Texto por Henrique Fróes
A preocupação é de uma amiga querida, mãe de uma adolescente de 15 anos, mas, com certeza, é compartilhada por muitos pais. A filha, ela nos conta, passa horas e horas na frente do computador, assistindo passivamente ao desfile infindável das blogueiras, versões atualizadas das princesas de outrora. Aos súditos fiéis, a nova realeza disponibiliza os registros de sua rotina encantada, feita basicamente de viagens, treinos na academia e comidinhas fitness, enquanto desfilam suas últimas aquisições de roupas, acessórios, perfumes, cosméticos e tudo o mais que atraía a audiência de suas centenas de milhares de seguidoras.
A justificativa para não perder um só post das blogueiras preferidas é, de acordo com afilha, o de se inspirar. Deles viriam a disposição para malhar e o incentivo para ter uma alimentação mais saudável, por exemplo, assim como a determinação para alcançar um sucesso profissional e financeiro que possibilitasse um acesso àquele grau de consumo. Para a filha, são exemplos a serem seguidos.
O olhar aguçado e sensível da mãe, no entanto, enxerga outra coisa. Ao invés de inspirar, o exemplo das blogueiras, na verdade, paralisa. Primeiro, por dar a ilusão de que o mundo pode ser como aquele dos contos de fada, no qual tudo é dado, como de direito, ao invés de ser conquistado. Segundo, por impor padrões que poucos tem as condições ou a capacidade de alcançar. Daí, melhor nem começar, afinal, “eu nunca serei como elas”. Resultado? Além da letargia, um abalo na já frágil autoestima da adolescente.
Com a ajuda dos romanos
Mesmo sendo um tema tão atual, podemos interrogar os clássicos em busca de alguns insights. No caso, melhor nos dirigirmos aos romanos, que, historicamente, como homens de ação que eram, demonstraram preferência na utilização de exemplos de pessoas admiradas ou de atos valorosos nas suas lições de ética. A aprendizagem por meio da observação dos exempla – de preferência, daqueles que podemos observar diretamente – é rápida e eficiente, já observava Sêneca, quando comparada com as lições contidas nos livros. Afinal, ele nos diz, na sexta das “Cartas a Lucílio”, que acreditamos mais naquilo que vemos do que naquilo que ouvimos.
Na obra “Dos Deveres”, Cícero, outro grande filósofo romano, aponta para o fato de que tendemos a imitar aos outros o que nos parece melhor e que somos atraídos pelas façanhas e princípios alheios. Isso faz parte do processo pelo qual escolhemos que tipo de pessoa queremos ser e que estilo de vida pretendemos levar. Mas, nesse processo, não podemos deixar de levar em conta tanto nossa própria natureza quanto aquilo que a Fortuna nos proporcionou: aptidões físicas, condições materiais, oportunidades, etc.PublicidadeCícero reconhece que o fato da “mais difícil das deliberações” se dar durante a adolescência é complicado, pois, por falta de maturidade e conhecimento, podemos nos comprometer com um gênero de vida sem ter as condições de decidir qual deles é o melhor para nós – ou seja, qual se adapta melhor à nossa natureza e à nossa Fortuna. Por outro lado, o filósofo romano se mostra otimista com a possibilidade de que tal escolha seja posteriormente alterada.
Velho problema
Os jovens, tanto os de hoje quanto os da velha Roma, parecem ter predileção por se espelharem naqueles mais próximos em idade, pelo menos se levarmos em conta uma observação de Plínio, o Moço – advogado e homem público de destaque na Roma do primeiro século D.C. Em uma de suas cartas, ele reclama da atitude dos jovens de seu tempo, que raramente tomam como modelo uma figura mais velha ou de mais autoridade. “Eles já nascem com conhecimento e entendimento de tudo, e não mostram respeito nem vontade de imitar ninguém, a não ser a si mesmos.”
À mãe apreensiva, restaria um conselho em forma de provérbio latino: “De re irreparabile ne doleas” – ou, em bom português: “o que não tem remédio, remediado está”…
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