Zuenir Ventura, Alberto Dines, Ricardo Kotscho, André Trigueiro, Carlos Alberto Sardenberg, Milton Coelho da Graça… alguns dos principais nomes do jornalismo brasileiro se derretem em elogios para o Congresso em Foco. Assessores de políticos empreendem monumental cruzada para saber “quem está por trás” do veículo que mais dá furos na cobertura do Congresso Nacional. O que é o Congresso em Foco? Quem financia? Como é feito?
Determinado a desvendar os mistérios que rondam a imaginação de milhares, senão milhões, de brasileiros, presto a você, caro leitor ou leitora, uma contribuição gratuita. Visitei a redação do Congresso em Foco no quentíssimo dia 22 de abril de 2009 e apresento o relato que segue, forjado na característica que marca este site – a mais absoluta exclusividade.
Notei que havia algo de errado quando, pela primeira da meia dúzia de vezes em que lá estive, entro na redação, digo alto “boa tarde” e ninguém responde. O clima é de tensão. Naquela quarta-feira, o site tinha publicado a lista com os deputados que usaram a cota da Câmara para viagens aéreas internacionais, o que não é permitido por lei. O único que me dá alguma atenção é o… vamos chamar assim… “chefe”.
“E aí, Bezerra, sumido hein, mermão”, diz ele, abrindo um sorriso. A boa acolhida se transforma em fúria quando digo que vim fazer uma matéria sobre os bastidores do Congresso em Foco. “Pra que a gente se expor neste momento em que tem um bando de deputados querendo nos dar pedradas?”, critica. “Autoexposição agora, além de ser burrice, vai dar a impressão de que queremos aparecer. Não temos o direito de ser cabotinos”. Antipático, joga na minha cara que sou corretor de imóveis, não jornalista. “Pô, cara, você sabe que pelo menos tenho diploma. Estudamos juntos. E, como corretor, aprendi a vender. Vocês vendem muito mal o site”, reajo. Ele fica mais bravo quando tento explicar que pretendo mostrar o que faz cada um, dar o nome das pessoas. “O meu nome, não, Bezerra. Esta é a única coisa proibida que tem neste site: não põe nunca o meu nome nesta coluna maluca que você de vez em quando faz”. Logo, o chefe atende o telefone, e esquece de mim. Vocês estão de prova que não cito o nome dele.
Cleide me oferece um café, que aceito. Edson, Lúcio e Militão, até então em seus computadores, largam o que estão fazendo para acompanhar pela TV Câmara o cortejo de deputados que no plenário falam neste exato instante das reportagens recentes assinadas pelo trio. Eumano se despede cordialmente ao telefone de um deputado interessado em prestar esclarecimentos e se junta ao grupo, ao qual quase em seguida se incorpora o chefe. Que, ele está mesmo uma pilha, fica nervoso quando ouve Fernando Gabeira (PV-RJ) afirmar que “jamais seria denunciado pelo Congresso em Foco ou pelos procuradores”.
“Que merda é essa?”, berra o chefe. “Fica parecendo que a gente protege alguém. A gente não tem nada do Gabeira?”. Lúcio responde: “No período que a gente conseguiu apurar, de janeiro de 2007 a outubro de 2008, não achamos nenhuma passagem internacional na cota dele. Ele é que procurou o Blog do Josias para contar que usou a cota com as filhas, depois falou pro Globo que uma das filhas viajou pro exterior”. “Essa viagem deve ter sido em outra data”, acrescenta Militão. “E por que procurou o Josias e não a gente?”, pergunta o chefe, que fica sem resposta.
Enquanto os outros conversam, Edson está atento quando Gabeira fala algo que depois o mesmo Edson teve a gentileza de me mandar por e-mail, nos termos originais das notas taquigráficas da Câmara. Eis as sábias palavras de Gabeira: “Como a Câmara dos Deputados não é uma grande anunciante, a exemplo do Executivo, toda a pressão se volta contra nós, porque o Congresso, sim, é possível criticar sem ser ameaçado de perder anúncios.” Ao ouvirem o relato do Edson da afirmação de Gabeira, todos riem.
