Paulo Henrique Zarat
Foto: Agência Senado
Francisco de Assis de Moraes Souza, senador do PMDB pelo estado do Piauí, é um político que fala pelos cotovelos. Em pouco mais de três anos, Mão Santa, como ele é conhecido, fez mais de 350 discursos em plenário. Tudo isso, sem nunca ter sido líder de partido.
Seu nome está sempre inscrito na lista de oradores das sessões plenárias. Há quem se enfade com sua maratona de discursos. Mas são muitos os que se divertem. Não poupa citações de Rui Barbosa, Ulisses Guimarães, Petrônio Portela e até de cantores de axé music, vale tudo para incrementar os pronunciamentos. O senador Demóstenes Torres (PFL-GO) o classifica como "um parlamentar folclórico e diferenciado".
O Piauí, estado natal, é descrito por ele como se fosse o lugar que Deus escolheria para morar se optasse por viver entre nós, humanos e pecadores. O amor pela terra é notado já na maneira como pronuncia seu nome: "P-I-A-U-ÍÍÍ", diz, acentuando a pronúncia de cada letra e, sobretudo, a última vogal. "Este Brasil é grandão por causa do Piauí", disse em discurso.
O endereço das suas palavras, quando gentis, quase sempre é o ego de seus pares, seja quem for. Não economiza nos elogios aos colegas senadores, principalmente, aos da bancada nordestina. Mas, quando o discurso, de uma hora para outra, se torna mais espinhoso e virulento, aí, o alvo em geral é o governo Lula. Governo que ele ajudou a eleger em seu estado com o slogan: "Lula, lá, Mão Santa, cá!".
"Espetáculo com sabor popular"
"O senador Mão Santa é a voz das ruas no Congresso Nacional. Ele produz o discurso-espetáculo com sabor popular", define o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) sobre os pronunciamentos do colega.
PublicidadeMédico, atualmente com 63 anos, Mão Santa reivindica o mérito de ter, como governador do Piauí, criado o primeiro restaurante comunitário do Brasil, o "Sopa na Mão". Ainda hoje, acusa Mário Covas e Garotinho de plagiarem sua idéia ao implantarem o projeto em seus estados.
Se em 2002 apoiou o PT para o governo do Piauí e para a Presidência da República, as primeiras rusgas com o governo Lula não demoraram a surgir. Já nas discussões da reforma da Previdência, em 2003, Mão Santa criticou, à maneira dele, o texto da proposta.
Acusou a reforma da Previdência de ser "perversa, estelionatária e criminosa" e lamentou: "Tivemos aqui várias oportunidades (de mudar o texto da reforma), mas o presidente da República, ou seus conselheiros, ou o núcleo duro – duro porque só tem osso na cabeça, e cabeça boa é cabeça mole, que tem encéfalo, que raciocina – não têm se dado conta da gravidade do fato".
Com a crise política que teve início em maio do ano passado, os discursos contra o governo ficaram mais apelativos. Recentemente, comparou o caseiro Francenildo Costa – aquele que viu Palocci na casa da turma de Ribeirão Preto – a Jesus Cristo, porque, segundo ele, foi "injustiçado e humilhado" no episódio da quebra do sigilo bancário do caseiro.
O leque de críticas ao governo tem aba grande. Vai do aumento da carga tributária às condições das estradas no país, especialmente no Piauí; dos gastos excessivos com publicidade ao descaso do governo com a saúde no Brasil.
"Senador César Borges, Vossa Excelência sabe quanto custa um exame parasitológico de fezes?", perguntou Mão Santa da tribuna. "Pois saiba que o SUS paga só R$ 1,65! Ó senador, o exame de fezes tem reagentes, química, microscópico e o SUS paga só R$ 1,65!".
Nem tão santo assim
Por causa do escândalo do mensalão, passou a defender a saída do PMDB da base aliada ao governo. Acha que o partido deve lançar candidato próprio à Presidência da República e não esconde sua preferência pelo senador Pedro Simon (PMDB/RS).
Mesmo com toda evocação que faz em seus discursos – e no próprio nome – à moral cristã, Mão Santa também cometeu lá seus pecados. Em 2001, no penúltimo ano de seu segundo mandato como governador do Piauí, o TSE determinou a anulação dos votos dados à sua candidatura.
O então senador Hugo Napoleão, que ficou em segundo lugar na disputa pelo governo do Piauí, o acusou de abuso do poder econômico e de usar a máquina administrativa para se reeleger. Mão Santa teve os votos anulados e Hugo Napoleão assumiu seu lugar.
Sem o mandato de governador, mas com os direitos políticos intactos, Mão Santa candidatou-se, em 2002, ao Senado e se elegeu. O mandato vai até 31 de janeiro de 2011. Até lá, certamente, Mão Santa continuará brindando o distinto público com inesquecíveis pronunciamentos (veja alguns exemplos).
Deixe um comentário