Na última sexta-feira (4), almocei com Maurice Strong, o legendário mentor da Rio 92 e, sem dúvida, um dos maiores responsáveis pelo seu sucesso, na época.
Descobri que não sou o único que está preocupado com os destinos da Rio + 20. Strong analisa, conforme eu já vinha advertindo, que a conjuntura atual é pouco propícia e que o evento não tem encontrado ressonância na mídia fora do Brasil. Há grandes dúvidas sobre o comparecimento dos principais chefes de estado. Já se sabe que Obama não virá. O primeiro ministro Wen Jiabao não deu ainda uma resposta.
Os chineses não o fazem com muita antecedência e o fato do presidente norte-americano não vir e, sobretudo, o delicado ano sucessório na China pesam negativamente. Pesa positivamente a relação especial que Brasil e China estão mantendo e o fato do primeiro-ministro já ter manifestado que gostaria de visitar a América Latina antes de deixar o cargo, em 2013.
Strong observa que os temas dessa reunião e o formato de suas decisões estão bem menos maduros que na Rio 92 numa época análoga. Além do que a própria natureza desses temas é bem mais complexa. O tema economia verde é incipiente e o da governança política é diplomaticamente complicado. Ele concordou com as análises que venho fazendo e com as propostas que apresentei, embora considere algumas dificilmente factíveis, no atual momento. Em relação à idéia de, no caso de um fiasco em Durban, se realizar uma reunião paralela sobre Clima na Rio + 20, ele acha boa desde que seja claramente como side event, uma atividade paralela à conferência, que é exatamente o que proponho.
Strong apresenta algumas idéias que listo aqui:
1 – Organizar uma premiação com forte presença de personalidades e artistas internacionais que possa atrair a atenção da mídia.
2 – Fazer da Rio + 20 uma Conferência Permanente nos moldes do processo que levou à criação da OMC. Corretamente nota que no Rio esses assuntos não se esgotarão, quando muito poderá se chegar a uma declaração oficial de princípios.
Publicidade3 – No quesito economia verde, ele simpatiza com nossas propostas da subcomissão Rio + 20 da Câmara, sobre novo tipo de indicado para substituir o PIB e a atribuição de valor econômico a serviços ambientais prestados pelos ecossistemas. Ele propõe a emissão de eco-bonus para financiar projetos de sustentabilidade.
4 – Ele propõe mecanismos de responsabilização jurídica supranacionais por grandes agressões ambientais, embora reconheça as dificuldades em viabilizá-los, sobretudo vista à resistência dos EUA.
Strong realiza um trabalho extraordinário na China com um sentido estratégico importantíssimo. Faz isso desde ainda os tempos do maoísmo. Nos anos 70, por sua relação próxima com Chu En Lai, o legendário primeiro ministro de então, ele ajudou a criar a agencia de proteção ambiental da China. Muitos anos se passaram e Strong é hoje a personalidade ambientalista ocidental de maior influencia na China.
Quando ele fala, os chineses ouvem.
E isso não é pouca coisa…
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