Italva é um pequeno município com 14 mil habitantes, no Noroeste do Rio de Janeiro, com orçamento anual de R$ 28 milhōes.
Em 2005, esse município foi assolado por enchentes e teve R$ 7 milhōes de danos materiais e prejuízos sociais e econômicos. Neste ano, dez municípios, dos 18 do Norte e Noroeste fluminense, decretaram situação de emergência. Em 2007, Italva teve outra enchente com prejuízo de R$ 10 milhōes, sendo que na região Norte/Noroeste 14 municípios decretaram situação de emergência. Em dezembro de 2008 e janeiro de 2009, houve quatro enchentes em 30 dias nos Rios Muriaé, Pomba, Carangola e Itabapoana, e uma enchente no rio Paraíba do Sul, sendo que, desta vez, 15 municípios decretaram situação de emergência e um município (Cardoso Moreira) decretou estado de calamidade pública. Italva teve, então, danos e prejuízos da ordem de R$ 28 milhōes, sendo que decretou situação de emergência por enchentes ou inundações graduais, em 20 de dezembro de 2008, e situação de emergência por enxurradas ou inundações bruscas, em 5 de janeiro de 2009.
Todos esses decretos foram homologados pelo estado e reconhecidos pela União. Em 2010 nāo choveu, Italva e mais seis municípios da região decretaram situação de emergência por estiagens, com prejuízo de R$ 8 milhōes. Agora, em dezembro 2010, Italva novamente decretou situação de emergência por enxurradas, havendo também enchentes e colapso do sistema de água potável da Cedae, ficando 10 mil pessoas do município sem acesso a esse serviço essencial por cinco dias ininterruptos. Os danos foram da ordem de R$ 20 milhōes.
De 2005 a 2010, Italva teve prejuízos da ordem de R$ 73 milhōes. Como podemos falar de desenvolvimento com essa sangria? O dinheiro público que teria que ser aplicado em educação, saúde, obras, meio ambiente, por causa dos desastres, passa a ser aplicado em reconstrução, sem sucesso, pois sem obras de prevençāo, estamos apenas enxugando gelo. Na verdade, nem isso estamos fazendo, pois o gelo está derretendo mais rápido do que podemos enxugá-lo. De verba federal liberada até agora para Italva apenas R$ 3 milhōes.
Somos uma raça de heróis. O sangue do índio, do branco e do negro nos conferiu tal rusticidade que a golpes de tenacidade e bravura rompemos matas e florestas, subimos e descemos milhares de serras e montanhas, escapamos de onças e cobras, atravessamos o sertão, a caatinga, o pantanal e balizamos os limites de uma das maiores geografias do mundo. Isso tudo sob um calor intenso, com o suor pingando nos olhos, com febre de um sem número de doenças tropicais, com enxurradas e desabamentos, com rios caudalosos transbordando, numa terra infestada de insetos, pragas, fungos e micróbios, que nos comiam os dedos dos pés, o branco dos olhos e os vasos linfáticos. Ao pegar a goiaba no pé, o bicho já estava lá. Foi assim, na luta intensa, longa e impiedosa que nossa gente sofrida e valente ergueu o Brasil, terra de bravos. Mas que coisa é essa que ao longo dos anos desenvolvemos na alma nacional, uma capacidade pública de esquecer nossas tragédias, e com séculos desses recorrentes infortúnios, não prevenimos, não tememos, nem sequer fazemos caso para realizar as obras e evitar que os mesmos rios transbordem, as encostas desabem, as pontes se despedacem e as populações em áreas de risco sejam pelo menos evacuadas enquanto dure a tempestade. E o Ministério da Integração nas mãos do ministro candidato que aplicou quase todo orçamento disponível no seu reduto eleitoral. E perdeu!
Que futuro existe para Italva, para a Região Norte/Noroeste e para inúmeros outros municípios que são assolados por desastres de recorrência quase que anual? Só existe uma esperança: construir a lei que modifique esse ciclo perverso e mude a cultura sobre este tema. Um novo Plano Nacional de Defesa Civil já!
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