Rapidamente, a tensão volta. Lúcio baba de raiva ao ver Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), um dos que usaram a cota para viagens ao exterior, dizer que estava à disposição do Congresso em Foco e do Ministério Público para demonstrar sua completa inocência no caso das passagens. “Porra, a gente publicou a explicação dele, e ele fica aí tentando passar a ideia de que não foi ouvido”. Arnaldo Faria de Sá fala que o site informou que ele usou a cota em 43 voos internacionais, quando ele só reconhece uma viagem, aos Estados Unidos. “O cara não acerta nem o número, nós falamos em 29 voos”, observa Militão.
O próximo deputado a falar em plenário é Ciro Gomes (PSB-CE), que está irritado porque o nome da sua mãe entrou na lista publicada pelo Congresso em Foco. Diz que é uma “grosseira mentira” afirmar que sua mãe foi aos Estados Unidos com passagem paga pela Câmara. Sustenta que ela não fez uma das viagens constantes da lista, e que “pagou sua passagem com recursos próprios” em outra oportunidade. E ataca “a plutocracia e seus serviçais na grande mídia”. “Oba, já somos grande mídia”, comemora Eumano efusivamente.
Lúcio não tem a mesma calma. “Não importa se a mãe dele viajou ou não viajou, o que importa é que a Câmara pagou”, esbraveja, fazendo referência ao lado policial da farra das passagens. Ou seja, ao fato de a Câmara ter pago na cota parlamentar vários bilhetes que depois foram revendidos criminosamente no mercado paralelo. Eumano, mineiramente, tenta amansar o repórter: “Calma, Lúcio, calma. Olha o tamanho do estrago que nós fizemos. É impossível dar uma porrada dessas e não ter reação”. Edson estranha o tom do discurso do deputado pavio curto, já que falara pouco antes com Ciro, e ele se referiu ao site de modo muito respeitoso – tom semelhante ao da nota recebida e publicada pelo Congresso em Foco.
Os telefones não param de tocar. Militão, meu fã número um, atende o assessor de um deputado. Eu o chamo num canto e combino de publicar este texto à revelia do chefe, ele promete me dar cobertura, informando que o chefe estará fora de Brasília no final de semana. Iria esfriar a cabeça debaixo de uma cachoeira qualquer da Chapada dos Veadeiros. Militão deve ser um agente disfarçado do Al-Qaeda, muito doido o Militão.
Abordo o Edson, para quem tento há anos vender um apartamento. “O problema é pagar o aluguel e a prestação ao mesmo tempo”, diz Edson, arisco. “Pô, Edson, eu também pagava aluguel, e ganhava bem menos que você, quando comprei meu primeiro apartamento. A gente se aperta, mas consegue”, intervém o chefe do outro lado da redação, demonstrando que ouvia tudo.
Minutos depois, a repórter Daniela liga do Congresso contando que ela e uma colega da Folha, ambas jovens e talentosas jornalistas, haviam sido destratadas por Ciro Gomes (confira). Eumano não se conforma: “Aí é covardia. Por que não faz isso com marmanjo?”. O chefe arremata em tom de lamentação: “E a gente procurando o sujeito pra dar a ele todo espaço do mundo para se manifestar…” Renata, que havia voltado à redação, informa que a assessoria do Ciro tinha ficado de mandar na segunda-feira a nota que chegara minutos antes, após publicada a matéria. Lúcio explode de novo, demonstrando que falar palavrões não é monopólio do destemperado Ciro. Na parte publicável dos seus comentários, questiona: “Cadê os comprovantes do Ciro para mostrar que pagou as viagens? Por que ele não explica direito em vez de desrespeitar a imprensa? O problema é que os caras não têm o que dizer”.
Renata desliga o telefone e avisa que recebeu a ligação de um deputado desesperado. Telefonou perguntando se o Congresso em Foco quer acabar com a família b
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