O noticiário econômico desta semana é uma demonstração cabal de como a bússola dos analistas econômicos neoliberais anda desnorteada. “Mercado de trabalho surpreende com queda do desemprego e renda em alta”, estampava a reportagem do jornal Valor Econômico da sexta-feira. Era uma referência aos dados divulgados pelo IBGE no dia anterior, que mostravam que, em agosto, a taxa de desocupação caiu para 5,3% – ela estava em 5,6% em julho e 6,0% em junho – e o rendimento médio real do trabalhador cresceu 1,7%, depois de cinco meses de queda. O tom de surpresa do “mercado” foi o mesmo verificado no final do primeiro semestre, quando se revelou que o PIB brasileiro crescera 1,6%, revertendo as previsões catastrofistas sobre a economia do país em 2013.
Desta vez, as matérias registravam, quase em estado de desalento, que os dados do IBGE indicavam a resistência do mercado de trabalho à desaceleração da economia. Como se buscassem um consolo, os jornais destacaram a capa da última edição da revista britânica The Economist, dedicada a criticar a orientação econômica do governo Dilma Rousseff. A revista se contrapõe a si mesma, já que, em novembro de 2009, sob o título “O Brasil decola”, a imagem de um Cristo Redentor aparece subindo feito um foguete ilustrando uma edição especial. Agora, sob o título “O Brasil estragou tudo?”, a capa da revista traz um Cristo fazendo um looping desgovernado e rumando para o chão.
Mas, voltando ao Brasil, os dados sobre desemprego divulgados pelo IBGE integram a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) e o índice de agosto é o menor patamar registrado desde dezembro de 2012, quando a taxa tinha ficado em 4,6% da População Economicamente Ativa (PEA). No acumulado de janeiro a agosto, esse índice se manteve na média de 5,7%. De acordo com o IBGE, a taxa de desocupação de agosto se manteve estável em relação ao mesmo mês do ano passado (5,3%). Em relação a julho, a população desocupada (23,2 milhões) também ficou estável. “No confronto com agosto de 2012, verificou-se aumento de 1,2%, o que representou elevação de 273 mil ocupados no intervalo de 12 meses”, diz o informe do IBGE. O número de trabalhadores com carteira assinada no setor privado (11,7 milhões) não registrou variação em relação a julho, mas, na comparação anual, houve alta de 3,1% – atualmente esse contingente representa 50,4% do mercado de trabalho brasileiro. Além disso, a quantidade de trabalhadores sem carteira caiu 6,2% em um ano.
Se o rendimento médio real habitual dos ocupados foi de 1,7% maior do que o apurado em julho (atingiu R$ 1.883), “a massa de rendimento real habitual dos ocupados (R$ 44,2 bilhões) apresentou alta de 2,3% frente a julho e 2,7% na comparação com agosto de 2012. A massa de rendimento real efetivo dos ocupados (R$ 44 bilhões), estimada em julho de 2013, variou 3,0% no mês e 2,7 no período de um ano”.
Não obstante o fato de esses números representarem uma tendência rumo ao pleno emprego, analistas ouvidos pelos jornais – a maioria alinhada ao Consenso de Washington e às políticas neoliberais da era FHC – insistem em vaticinar desgraças, como pressões sobre salários nominais, baixa produtividade e desaquecimento do mercado de trabalho. Essas críticas revelam que, ao contrário do que dizem muitos críticos do PT, as abordagens macroeconômicas dos governos FHC e Lula/Dilma são fundamentalmente diversas. Para os tucanos, a estabilidade é um fator determinante e uma eventual queda do desemprego só pode ser consequência dela, mas, para o PT, a criação de empregos e a estabilidade andam juntas e são objetivos estratégicos da política econômica.
Ora, entre esses dois objetivos existem tensões que não aparecem quando apenas um deles é prioritário. O delicado equilíbrio entre inflação sob controle e geração de empregos, portanto, não é uma política errática, mas fruto de uma opção. Os resultados estão à vista de todos: desemprego em queda; inflação sob controle – na faixa de 5,5% a 6%, muito próxima da taxa média do período de estabilização (1995-2012) – e juros reais mais baixos do que na era FHC. Aperfeiçoar esse modelo exitoso passa pela aceleração do crescimento econômico por meio de investimentos maciços em infraestrutura urbana e infraestrutura produtiva (logística e transportes).
Quanto à Economist, seria melhor que a revista olhasse um pouco para o péssimo desempenho da economia na zona do Euro, fruto da herança thatcherista de austeridade econômica da qual a publicação é um dos principais arautos.
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