Sonhei que tinham me chamado para a festa dos 450 anos do Rio. Iam estar lá o prefeito, a bateria da Beija-Flor e a Claudia Leitte. Ouvi dizer que a musa ia sair do bolo de aniversário vestida de Cristo Redentor, puxando “Cidade maravilhosa” no ritmo da sofrência. Só não ficou claro o endereço do rega-bofe: Copacabana? Leblon? Ou era Ipanema? Não: Barra. Só podia ser Barra, o bairro mais carioca de Miami.
Que outro lugar no Rio ostentaria uma casa de festas decorada com gatos empalhados by Romero Britto, situada num condomínio chamado San Diego?
O trânsito de todas as avenidas importantes entre o Galeão e a Zona Oeste, passando pela maioria das ruas do Centro e da Zona Sul, já estava interditado havia mais de uma semana. Era imprescindível que as comitivas internacionais – especialmente a do vice-presidente norte-americano e a do papa Francisco – circulassem à vontade, sem o risco de toparem com aquela meninada fazendo o Cirque du Soleil nos sinais.
Infelizmente, Obama não vinha. Um dos convidados mais aguardados – ao lado de Claudia Leitte – ia ficar em Washington tratando de uma súbita alergia a lacttose.
Gente do bufê vazou o cardápio para o site de fofocas do Téo Pereira. De entrada, lâminas de alface mediterrâneo e tomate caribenho umedecidas em azeite trufado. O prato principal? Chapas marinadas de filé bovino escoltadas por lascas crocantes de batata levemente douradas em óleo orgânico (acompanha mix de feijão noir e arroz off-white). A sobremesa: tiras de cheese mineiro com tijolinhos frescos de goiabada.
Nada como um menu assinado por um designer de cuisine que já serviu as mesas mais diferenciadas da elite paulistana.
Ainda assim, a parte mais saborosa da festança – depois da Claudia Leitte – prometia ser o espetáculo pirotécnico idealizado pela comissão de carnavalescos liderada por Paulo Barros. Que tentou a todo custo guardar segredo sobre o gran finale, mas não conseguiu. Chegou às manchetes a notícia de que o show de encerramento contaria com uma inédita performance de balas perdidas amestradas.
Quem mandou usar como batcaverna um barracão na Cidade do Samba, em vez do esconderijo das vigas da Perimetral?
Só sei que, depois desse furo – e de outros menos jornalísticos, durante o banquete –, resolvi declinar do convite e cair da cama. Quem sabe daqui a cinquenta anos.
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