares de altíssima qualidade, colocando em risco a estabilidade de um governo que precisa resgatar do desemprego 14 milhões de brasileiros.
PublicidadeMas o mais assustador é ver Bolsonaro escolhendo a sua família acima do seu principal compromisso de campanha: o combate à corrupção. Bolsonaro escolhe a família quando permite o desmonte institucional e interfere indevidamente nos órgãos de combate a corrupção. Foram essas instituições que permitiram a existência da Lava-Jato e de uma série de outras investigações que mudaram o Brasil. Ele parece escolher a proteção ao filho Flávio e outros familiares na apuração de supostos desvios do chamado caso Queiroz, estendendo essa proteção a milhares de investigados pelo Brasil afora.
O combate à corrupção não foi apenas minha bandeira de campanha. É minha história de vida. Por isso, entre minhas primeiras ações no Congresso Nacional esteve proposta de uma CPI das Cortes Superiores, a Lava Toga, e o apoio a pedidos de impeachment de ministros do STF. São notórios os problemas na cúpula do Judiciário. Não é razoável uma indicação do Procurador-Geral da República que ignore a lista tríplice do Ministério Público Federal pelo pior motivo, que é a busca por um PGR que “não cause problemas para o governo”. É uma afronta direta ao eleitorado a destruição do COAF, a fragilização da autonomia da PF e a limitação das ações da Receita Federal.
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A crise ética que esfacela a nação não se limita às malas de dinheiro sujo de um Geddel ou à prisão de líderes políticos. Ela está na censura à imprensa e às manifestações culturais, na interrupção das ações de fiscalização, controle e prevenção de incêndios e o desmonte das estruturas básicas de proteção ambiental nos estados. Ela está na absoluta ausência de projetos para a reconstrução da Educação e geração de empregos e renda. Está também na inversão de valores, quando bandidos são vítimas e seus investigadores, os criminosos. E no tsunami de fake news, financiadas não se sabe como, que agravam deliberadamente o improdutivo mecanismo de polarização. Está, ainda, no processo de isolamento e desmoralização da maior referência do combate à corrupção, o hoje ministro Sérgio Moro.
No segundo turno, eu e milhões de brasileiros escolhemos votar na promessa de combate à corrupção, escolhemos votar na mudança. Não escolhemos votar no retrocesso e muito menos em um pacto entre poderosos, amarrado por seus interesses pessoais. O pacto firmado entre eleitores e eleitos foi de renovação, de fim de privilégios; foi de resgate moral.
Cobrar o cumprimento dos compromissos com o povo é urgente, bem como é inadiável chamar pelo nome a quebra destes compromissos: é traição.
*Alessandro Vieira é Senador da República (Cidadania/SE), foi Delegado Geral da Polícia Civil e é membro do Movimento Acredito.
Todos nós já conhecemos a opção do bozo.