O comentário de Beth Veloso veiculado originalmente no Papo de Futuro, da Rádio Câmara
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Todo mundo acusa a internet de ser uma dona fútil. Moça vulgar, superficial, cheia de notícias falsas, papos pouco consistentes, sem falar nos erros de português. Ah, os erros de português na internet valem um comentário à parte. Farei coleção deles. O que me impressionou na última semana foi a ligação entre a vida real e a rede! Em todo lugar, do salão de beleza até o almoço de domingo em família, só deu Baleia Azul! Foi baleia para todo lado, mas só consegui entender um pouco o arquétipo do adolescente suicida representado pelo jogo numa análise de um médico no jornal Estado de S. Paulo.
Não, a tecnologia não tem nada a ver com isso. O problema não é ela, mas, sim, o abismo que está sendo criado entre pais e filhos. Simples assim. Todos nós já sabemos. O jogo só entra no espaço vazio da família, que não compreende as explosões químicas deste adolescente e sua incapacidade de reconhecer-se num estado de mutação. Não é o desafio do jogo que perturba e leva os jovens à loucura. É, justamente, a falta de desafio que os leva à captura moral de arriscar a própria vida, entregando-se a uma doença mal diagnosticada, como a depressão. Basta um momento de desespero para um ato insensato. Mas leva uma vida para conter as crises de ansiedade tão típicas dos adolescentes, que, se levadas à um grau extremo, podem ser fatais.
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Para mim, a resposta mais importante feita pelo Dr. Daniel Martins de Barros é: em que momento da vida o adulto fica tão distante do jovem a ponto de ser incapaz de compreendê-lo?
Histerias como a que giram em torno do “Baleia Azul” não me surpreendem. São tão típicas da internet, ainda que difíceis de serem manejadas, assim como eu conversar sobre sexualidade com o meu filho de 13 anos. Porque é preciso de calma, tempo e intimidade para enfrentarmos as balas envenenadas do jogo Baleia Azul, em que a gente demonstra que a vida é o bem mais precioso, mas isso só é possível para adolescentes que se sentem verdadeiramente amados, compreendidos e apoiados.
Não sugiro que ninguém brinque com a ideia de morte, com ou sem 13 porquês, famosa série do Netflix que trata do tema, mas que ninguém subestime as ideias suicidas de um adolescente, que devem ser tratadas com remédios e outros recursos, além de doses cavalares de compreensão. É a dor negligenciada, ignorada, que nos leva a horas de isolamento digital, matando os nossos laços com os outros, e não um jogo que se torna pretexto para agravar uma doença não diagnosticada. Não é a baleia assassina que nos tira o filho, mas o celular inofensivo que você não consegue tirar do seu filho para não ter que dedicar mais tempo a ele. Outro dia confisquei o aparelhinho do meu e o levei ao mercado, onde atiramos pacotes um no outro e empurramos juntos o carrinho.
Só se entrega à maldade quem não pode ser olhado com carinho e um sorriso no rosto. Não é a bala que envenena a vida, mas a falta de amor.
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