As festas juninas formam uma das tradições mais ricas, seculares e alegres de nosso país. Marcadamente na região nordeste, onde encontram seu epicentro e eclodem em qualquer localidade − seja grande ou pequena, na zona rural ou urbana −, as festas em homenagem a São João, São Pedro e Santo Antônio já se transformaram em algo que transcende o mero calendário festivo brasileiro. É um dos eventos que mais movimentam a economia da região, principalmente nas tradicionais cidades do interior, que recebem dezenas de milhares de turistas.
Nesse sentido, apresentei esta semana ao Conselho Nacional de Políticas Culturais (CNPC) uma recomendação para que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) abra processo de avaliação para o registro da Festa de São João como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. A proposta, acolhida por unanimidade, será encaminhada para estudos do Iphan.
Acreditamos que a Festa de São João e todas as suas manifestações representam uma importante marca cultural de nossa gente, e merecem ser consagradas com esta chancela, assim como já o é a Roda de Capoeira que, por coincidência, esta semana também foi considerada patrimônio cultural imaterial da humanidade pela Unesco.
O São João é uma festa que apresenta uma dinâmica espacial difusa, por mobilizar, com intensidades variáveis, um número significativo de municípios nordestinos. Com importância singular na Bahia e em todo o nordeste, as festas juninas formam uma das tradições mais ricas, seculares e alegres do país, e já se expandiram para outras regiões. No Rio de Janeiro, há um grande festival no período, sem falar no Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas (Feira de São Cristóvão), que estimula as práticas culturais dessa região ao longo de todo o ano. Em São Paulo, capital, também são realizados festivais com a presença de dezenas de milhares de pessoas; e, pelo interior do Estado, se cultivam esses tradicionais festejos, com quermesses e concursos de quadrilhas. Em Brasília, anualmente acontece o São João do Cerrado; e assim por diante.
Durante o São João, o Brasil encontra suas raízes mais caras e profundas, quando sua gente faz transbordar o que há de mais bonito e alegre em suas almas. É quando o Brasil fica um pouco mais brasileiro.
Do ponto de vista econômico, é um dos eventos que mais movimenta a economia do Nordeste, contribui para a geração de emprego e renda e, em consequência, propicia inclusão social. Nas artes populares, incluindo o artesanato, milhares de pessoas se dedicam à confecção de peças que são vendidas especialmente nesse período, sem contar a gastronomia, com suas típicas guloseimas, e as diversas formas de expressão artística e cultural, como a música, a dança e a moda dos trajes típicos.
Tão importante quanto a preservação de edifícios e marcos históricos, é a proteção, por todos os meios disponíveis, das tradições brasileiras e das manifestações populares mais genuínas, inseridas na identidade e na construção do ideário nacional. Foi a partir desta realidade, que defendi o encaminhamento da proposta de reconhecimento da Festa de São João, pois ela já se constitui, de fato, como patrimônio cultural brasileiro. E é, em si, portadora de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da nossa sociedade.
PublicidadeSalvaguardar, portanto, nossa cultura popular, transformando-a em patrimônio imaterial, é proteger nossa própria existência como nação, unida e construída em torno de nossas manifestações mais tradicionais. Com esta iniciativa, pretendemos prestigiar o povo e as tradições do nordeste e, também, contribuir para consolidar a identidade nacional, cujo fortalecimento se faz mediante o respeito e o valor a tudo o que é genuinamente brasileiro.