O brasileiro adora esporte, sem falar em futebol, que é um caso de paixão e tem que ser tratado à parte. Esses sentimentos que mexem com toda a nação não se restringem às reações dos torcedores em relação aos seus clubes. Representam também geração de emprego, renda, investimentos e oportunidades de negócios envolvendo não só atletas, mas milhares de pessoas país afora que tornam possível a realização de todas as modalidades de esportes.
Essa complexa atividade, que extrapola quadras e campos de futebol, tem no torcedor sua maior razão de existência. É ele que compra a camisa dos seus ídolos, artigos personalizados com o brasão de seu time e o ingresso do jogo.
Nosso futebol é um negócio bilionário. Segundo estudos realizados pela Crowe Horwath RCS, nosso mercado de futebol nos próximos anos promete ser extremamente positivo para o mercado brasileiro, devendo superar R$ 2,6 bilhões (1.050 M) em 2012 e ao final de 2014 superar os R$ 3 bilhões (1.212 M). Com o impulso da realização da Copa do Mundo no Brasil e os recursos gerados com os novos estádios, este montante pode ultrapassar R$ 3,4 bilhões (1.373 M), o que dobraria o tamanho do mercado brasileiro entre 2009 e 2014.
Certamente é essa perspectiva de crescimento do mercado que movimenta os recentes conflitos que envolveram os clubes nacionais e as emissoras de televisão nos últimos meses com o torcedor assistindo a toda essa movimentação completamente excluído das discussões.
Muitos optam por ver a partida com seu time pela televisão, a grande maioria, é bom frisar, assiste ao jogo pela TV aberta. Os que têm uma condição financeira melhor podem pagar para ver seu time pelas TVs fechadas. Mas, a imensa maioria só tem acesso aos jogos pela TV aberta e num péssimo horário.
Desde a criação do Clube dos 13, em 1987, os jogos do Campeonato Brasileiro são transmitidos pela TV aberta. Em 1997, a Rede Globo de Televisão passou a ter contrato de exclusividade dessas transmissões. No cronograma dos fatos, em outubro do ano passado, por intervenção do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), o Clube dos 13 e a Globo acordaram um Termo de Cessação de Conduta pelo qual essa exclusividade acabava.
O Clube dos 13 resolveu então negociar separadamente as transmissões do Campeonato Brasileiro para TV aberta, a cabo, internet e telefonia móvel exigindo, no mínimo, R$ 1,3 bilhão por ano, sendo que apenas para TV aberta esse valor seria de R$ 500 milhões. Ao definir essa estratégia, o representante dos clubes de futebol enviou cartas-convite a TV Globo, Rede TV, SBT, Bandeirantes e Record. Antes de qualquer disputa, a Rede Globo comunicou oficialmente que estava fora do processo de licitação por discordar das condições em que estava sendo feita a concorrência.
Em 11 de março, o Clube dos 13 abriu as propostas das emissoras interessadas em transmitir os jogos dos Campeonatos de 2012 a 2014, e a Rede TV foi a vencedora com um lance de R$ 516 milhões por temporada, o que equivale a R$ 1,548 bilhão no total. Poucas horas antes da abertura dos envelopes, a Record desistiu de participar.
Paralelamente a essa disputa, a TV Globo passou a negociar individualmente com os clubes, fechando contratos de exclusividade para transmissão dos jogos e retornando à mesma situação que o CADE anteriormente havia se manifestado contrário. Esses arranjos passaram a ser conflitantes e, pelas circunstâncias que estão tomando forma, o torcedor será o maior prejudicado.
Muitas dúvidas surgiram durante esse processo e algumas questões sérias relacionadas às transmissões das TVs abertas. Em primeiro lugar, boa parte dos clubes de futebol recebe benefícios do governo, como incentivos e renegociação de dívidas, o que envolve recursos públicos. As televisões, por sua vez, são concessões públicas. E o torcedor, como público principal dos times e das TVs não vem tendo o tratamento que merece. Alguma coisa está errada.
Essa discussão está passando pelo Senado, mais especificamente pela Comissão de Educação, Cultura e Esportes que está organizando audiências públicas para debater esse assunto, para buscar uma intermediação entre os interesses do torcedor, dos clubes e das TVs. Nenhuma das partes envolvidas nessa questão quer chegar a um impasse sobre a transmissão dos jogos e que a Justiça tenha que se pronunciar sobre o tema.
É preciso ressaltar que em poucos lugares do mundo as negociações para transmissão das partidas dos campeonatos de futebol são feitas individualmente com os clubes. O mais comum é que esses entendimentos sejam mantidos pelas emissoras de forma coletiva, com uma entidade representando os clubes.
Na Espanha, por exemplo, onde as transmissões são negociadas diretamente com os clubes, existem apenas dois times fortes, que são o Real Madri e o Barcelona. Esse sistema estava vigorando até recentemente na Itália, mas diante das consequências, já está sendo revisto.
Temos pela frente o evento maior do futebol que é a Copa do Mundo, que vai transformar nossos campos numa vitrine internacional. A movimentação econômica e o legado que essa competição máxima do futebol mundial trará para nosso país não permite que arestas como essa permaneçam sem aparas e que não haja uma solução que possa atender a todos, principalmente aos torcedores, que são e devem ser sempre os verdadeiros donos da bola.
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