Apontado como mentor intelectual da quadrilha acusada de vender sentenças judiciais na Justiça Federal de São Paulo, o juiz João Carlos da Rocha Mattos – preso atualmente na Casa de Custódia da Polícia Federal, na capital paulista – optou por cair atirando.
Em um depoimento de 17 páginas prestado a três delegados da Polícia Federal e duas procuradoras da República na sexta-feira (30), Rocha Mattos mirou nos policiais que de alguma maneira tiveram participação nas investigações da Operação Anaconda.
Os tiros têm como alvo principal o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, de quem era amigo, mas ricocheteiam na direção do atual presidente do Supremo Tribunal Federal, Maurício Corrêa, do senador Romeu Tuma (PFL-SP) e de outros policiais federais.
Ele acusa Paulo Lacerda de tráfico de influência e de ter lhe pedido favores quando ocupava a 4ª Vara Federal de São Paulo. Afirma que Tuma pediu a ele para absolver o empresário Antônio Celso Cipriani, ex-controlador da Transbrasil, empresa apontada pela CPI do Banestado como reponsável por remessas de US$ 25 milhões para paraísos fiscais, via contas CC-5. Cipriani é ex-agente da Polícia Federal.
Rocha Mattos também ressuscita um assunto que tem relação indireta com a eleição do presidente Lula: o chamado Caso Lunus, operação da Polícia Federal que, seis meses antes das eleições de 2002, descobriu R$ 1,35 milhão na sede da empresa Lunus, da então candidata à presidência da República Roseana Sarney e do marido dela, Jorge Murad.
A apreensão sepultou a candidatura de Roseana, que acusou o governo Fernando Henrique Cardoso de ação política na operação.
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Rocha Mattos, em seu depoimento, afirma ter ouvido o atual diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, dizer que precisava demitir do cargo de superintendente do órgão no Rio de Janeiro o delegado Marcelo Itagiba “por ordem da cúpula governamental, uma vez que o mesmo (Itagiba) teria forte ligação com o então candidato à Presidência da República José Serra e, além disso, havia sido um dos responsáveis pelo planejamento da diligência efetuada pela Polícia Federal contra a então governadora do estado do Maranhão, Roseana Sarney”.
O juiz não apresenta qualquer tipo de prova do que afirma. Em alguns trechos, como o referente ao caso Lunus, ele afirma ter ouvido informações da boca de quem acusa. Em outros, acusa com base em conversas de outras pessoas ou simplesmente faz acusações e insinuações vagas.
Sobre Maurício Corrêa, por exemplo, ele fala com base no que teria ouvido de Lacerda. O diretor-geral da PF teria dito a ele que o atual presidente do STF, quando ministro da Justiça do governo Itamar Franco, teria pedido a ele para abafar as investigações sobre uma empresa ligada ao esquema PC.
O Congresso em Foco tentou ouvir a maioria dos mencionados no depoimento. Alguns, como Tuma, não querem falar do caso. Delegados da PF, apontados como envolvidos em crimes diversos ou de atuação política no exercício da função, creditam as acusações a vingança.
A credibilidade do que fala um magistrado que caiu em desgraça e se julga vítima da traição de quem considerava amigo é questionável. Rocha Mattos tem como único trunfo o fato de efetivamente conhecer os meandros da Polícia Federal, onde ingressou, em 1975, como delegado.
Em sua estratégia de defesa, o juiz ameaça prestar novos depoimentos e “dizer o que sabe” sobre integrantes do Ministério Público Federal, desembargadores do Tribunal Regional Federal e ministros do Superior Tribunal de Justiça.
O depoimento de sexta-feira foi tomado pela delegada Stelamaris Simões Santos Kubota, do Núcleo de Disciplina da Superintendência da PF paulista, acompanhada pelos delegados Vilton Gomes de Souza, Mário Menin Júnior, Moacir Moliterno Júnior e pelas procuradoras da República Janice Ascari e Ana Lúcia Amaral. A advogada do juiz, Daniela Regina Pelegrine também estava presente.
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