Mais de uma vez falei e escrevi o óbvio: “no Brasil há liberdade de imprensa”. Mas há um porém, um grave porém. A maioria das empresas privadas de comunicação não tem compromisso com a verdade.
Há liberdade de imprensa, mas as notícias são dadas de acordo com o interesse das empresas que as estão divulgando. São dadas da maneira que lhes convém: incompletas, distorcidas, omitindo informações ou até mesmo mentindo.
Mentiras, calúnias, desinformações e distorções ocorrem porque a empresa de comunicação privada tem interesses econômicos, financeiros, políticos e comerciais. Ou alguém acha que uma rede de TV, como, por exemplo, a Rede Globo, vai dar uma noticia que fere seus interesses comerciais, como noticiar um fato sobre alguma empresa que patrocina seus programas?
Ou alguém acha que quando a empresa tem posição política favorável a determinado partido, como, por exemplo, o PSDB, ela vai informar que dirigentes destes partidos estão sendo investigados ou condenados? Não, não vai falar. Além de não falar, forçam a barra, como foi o caso recente da CBN.
Fernando Haddad, já no primeiro ano de governo como prefeito de São Paulo, descobriu o que veio a ser chamado de “Máfia do ISS” (Imposto sobre Serviços). Essa máfia, que atuava na Prefeitura de São Paulo, era uma organização criminosa que agia com o objetivo de diminuir os impostos a serem pagos, principalmente pelas grandes empresas. A diminuição ocorria de maneira criminosa e com favorecimento pecuniário pessoal.
Semana passada, após cerca de dois anos de investigação, vários dos “mafiosos’, entre os quais Marco Aurélio Garcia, irmão de Rodrigo Garcia (DEM), que é Secretário Estadual de Habitação do governo de Geraldo Alckmin (PSDB), foi indiciado. Pois bem, a CBN, a ‘rádio que toca (ou troca?) a notícia’ deu a informação da seguinte maneira: “Irmão de secretário de Haddad (!) é denunciado na máfia do INSS”.
Como se vê, por interesse político (proteção do DEM e do PSDB), a CBN não divulgou que Marco Aurélio é irmão de Rodrigo Garcia, deputado federal pelo DEM e que ocupa um cargo de secretário de Alckmin.
PublicidadeNo Paraná, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) está apurando denúncias de corrupção e pedofilia cometidas por funcionários públicos estaduais do Paraná. Entre os investigados há dois ex-assessores (exonerados após as denúncias) do governador Beto Richa (PSDB), um deles primo do governador, mas que Richa quer que chame de parente distante.
Como se existisse a condição de ex-primo. Deixando a ironia de lado, o que importa é que há uma investigação em marcha e as acusações são graves. Tenho absoluta certeza de que se o governador fosse do PT e não do PSDB, o caso seria notícia nacional todos os dias. E seriam notícias com veemente cobrança.
Veemente porque, além da gravidade dos supostos crimes (corrupção e pedofilia), um dos jornalistas que cobria estes fatos foi ameaçado de morte. Longe de mim acusar Beto Richa de estar por trás disso, mas há um silêncio enorme no governo estadual sobre o fato, e assustadoramente um silêncio também da grande mídia, principalmente sabendo que este profissional trabalha para a RPC, afiliada de Rede Globo no Paraná.
As ameaças de morte sofridas pelo jornalista James Alberti vieram a público através de uma nota do Sindicato dos Jornalistas do Paraná. Segundo o sindicato, James Alberti “estava em Londrina para aprofundar a investigação sobre rede de corrupção e pedofilia na Receita Estadual do Paraná, que já levou à prisão cerca de 20 pessoas, entre eles, um primo do governador Beto Richa, Luiz Abi Antoun e um assessor do governo do Estado, Marcelo Caramori”.
Nos últimos anos, recorrentemente tenho ouvido discursos de jornalistas de má-fé e de deputados de oposição ao PT e a Dilma afirmando que a liberdade de imprensa no Brasil está ameaçada.
Não, a liberdade de imprensa não está ameaçada. Ameaçada está a verdade.
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