Eis os quatro significados que o dicionário Caldas Aulete dá para sebastianismo:
1. Crença existente em Portugal de que o rei D. Sebastião (1554-1578) voltaria um dia como uma espécie de messias para conduzir o país a novas glórias.
2. [Brasil, depreciativo] Fidelidade aos ideais da monarquia após a consolidação da República.
3. Sistema de ideias ou doutrina ultrapassada, não mais aceitável; obscurantismo.
4. Qualquer esperança messiânica da volta ao poder de um dirigente carismático.
Os quatro se aplicam ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se não, vejamos:
1. Ele está morto politicamente, mas ainda há quem acredite na sua fantasmagórica volta, sem levar em conta que pesquisas eleitorais relativas a uma eleição que acontecerá daqui a 20 meses só servem para preencher espaços no noticiário, afinal algo precisa existir entre uma publicidade e outra.
O eleitorado começa realmente a decidir seu voto depois das férias escolares de julho. E, caso não esteja legalmente impedido de disputar a eleição presidencial, Lula verá reavivada dia e noite a lembrança das mil e uma denúncias de corrupção contra ele existentes; a indústria cultural, desta vez, o poderá destruir com muita facilidade.
PublicidadeO desempenho da economia também é uma incógnita. Como se viu nos anos Médici, os humores dos brasileiros são ditados pelos bolsos; basta uma pequena melhora na sua condição financeira para aplaudirem qualquer governo, até mesmo a mais bestial das ditaduras.
Então, a viabilidade eleitoral do Lula depende de que tudo permaneça estático durante um tempão, com a manutenção de um cenário recessivo do qual pode ser até que o país já esteja saindo (afinal, não é necessária muita coisa para se aquecer temporariamente uma economia mixuruca como a do Brasil, basta evitarem-se os erros bisonhos que a Dilma cometia).
O pior de tudo, contudo, é a absoluta falta de ideias, propostas e posturas novas. Até mesmo Getúlio Vargas, que convencia muito mais como pai dos pobres do que o Lula, precisou reciclar-se para voltar à tona, trocando o figurino fascista pela xenofobia simplista.
Já o PT e o Lula não têm nada a dizer desde o pleito de 2014, quando precisaram recorrer ao estelionato eleitoral e à difamação desembestada, por lhes faltarem quaisquer mensagens positivas para difundir, que pudessem sensibilizar o eleitorado no bom sentido. Não tinham esperanças para oferecer, só rancor.
E, na política, quem está exaurido, está morto. c.q.d.
2. Lula continua fiel ao velho populismo de esquerda, numa época em que a esquerda, caso queira sobreviver politicamente, precisará readquirir consistência ideológica; e na qual o populismo que está se consolidando é o de direita.
Não duvidem: se o próximo presidente, para infelicidade geral da Nação, vier a ser um populista, atenderá pelo nome de Jair Bolsonaro.
Temos mais é de nos livrar da praga do populismo, até porque seus frutos tendem a ser ainda mais amargos com a crescente influência dos mercadores da fé sobre rebanhos de cordeiros que votam em quem seu pastor mandar.
De resto, falando especificamente como homem de esquerda, já não bastam os terríveis fracassos a que o populismo nos conduziu em 1964 e 2016?! Vamos repetir eternamente os mesmos erros?
3. Para não nos alongarmos demais, basta dizer que o PT e Lula não têm resposta teórica ou prática para os principais desafios com que a esquerda se defronta neste momento: como proceder diante do flagrante esgotamento do capitalismo, a aproximar-nos cada vez mais de uma depressão que fará a da década de 1930 parecer brincadeira de crianças; e do contínuo agravamento da crise ecológica, que tende a tornar-se catastrófica já em meados deste século.
Pensar tão pequeno, num momento decisivo como o atual, equivale a não pensar. O PT não pensa. O Lula não pensa.
4. Não é mais uma esperança messiânica, só uma ilusão: o carisma do Lula envelheceu e descorou (perdendo as tonalidades vermelhas…).
Ademais, já deveríamos estar carecas de saber que a esquerda só detém verdadeiramente o poder quando o povo está organizado e disposto à luta. Os votos que a Dilma obteve de nada lhe valeram quando o Congresso Nacional, com um piparote, a despachou para casa, sem que as ruas piassem nem mugissem.
Não precisamos de candidatos bons de voto. Precisamos de uma esquerda boa de luta. Ela não existe neste momento. Nossa prioridade máxima é começarmos a forjá-la!
E as eleições que se danem, pois salta aos olhos que, hoje, a participação nos podres Poderes não mais nos levará aonde precisamos chegar! Enquanto não desencanarmos das ilusões eleitorais, continuaremos patinando sem sair do lugar.
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