A maior lição que a vitória do Corinthians sobre o Chelsea por 1 a 0 e consequente conquista do Mundial de Clubes 2012 deixa é a de que a vontade dos homens pode prevalecer sobre o poder do dinheiro.
O Chelsea não passa de um amontoado de estrelas de vários países, legião estrangeira que um bilionário russo arrebanhou a peso de ouro.
O Corinthians tem um elenco bem menos valorizado no mercado da bola, mas força coletiva muito superior. Trata-se de um grupo homogêneo de jogadores no mínimo bons, e sem nenhum elemento desagregador.
Conta, ademais, com o melhor técnico brasileiro em termos de liderança e organização tática. No jargão futebolístico, Tite tem o time na mão e sabe exatamente como melhor aproveitar cada peça.
Então, repetindo o que fez com Vanderlei Luxemburgo naquele célebre Corinthians 1×3 Grêmio em pleno Pacaembu, decisão da Copa do Brasil de 2001, ele deu um nó tático no treinador adversário, Rafael Benítez.
A jornada dispersiva de Emerson impediu que a superioridade do conjunto corintiano se traduzisse em gols já no primeiro tempo. E, aproveitando seus inegáveis talentos e alguns vacilos da zaga alvinegra, o Chelsea acabou até levando mais perigo nas finalizações.
Mas, além de tudo, Tite tem estrela. O goleiro no qual ele apostou às vésperas da Libertadores – e que evitou a desclassificação do Corinthians contra o Vasco no Pacaembu – teve neste domingo atuação simplesmente impressionante. Uma vez na vida sou obrigado a concordar com o Galvão Bueno: “histórica”.
E, se no primeiro semestre a aposta de Tite no Romarinho permitiu que o Corinthians saísse sem derrota do temido La Bombonera, agora quem decidiu tudo foi o peruano Guerrero, por ele bancado até mesmo quando não havia certeza de que se recuperasse a tempo de uma contusão.
Foi de lavar a alma.
O Chelsea, que nem de longe merecia superar o Barcelona na Liga dos Campeões, recebeu o troco na mesma moeda: mais agudo do que o Corinthians, foi vencido por um adversário extremamente determinado e (reconheçamos) afortunado.
Tite mostrou ao Brasil inteiro como, no futebol moderno, se arma um time para diminuir a vantagem do favorito.
O arcaico Felipão atualmente não lhe chega aos pés, tanto que seu retrospecto no Palmeiras, contra as duas equipes um pouco mais próximas da modernidade futebolística (Corinthians e Fluminense), foi péssimo. Chegou a perder até da equipe B alvinegra.
O goleiro Cássio se consagrou, provando que Mano Menezes estava certíssimo em convocá-lo para a Seleção Brasileira, mas ficou lhe devendo uma chance entre os titulares.
Diego Cavalieri é, sim, ligeiramente melhor. Mas a envergadura do gigante corintiano talvez fale mais alto. Contra cracaços, ele conseguiu atrapalhar finalizações que poderiam ser fatais, ao crescer diante dos atacantes (sobra bem pouco espaço para enfiarem a bola e eles acabam errando…).
Quanto ao Santos que o Barcelona fez de gato e sapato no ano passado, recebeu também uma lição: quando se disputa o jogo mais importante da carreira, espera-se, no mínimo, personalidade e firmeza. Perder faz parte do jogo, mas entregar-se sem luta é inadmissível. O Neymar só faltou pedir autógrafo ao Messi…
Outro contraste significativo é a mudança que cada técnico efetuou depois da semifinal: enquanto a de Muricy desarrumou a defesa do Santos, a troca de Douglas por Jorge Henrique foi fundamental para o Chelsea não encontrar as avenidas pelas quais desfilara contra o Monterrey.
De resto, o Brasil deve muito ao Corinthians. Depois dos sucessivos vexames em Mundiais de seleções e de clubes, Olimpíadas, etc., o (hoje mais do que nunca!) Timão pôs um fim nos vareios europeus.
Precisávamos resgatar nossa moral futebolística, ainda mais ao entrarmos na fase decisiva dos preparativos para a Copa do Mundo. Conseguimos.
Resta cair a ficha para as viúvas da ditadura que comandam a CBF: descartado o melhor técnico com o qual poderíamos contar (Pep Guardiola), sobra Tite como o mais apto a nos proporcionar alguma chance de êxito.
Felipão, por sua vez, significa a certeza da derrota.
*É jornalista, escritor e autor do blog Náufrago da Utopia.
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