Outro dia estourou mais um bueiro no Rio de Janeiro, matando um. Em São Paulo, deslocar-se pela cidade providencia a mais laica definição da palavra “inferno”.
Essas coisas me preocupam, porque levantam a dúvida sobre se as duas maiores cidades do Brasil – e outras! – estarão em condições de receber um evento da máxima importância, sob os olhos de milhões de pessoas: o dia-a-dia de quem mora lá.
Diariamente, milhões de cariocas e turistas se deslocam de um lado para o outro no Rio de Janeiro e em São Paulo, indo e voltando de passeios, do trabalho e da escola. Será que essas cidades conseguirão se preparar a tempo para atender decentemente aos seus milhões de habitantes no dia-a-dia?
Porque eu quero ver é no dia-a-dia.
Acho engraçado o papo de “quero ver na Copa”. Essa conversa presume ser importante gastar bilhões em infra-estrutura, especialmente de estádios, para garantir um mês de festa daqui a dois anos. Acho engraçado e perigoso.
Talvez mais perigoso do que engraçado, especialmente se formos lembrar que brasileiro tem a manha de ajeitar tudo. Faltou estrutura, o pessoal dá férias pra criançada ou contrata vans sem licitação pra carregar turista pro estádio. Passado o mês de festa, a situação possivelmente volta à mesma. No Brasil, não costuma ter terrorismo, mas o nosso Bin Laden se chama “gambiarra”. Ao que tudo indica, foi o improviso com coisa séria que derrubou os prédios no Rio.
Ah, é importante pelo legado da Copa? Faz-me rir. Na Grécia e na China, boa parte das dispendiosas estruturas construídas para jogos olímpicos se tornaram tão inúteis quanto as superfaturadas estruturas construídas no Brasil para os jogos panamericanos.
Ah, mas com a Copa os governos vão fazer obras de transporte público. E é sério que precisa mesmo de um mês de festa daqui a dois anos pra os governos se ligarem que precisam melhorar a estrutura que leva milhões de habitantes para o trabalho todo dia? Se precisa, lamento: essa é a definição clássica de “para inglês ver”.
Esqueçam o papo de quero ver na Copa. Quero ver é no dia-a-dia, com a população indo e vindo do trabalho ou da escola. É esse pessoal que vai continuar por aqui depois de um mês de festa. E geralmente tem inglês visitando também pra ver, se esse é o problema.
Para o Brasil se preparar a tempo para o dia-a-dia de quem mora aqui, porém, receio estarmos um tanto atrasados no cronograma.
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