Dilma Rousseff convive com o fantasma do mandato anterior e abdica de iniciar a gestão, a menos que o não-governo seja um novo método de administrar. Minam-lhe o mandato não apenas as sucessivas denúncias de corrupção da camarilha que chefiou como ministra e manteve como presidente. Sobretudo, embeber-se do nada, fazer de conta que está tudo normal, que é assim mesmo. E, quando age, haja insensato coração – a atual ama as novelas como o antecessor é vidrado em futebol.
Adotou medidas de austeridade fiscal pelo avesso, reduzindo os investimentos para quitar dívidas da farra do ano eleitoral, prolongando os danos sofridos na economia pelos gargalos da infraestrutura deficitária. A apostar no amanhã, prefere pagar os custos da megalomania do ex. Apenas em julho, destinou R$ 1,8 bilhão para os “restos a pagar”, 56% dos R$ 3,2 bilhões de repasses. As dívidas futuras também sofreram forte decréscimo. No ano passado, R$ 28 bilhões empenhados nos seis primeiros meses; em 2011, R$ 18,6 bilhões. No que lhe cabe, tropeça.
A União investiu 36,3% a menos de janeiro a julho deste ano comparado ao mesmo período de 2010, queda de R$ 2,5 bilhões apenas no período, segundo levantamento divulgado pela organização Contas Abertas. O rombo foi puxado em grande parte pelas estatais. Atualizada a inflação, órgãos como os Correios (que, aparelhado pela companheirada, deixou de ser um exemplo de eficácia para transformar-se em antro de incompetência) e a Petrobras (que, de acordo com a conveniência política, troca diretor e compõe conselho com a única exigência da estrela no peito) deixaram de injetar 17,5% no primeiro semestre, enquanto o governo federal ficou na casa dos 18,8%.
Na tentativa de passar de títere a cria que supera o criador, Dilma lançou o Brasil Maior, R$ 25 bilhões a menos em impostos, R$ 500 bilhões a mais do BNDES. Lula preferia o Brasil Grande. Na competição de adjetivos, perde o país, pois querem o nacionalismo barrando a crise que atravessa o Atlântico. Sem ter se preparado para os solavancos tantas vezes anunciados, Dilma usa a receita do chefe, uma espécie de patriotismo do carnê. A maior parte da população ainda sofre com os juros altíssimos do crédito, e a dupla faz campanha para o brasileiro se endividar ainda mais. Resolveram que o consumo interno vai suprir as providências não tomadas pelo governo – não faz poupança e praticamente impede que a população faça.
A negligência ao chamado dever de casa viabiliza a opção preferencial por quitar os papagaios deixados por Lula na gaiola do Planalto. Não conseguiria manter os gastos abusivos indefinidamente, mas não se pode acabar com a virtude para normatizar o vício. O estrago é notável no Ministério da Agricultura que, antes de ser o número 1 em escândalos, é vital às diversas áreas, da agricultura à zoonose. Dos R$ 17,1 bilhões autorizados em seu orçamento para 2011, foram gastos R$ 6,7 bilhões, 79,1% em dívidas do exercício passado.
Recomenda-se à presidente que sequer fale em herança maldita, porque ela própria faz parte do legado imposto por Lula. Mas trata-se de erro fatal tolher os investimentos para tentar estancar a sangria de recursos, enquanto milhares de sanguessugas drenam o vigor da máquina. Dilma está diante do dilema de manter o método que permitiu sua eleição ou fazer fumaça da governabilidade. Entre os dois, prefere ambos, como demonstra ao querer faxina só depois de imprensa e Polícia Federal levantarem o tapete.
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