A notícia de que nos tornamos sete bilhões de seres humanos a dividir um planeta finito disputou espaços na imprensa, nos últimos dias, com as informações sobre a crise econômica mundial. Não sabemos como estará a economia dentro de quarenta anos, mas é certo que a população mundial estará entre nove e doze bilhões de humanos, ou mesmo mais, dividindo um planeta, já hoje, sob crescente estresse ambiental! Há, sem dúvida, algo de amendrontador nesses números…
Há apenas 12 anos nasceu o humano de número 6 bilhões. Então, a economia global prosperava, e o futuro parecia mais promissor do que parece hoje. O temor da “bomba populacional” supunha-se afastado, contrariamente à situação nas décadas de 1960 ou 1970, quando preocupações acerca da possível futura insuficiência de alimentos levaram diversos países a adotar drásticas políticas de controle da natalidade, a mais famosa delas na China, com a norma de um filho por família da etnia Han, dominante.
Hoje, a crença na onipotência do desenvolvimento tecnológico ainda mantém relativamente diluída a questão malthusiana que, não obstante, volta e meia ressurge. A ela se agregam, com força cada vez maior, preocupações com os riscos da degradação ambiental, variável não considerada por Malthus.
No futuro, caso continuemos no caminho que se convencionou chamar business as usual – vale dizer, deixar as coisas correrem sem grandes alterações de rumo -, é possível que a combinação de aumento populacional com os efeitos negativos da degradação ambiental sobre a produção de alimentos torne necessária uma política, muito mais difícil e complexa, quase inimaginável, de se ter um filho a cada duas famílias!!!
Certamente, melhor que tentar desenhar tal política é buscar alternativas e, o quanto antes, alterar o rumo que temos trilhado! É fundamental que políticas sejam adotadas, não apenas para reduzir a taxa de crescimento da população e de degradação ambiental, mas também para alterar padrões de consumo e para promover uma melhor distribuição das pessoas no território, assim como para evitar o que se pode chamar de “consumo individual predatório”. Alguém já ouviu alguma manifestação de autoridades brasileiras sobre esses pontos?
Evidentemente, os sete, ou doze, bilhões de humanos, não estão nem estarão igualmente distribuídos pelo território do planeta. As áreas mais densamente habitadas, nos países em desenvolvimento, tenderão a ser as mais afetadas.
São Paulo, uma das dez maiores megacidades do mundo, é uma delas. Lá, pouco tem sido feito para evitar a continuidade do seu crescimento, ou mesmo para que esse crescimento se dê de maneira menos caótica. Exemplos: a ideia de se construir um trem bala ligando-a ao Rio de Janeiro apenas agravará a pressão no local; a qualidade do ar está entre as piores do mundo; nos últimos dezoito anos, quase dois bilhões de reais foram investidos na limpeza do rio Tietê, e as análises mostram que, não obstante, a qualidade da água piorou! É penoso ouvir da SABESP, órgão responsável pelo saneamento naquele Estado (ver a Folha de São Paulo de 06/11/11), que “é difícil ver uma melhora na região metropolitana, e que a situação seria ainda pior sem os investimentos realizados”. Ou seja, o governo não está nem mesmo “enxugando gelo”; está, de fato, nos dizendo que o quadro se tornará cada vez pior… Fazer o quê: aceitar o agravamento da situação ou substituir, além do governo, que se confessa impotente, eventuais leis que impeçam a reversão da tendência?
PublicidadeSobre o business as usual, vejamos. A agricultura moderna, já descrita como um forma de transformar petróleo em comida e fibras, tem provocado desmatamento, erosão, consumo excessivo de água, exaustão dos aquíferos subterrâneos, movimentação internacional de insumos e produtos com pesada “pegada ecológica”, entre outros problemas graves, de tal forma que a sua sustentabilidade é questionada com insistência crescente. Será que a promessa da solução tecnológica poderá ser mantida?
A questão, claramente, não é apenas quantos seres humanos habitarão a Terra, simultaneamente. Igualmente importante é onde estarão essas pessoas, assim como a maneira como usamos os recursos do planeta e dispomos dos rejeitos que geramos. Com uma população dez vezes maior que a do Quênia, os Estados Unidos da América consomem 320 vezes mais recursos que aquele país africano. Que fazer?
Outro problema: embora, nos dias de hoje, cerca de um em cada sete humanos durma com fome, diariamente, cerca de metade dos alimentos produzidos é desperdiçada, apodrecendo nos campos, no transporte e mesmo em algumas das nossas geladeiras. Quais iniciativas têm tomado os governos, em especial o brasileiro, para reduzir esse desperdício?
Nos países pobres, o crescimento populacional é bem maior que nos países ricos. Aqueles foram responsáveis por 52% do crescimento populacional entre 1980 e 2005, mas emitiram apenas 12,8% do dióxido de carbono acumulado na atmosfera, no período. Já os países ricos, com 7% do crescimento populacional global, responderam por 29% das emissões.
Vale dizer, embora o crescimento populacional seja, sem margem a dúvida, um problema crescente, os padrões de consumo e de disposição de dejetos são também questões cruciais. Temas, aliás, completamente desconhecidos de Malthus, que viveu numa época em que ainda se acreditava que o planeta estava “vazio”, que os rios absorveriam sem problemas os dejetos neles lançados, etc.; hoje, há que se reconhecer a mudança, com a Terra tendo se tornado “cheia”; noutras palavras, como evitar que os recursos finitos sejam usufruídos por apenas pequena parte dos humanos?
Neste quadro, prometer, como fazem autoridades dos mais diversos países, Brasil inclusive, que o “crescimento econômico” virá solucionar essas questões, é uma ilusão, se não um engodo. Reuniões de líderes mundiais, nas quais a preocupação obsessiva é com a retomada do “crescimento econômico”, sem qualificar essa idéia, nem muito menos substituí-la pelo desejo de “desenvolvimento humano”, claramente definido, dificilmente contribuirão para construir o futuro que desejamos. Afinal, consertar o estrago do recente “crescimento econômico”, sem alterar-lhe a trajetória, é agravar os problemas e restringir as perspectivas da humanidade.
Como disse Simon Butler, escritor australiano: “O problema da excessiva queima de combustíveis fósseis nos países desenvolvidos não será resolvido com a distribuição de camisinhas…”
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