Thomas Korontai*
O Brasil está cada vez mais, digamos… “cotado”. Mas não tanto no sentido de estar bem cotado no exterior, como propaga a mídia. Com tantos problemas, apesar das virtudes, a questão pode ser enfocada no sentido de muitos tipos de cotas. E não me refiro apenas a cotas raciais, cotas para índios, cotas para mulheres na política e nem mesmo a cotas de programação de conteúdo nacional na televisão paga, a TV a cabo.
Todas são absurdas, mexem com a natureza humana, desregulam o fluxo natural das coisas e criam problemas inexistentes. Parece que a coisa toda é feita para que o foco nos verdadeiros problemas não possa ser estabelecido, parece proposital criar, a cada dia, novos bodes expiatórios. Será que o Brasil foi feito para não dar certo?
Mas não são também apenas essas cotas que buscam beneficiar grupos em detrimento de outros, colocando-os em posições antagônicas, quando o objetivo é a Nação, unida, pois em casa dividida não existe prosperidade como dizia Lincoln. Refiro-me às cotas de sofrimento que cada brasileiro está enfrentando. Cito algumas:
Leia também
Cota de mais de 40% de tributos que pagamos ao governo para nada ou pouco fazer e sustentar um gigante estatal que cresce a cada dia que passa.
Cota de insegurança jurídica quando se faz um contrato, de qualquer natureza, sem saber se o mesmo vai ser cumprido, pois o eventual calote ou engodo tem pouca chance de ter o correspondente reparo ou proteção judicial – depende da sorte de ter um sorteio para um bom juiz.
Cota de irritação e muito estresse, quando não tem que se desembolsar algum “ajutório propinístico” para fazer andar algum documento na burocracia brasileira nos três níveis de governo, seja para regularizar alguma situação ou para abrir uma empresa, ou fazer uma exportação ou importação, não importa, praticamente todos, com as ainda honrosas exceções, os procedimentos no Brasil têm sua cota desses elementos.
Cota de insegurança patrimonial, já que a bandidagem está livre e relativamente tranqüila para fazer o que bem entende, na falta do poder institucional que é pago para bem proteger, em cotas que deveriam estar mais próximas de 100%, mas que não conseguem passar dos 30% ou pouco mais do que isso. E sem falar nas invasões de grupos dos “sem isso ou sem aquilo”, alguns deles com ações violentas. Uma cota indesejável, e que recai sempre em algum proprietário (ou propriotário), determinando-se a sua cota de penalização por ter uma terra. Logo serão os “propriotários” de imóveis urbanos?
Cota de insegurança quanto à vida, pois o conjunto das cotas anteriores deixa qualquer um bem cotado para pagar com a saúde ou a vida, os problemas decorrentes da cota de irresponsabilidade governamental, esta, cada vez maior. Aliás, eu mesmo acabei de ser vítima disso. No último sábado, dia 29.03, voltando de São Paulo, onde tive reuniões e diversos outros assuntos federalistas, no sentido de Curitiba, sofri um acidente de média proporção, exatamente na Serra de Miracatu, à noite, com chuva.
Lá a pista é simples, esburacada, cheia de curvas, pouca ou quase nenhuma visibilidade e sinalização. Infelizmente o governo talvez não tenha tanta culpa por alguns motoristas criminosos como o que, com seu caminhão carreta, jogou outro veículo contra o meu.
Felizmente, nenhum ferido, embora o dano material tenha sido de monta. Tivemos nossa cota de boa sorte… Mas nossa cota de participação nas estatísticas de vítimas da BR 116, as pessoas que ocupavam o outro veículo e eu, há dezenas de anos a única artéria de comunicação do Sudeste com o Sul, justamente as duas mais importantes regiões produtoras, está sacramentada.
Contudo, o risco continua, pois ninguém mais fala sobre o que aconteceu com a tal privatização, não se vê nenhum espanhol sequer fazendo levantamentos da estrada. Nada, exceto alguma obra de absoluta emergência, está sendo feito. Será que a cota financeira dos vencedores deu problema?
Mas não se esgotou aí. Embora o motorista da carreta tenha se evadido do local, graças à intervenção de um morador local, que viu tudo acontecer, conseguimos capturar o mesmo e conduzi-lo à delegacia da Policia Civil, em Miracatu.
A cota de equívocos de um modelo centralizado se revelou nisso também, pois é necessária a presença de uma perícia técnica nos veículos – não sei o que isso tem a ver com o crime cometido pelo sujeito – o que demandaria muitas horas, talvez até 48 horas, ou mais, pois só existe uma equipe para atender a mais de dez municípios da região, incluindo acidentes nas estradas, apreensão de palmito ilegal, de animais silvestres capturados ilegalmente e por aí afora.
Realmente não foi possível compreender o porquê desse procedimento, o que a parte material tem a ver com a ação criminal, afinal, não foi furto ou roubo e, sim, uma ação criminosa no volante. E o centralizado e único Código Nacional de Trânsito prevê a criminalização… Resultado: fomos obrigados a desistir do registro da queixa-crime.
O Brasil, assim, é feito de cotas de irresponsabilidade, de equívocos de toda espécie, citá-los transformaria esse artigo em um livro, cotas de desgraças e problemas que inflam estatísticas por conta das cotas de confusões que se perdem no cenário político, de cartões corporativos a dossiês, de projetos de mais cotas sobre isso e aquilo a problemas com a soberania na Amazônia, de reformas que são adiadas pelos mais diversos motivos, desde o ano eleitoral até anos de escândalos de mensalões e outros que tais.
A melhor forma de cotizar o Brasil e deixá-lo bem cotado, para brasileiros e investimentos externos, para finalizar esse festival de trocadilhos, até agora um tanto salgados, para não dizer macabros, é dar a cada estado a sua cota de responsabilidade, de autonomia, de liberdade para criar soluções e resolver problemas, seja pela ação de seus governos locais ou de empresas, locais, nacionais ou internacionais, não importa.
Importa que cada localidade consiga ter sua cota de resultados, suas cotas de bônus e, quando for o caso, os ônus por erros cometidos, os quais ficam, assim, por conta apenas de quem os cometeu. Isso é o federalismo pleno, um processo de distribuição de cotas de autonomias iguais, com responsabilidades iguais e resultados de acordo com o mérito de cada um.
O que temos atualmente poderá nos levar, em algum momento futuro, ninguém sabe, a preencher a cota de paciência dos brasileiros. Afinal, todos têm uma cota de paciência e limite. Se você ainda não foi vítima, “não ganhou ainda a sua cota” em uma das estatísticas ruins, vai esperar sua vez? Saudações Federalistas.
*Thomas Korontai, 50 anos, é empresário, escritor, consultor em propriedade industrial, fundador e presidente do Partido Federalista, em processo de reconhecimento pelo TSE.
Deixe um comentário