Edemilson Paraná *
São preguiçosas e rasteiras as análises que correm para taxar de ‘elites’ os descontentes com Dilma e com o governo. Segundo pesquisa Datafolha, apenas 23% da população aprovam a presidenta. Para 44%, seu governo é ruim ou péssimo; outros 33% consideram sua gestão apenas regular. Trata-se de um dos piores índices de aprovação desde FHC. Não me parece crível pensar em mais da metade da população brasileira como “fascista”.
Apesar de não estarem apenas “nas elites”, é preciso reconhecer, é verdade, que os descontentes não pedem “reformas estruturais” ou “a defesa dos direitos dos trabalhadores”. O que eles querem, previsivelmente, é continuar consumindo. Não foi esse, afinal, o sinônimo de desenvolvimento e progresso vendido nos últimos 12 anos pelo governo com o patrocínio, aí sim, das elites dirigentes? Acontece que o endividamento chegou e aquele entusiasmo com o Brasil murchou, como era de se esperar. O limite do modelo está posto. Como “seguir avançando” quando a saúde pública é um caos, o plano é ruim e caro, e a educação privada não garante as oportunidades esperadas? Como seguir lotando os shopping centers aos finais de semana com todos os preços subindo? Como comprar imóveis com o crédito rareando?
Em parte das esquerdas, as vinculadas ao governo, a cooptação e a burocratização deram o tom do silêncio nos últimos anos. Lá como cá, limitaram-se a defender o atual pacto de governabilidade, seja como a melhor ou a “menos pior” das opções. Sem politização cotidiana, sem uma gramática política para manifestar objetivamente sua revolta, os brasileiros entregam-se à agenda conservadora. Só restou bradar contra a corrupção, como se o problema fosse unicamente moral. Já conhecemos essa história.
A elite “de fato” se aproveita do momento porque aprendeu que é nas crises em que se abrem as melhores oportunidades políticas. Para o seu núcleo duro, engolir o PT foi sempre uma necessidade, nunca uma escolha entusiasmada.
Em 2013 o PT perdeu as ruas. Em 2014/15 perdeu o Congresso. Está ficando patente que, ao sacrificar os trabalhadores/as e capital produtivo em nome da finança (o dito 1%), Dilma trai seu programa eleito nas urnas, e desagrada às maiorias, sobretudo às classes médias que, sim, carregam bastante em seus ombros (os pequenos negócios são os que mais empregam, mais pagam impostos e menos recebem incentivos no Brasil). É verdade que é dessa força vital, sobretudo, que se alimentam as elites com sede de poder. Mas não nos enganemos. O descontentamento é “popular e de massas”. Atinge os trabalhadores/as, os precariados/as, a base da pirâmide.
O regime todo está podre, mas seja isso justo ou não, o alvo primário não poderia ser outro. Como deus ex machina da política brasileira, a Presidência historicamente é responsável por tudo o que acontece no país – de bom ou ruim.
PublicidadeLogo depois das eleições, escrevi aqui no Congresso em Foco sobre não haver meio termo para Dilma e o PT. Ou assumiam o combate por outra agenda popular e realmente democrática, ou estariam superados como alternativa política. A aposta no, entanto, foi pela agenda do austericídio, que dirige o país rumo ao desastre da recessão e do desemprego.
Estamos, pois, justamente a vê-los pagar o preço por esse caminho. O Brasil está ficando pior. E está ficando pior para as maiorias. O atoleiro econômico, político e social parece não ter fim, mas está apenas começando.
Sair em defesa do governo e do PT, esse morto-vivo sem programa e direção política, no entanto, é o pior que a esquerda “de fato” pode fazer agora. Porque, dessa forma, afundará junto dele aos olhos da população descontente. Sob pena de nunca construirmos uma alternativa progressista real e de fôlego ao atual arranjo. A hora é, como temos defendido, de puxar a corda para a esquerda, mais e mais. Apresentar soluções concretas e saídas próprias para esse dilema.
Em relação à crise política atual, é certo que a situação se degrada e pode, sim, redundar numa crise institucional ainda mais densa, mas poucas comparações são mais esdrúxulas do que com as tentativas de golpe no Chile de Allende ou na Venezuela de Chávez. Ao que consta, não era um Chicago Boy, ex-FMI, que ocupava o Ministério da Fazenda chileno à época; e Chávez tampouco havia atacado o direito dos trabalhadores/as em 2001, às vésperas da elite venezuelana sediada em Miami tentar derrubá-lo.
Talvez a chapa esquente e oportunismo das elites políticas e das oposições se manifeste em apostas mais arriscadas. Mas parece ingenuidade, nesse quadro, acreditar que o povo sairá em defesa de Dilma e do PT por puro legalismo. Ele pedirá mais do que isso, muito mais, para sair às ruas em nome de um governo que parece ter-lhe virado as costas. Talvez seja tarde demais.
O governo, no entanto, sabe exatamente o que precisa ser feito. Terá possibilidades, ou melhor, coragem e disposição política para isso?
* Edemilson Paraná é jornalista, mestre e doutorando em Sociologia pela Universidade de Brasília.
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