Cláudio Boriola *
Corredores claros e espelhados. Piso impecavelmente limpo e brilhante. Nas vitrines, bonitas e bem montadas, produtos das mais diversas nacionalidades, mas todos de alto padrão, tanto de custo quanto de qualidade. Dez metros adiante, uma loja de uma grife italiana. Do outro lado, uma loja especializada em perfumes franceses. Entre elas, uma rede norte-americana de café expresso tem um quiosque. Não, essa imagem não é de nenhum centro de compras europeu ou de Nova Iorque. Estamos no Brasil!
O brasileiro sempre teve uma queda por produtos importados, mas nem sempre teve cacife para chegar até eles. Na década de 80 e até o comecinho dos anos 90, a solução era se enganar com “os importados do Paraguai”. Todo mundo tinha um conhecido ou conhecida que cruzava a fronteira pelo menos uma vez por semana, carregado de novidades. Com as mudanças na economia brasileira, o Paraguai deixou de ser nosso hermano fornecedor. Pelo menos nesse aspecto.
Hoje, lugares como a Zona Sul carioca estão repletos de centros de compras com pomposos nomes em inglês e carros importados no estacionamento. São Paulo e outras grandes cidades do Brasil não ficam atrás. Nessas ilhas de alto consumo, é até covardia usar o valor do nosso salário mínimo como referência. Bolsas saem por R$ 500, calças jeans por R$ 700. Já pequenos acessórios, como pulseiras e correntinhas, são encontrados por R$ 100, R$ 200.
Em São Paulo, uma rede norte-americana de cafeterias, presente em mais de 30 países, começou a operar no dia 1º de dezembro. O café expresso custa R$ 2,80 e um tipo de capuccino, R$ 12,80. O café é nacional, mas torrado nos Estados Unidos, o que talvez explique o seu alto custo. A empresa pretende repetir no Brasil o sucesso que obteve no México, onde já tem instaladas mais de 100 lojas, de ruas de bairro a grandes centros comerciais.
No ramo de entretenimento, os pais podem se preparar para a choradeira dos filhos adolescentes. Três videogames de última geração chegam às lojas brasileiras com custos exorbitantes: algo em torno de R$ 2,3 mil a R$ 3 mil. Isso sem contar os jogos, que são vendidos separadamente e devem custar de R$ 100 a R$ 200 cada um. E há os acessórios também…
Fazendo um comparativo entre a década de 80 e hoje, a economia brasileira deu um maior poder de compra para a população. Mas não é só isso que explica esse aumento do mercado de alto custo. Hoje, com a vasta oferta de comprar em parcelamentos através de crediários, torna-se mais fácil adquirir aquela calça, aquele tênis de marca ou ainda comprar o último lançamento em videogame em dez “parcelinhas” de R$ 230. É uma verdadeira armadilha para o consumidor imediatista, que compra sem consultar o seu orçamento e o de sua família.
Infelizmente, devido às desigualdades existentes no nosso país, temos de ter em mente que esse tipo de mercado tem um público pequeno, mas poderoso e escolhido a dedo pelos especialistas. Basta verificar que em determinadas lojas não se entra sem ser pelo estacionamento (ou seja, pelo menos carro você tem de ter) e em outras, o modo de se vestir do comprador é analisado com olhos de lince pela segurança. Funciona mais ou menos assim: é para quem pode e não para quem quer.
* Cláudio Boriola é consultor financeiro, especialista em economia doméstica e direitos do consumidor. Fundador e presidente da Boriola Consultoria, empresa criada há mais de 12 anos, é autor do livro Paz, saúde e crédito e do projeto para inclusão da disciplina "Educação Financeira" nas escolas.
Deixe um comentário