*Rodrigo Lorenzoni
Profissionais de todas as áreas precisam estar hoje atentos à tecnologia e às novas formas de atuar e se comunicar com os clientes. Neste sentido, as chamadas disrupturas – um termo originado do inglês “disruption” que ao final das contas quer dizer romper com o que já existe, quebrar paradigmas – podem ser bem-vindas, pois trazem atualização, conforto e novas formas de desenvolver produtos e prestar serviços nos mais diferentes segmentos.
No universo veterinário, uma polêmica foi criada recentemente. Um aplicativo que oferece consultas por videoconferências. Isso gerou um justo debate sobre os limites da tecnologia, seu uso e aplicação dentro da Medicina Veterinária. Primeiro, a tecnologia é algo que evolui constantemente e, graças a isso, muitas alternativas diagnósticas e terapêuticas têm sido desenvolvidas. Porém, para tudo há limites.
O aplicativo oferece atendimento clínico à distância. Esse é um dos procedimentos que nunca a tecnologia vai ser capaz de substituir. A consulta, a análise clínica, não pode ser feita por vídeo, pois ela precisa de uma série de averiguações de sinais vitais e clínicos do paciente, que o médico veterinário precisa verificar pessoalmente. Então, como fazer um exame clínico sem uma ausculta cardíaca ou respiratória? Ou uma palpação abdominal para tentar localizar em que região o paciente pode ter dor? Ou se há algum aumento de órgãos? São dezenas de procedimentos necessários para a correta análise da condição do animal. E nada disso é possível fazer à distância.
Não podemos aceitar ações como as propostas por este aplicativo. Nós, enquanto médicos veterinários, temos que condenar esta prática. No Conselho Regional de Medicina Veterinária vamos usar todas as ferramentas para impedir que serviços dessa natureza sejam prestados. Esta é uma das funções primordiais do Conselho, entrar nessas discussões para estabelecer os limites entre a tecnologia, o mercado e o que a técnica, a ética e a prudência permitem para possamos prestar um serviço médico veterinário sem incorrer em atos de imprudência e negligência.
PublicidadeSem os avanços da tecnologia nós não teríamos cães, por exemplo, que antes viviam dez ou 12 anos, vivendo 16 ou mais. Aplaudimos tudo o que a ciência, a pesquisa e o uso da mobilidade e da troca de informações permitem. Mas também não podemos deixar que ela substitua atividades que são inerentes e exclusivas da atividade humana presencial pois assim, em vez da tecnologia ser benéfica, passa a ser prejudicial. O equilíbrio e a prudência são sempre muito importantes. Há um público consumidor altamente envolvido e demandante, há empresas desenvolvedoras criando tecnologias a todo o momento. O mercado pet realmente é um filão, uma área que pode contribuir no link médico-paciente, médico-proprietário do animal. Mas justamente por ser novo e muito rápido, é que precisamos estar atentos.
*Rodrigo Lorenzoni é médico veterinário e empresário
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