Bezerra Couto
Aos leitores e leitoras que reclamaram minha ausência (incrível, houve quem reclamasse!), explico que fiquei sem colaborar nas últimas semanas porque sou assim mesmo, preguiçoso que só.
Tava curtindo a família, a Chapada dos Veadeiros (espalha não, mas fica aqui perto de Brasília e, pro meu gosto, é um pedaço do paraíso), o cachorro e aquilo que sei fazer melhor: vender imóveis, que é a fonte principal do meu adorável padrão de vida pequeno-burguês.
Meio sem perceber, acho que também desejei certo distanciamento de tudo que se passa: as eleições, o Congresso, os sanguessugas, os caras que falam disso – jornalistas, colunistas, analistas…
Gente, tá tudo muito chato. A propaganda eleitoral na TV é de uma mesmice impressionante. Os blogs em proliferação, com poucas e honrosas exceções, são um festival de baboseiras e de tráfico de interesses. Os candidatos nada falam de novo. Não me empolgo com eles nem com nada que diga respeito à eleição.
Pertenço àquela mínima parcela de brasileiros que não sabe o que fazer no dia 1º de outubro. Claro que irei àquela velha escola da Asa Sul digitar alguma coisa na urna eletrônica. Tenho até candidatos definidos pro governo local, o Senado e deputado. Pessoas razoáveis. Na pior das hipóteses, acima da média.
Acho mesmo que neguinho bem que podia votar com mais cuidado nas eleições tratadas com menor atenção pela imprensa. Em todos os quatro ou cinco estados que conheço razoavelmente, há bons candidatos a deputado. Há chance de melhorar a representação legislativa, e talvez seja esta a tarefa mais importante que as eleições deste ano impõem a nosotros, los electores e las electoras.
Já na disputa presidencial, simplesmente não sei o que fazer. Segundo os institutos de pesquisas, somos menos de 10% dos eleitores, os que ainda não decidiram em quem votar para presidente.
Não faço a menor idéia do que vai pela cabeça dos demais indecisos. A minha é atormentada por sentimentos como perplexidade, descrença e certo inconformismo com a lentidão das coisas. Serão sempre esses? (partidos, políticos, discursos) Será sempre isso? (farsa, demagogia, mistificação) Seremos tão poucos os que têm um olhar mais crítico do processo político-eleitoral?
Quem sabe das coisas é Gilvan, porteiro do prédio em que moro. "A política está tão suja que a pessoa que é mais honesta e inteligente prefere ficar longe", ele filosofa. Concordo. Pra que correr o risco de ser confundido? Vejam o que sofrem políticos honestos e inteligentes como Suplicy, Gabeira, Biscaia, Simon, Sigmaringa… Eles e outros são, claramente, exceções. E comem o pão que o diabo amassou com os pés e outras partes do corpo, tanto dentro dos seus partidos quanto no embate com outras forças partidárias.
E a gente, que não tem estômago nem coragem de ir pra linha de frente, faz o quê? Passei da idade de votar nulo. Alckmin num dá. É passado, é a tríplice aliança – psdb-pfl-a velha mídia – que aprisiona São Paulo e amordaçou o país inteiro até meia hora atrás. Ei-ei-Eymael e Luciano Erro de Concordância Bivar são piadas de mau gosto. Lula é um sonho desfeito. Terei coragem de me render ao pragmatismo do menos ruim?
Sobram Heloísa, Cristovam e Rui Pimenta, mas este quase fora da disputa porque não entregou a prestação de contas da campanha de 2002, conforme decisão do mesmo tribunal (TSE) que inocentou Roriz de qualquer crime eleitoral! Olha, não sou advogado. Tampouco sou trotskista, e dificilmente apimentaria meu voto tanto assim. Mas acho absurdo negarem ao Rui o que permitem aos Lucianos.
E daí se há minorias que podem e outras que não? Aí penso no que posso, vejo Isabela dormindo serenamente e decido desligar o computador e regressar ao meu delicioso mundinho particular…
PS: Embora eu seja flamenguista, fiquei feliz com a vitória do Inter na Libertadores. Um abraço fraterno a Artur Cabeça, João Carlos, Riomar e outros colorados de ótima cepa que bons ventos trouxeram a esta aprazível cidade.
Deixe um comentário