No final de 2015 o fantasma do impeachment rondava o Planalto. Dificuldades econômicas sinalizavam a possibilidade real de retrocessos nas conquistas da era Lula. As escolhas feitas por Dilma afastavam o governo de sua base social.
Analisando este cenário, alguns dos radicais de hoje, nos bastidores, diziam que era melhor Dilma cair, deixar a crise estourar no colo do PMDB e do PSDB para que Lula voltasse nos braços do povo em 2018.
Nenhum dos manuais de guerra já produzidos pela humanidade consagra a máxima de que perder batalhas estratégicas é um caminho para a vencer a guerra.
Se Stalingrado tivesse caído ou os Aliados deixado a “Raposa do Deserto” Rommel conquistar o norte da África durante a Segunda Guerra, cedendo o controle do Mediterrâneo às potências do Eixo, provavelmente este texto estaria em alemão.
É possível considerar derrotas pontuais num processo de acumulação crescente que leve à vitória estratégica mais a frente.
Ao decifrar os códigos de comunicação utilizados pelos nazistas durante a guerra, os Aliados passaram a ter o mapa das ações adversárias. Escolheram perder algumas batalhas menos importantes para despistar os alemães e garantir a vitória na guerra ao final.
Qual a natureza da batalha travada hoje no Brasil? O primeiro cálculo do “perder para ganhar” deu errado. O impeachment transferiu o poder ao inimigo, que marchou impiedosamente sobre nossas defesas e prendeu o Marechal. Lula está na cadeia e será inabilitado.
O processo de acumulação capitalista vive uma velocidade jamais vista. A chamada indústria 4.0 e o advento da inteligência artificial irão impor contornos dramáticos à luta capital x trabalho. As transformações nos próximos dez anos serão brutais.
Bill Gates, para espanto de nossos neófitos neoliberais, lidera os bilionários defensores de um “bolsa família” universal. Conscientes de que será impossível incorporar todos no mercado de trabalho, tentam amortecer a tensão social que será gerada por milhares de “imprestáveis, pessoas sem serventia para o sistema”.
No Brasil, país da periferia do capitalismo, com um imenso déficit educacional, as consequências da entrada nesta nova era de forma desorganizada, sem projeto de nação, é o prenúncio de um drama social catastrófico. Mesmo assim setores da esquerda, sem compreender o agudo momento histórico, e com relógios da década de 80, defendem novamente a tática de marcar posição no colégio eleitoral calculando uma volta triunfante num suposto amanhã.
Outros, num “neoesquerdismo” de oportunidade, num partidismo descolado do interesse nacional, imaginam que o radicalismo de ocasião levantará um muro de proteção aos votos lulistas, garantindo suas eleições para os parlamentos e seus espaços nas máquinas partidárias. Pensando apenas em si mesmos gritam para a patuleia de forma aguerrida: “É Lula ou nada!”.
Para o ex-presidente deixar a cadeia é essencial uma virada na conjuntura. Mais processos estão a caminho. O lulismo continua sendo a maior força social do campo progressista. Isolado e sem Lula, pode até ir ao segundo turno com um nome “sangue puro”, mas será facilmente cercado e derrotado. É preciso alguma ampliação, por menor que seja.
Enquanto alguns defendem a ilusão suicida do “marcar posição” o país afunda e nosso povo sofre as consequências de uma dramática recessão. Nossa democracia derrete.
Marcar posição (perder) ou ganhar? Divisão ou unidade ainda no primeiro turno? Haverá amanhã? A esquerda brasileira precisa decidir o quanto antes. É possível derrotar o inimigo. Ainda há tempo.
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