Foi uma luta duríssima, que terminou com uma vitória inesquecível. Os garis deram uma lição de perseverança e garra a todos os cariocas. Enfrentaram o autoritarismo da prefeitura, da Comlurb e do sindicato, que tiveram suas vozes e versões amplificadas pelos meios de comunicação de maior circulação. A vitória foi um cala-boca em todos que tentam deslegitimar a luta de trabalhadores organizados. Veja abaixo o pronunciamento que fiz na Câmara sobre o assunto. A Mídia Ninja fez um belíssimo registro da greve. Não deixe de ler o histórico das ações autoritárias da prefeitura durante a greve.
Senhor presidente, senhoras e senhores deputados e todo(a)s o(a)s que assistem a esta sessão ou nela trabalham:
O Carnaval carioca foi animado, neste ano, por um bloco de cor laranja que encheu as ruas do Rio de Janeiro de entusiasmo cidadão. Após oito dias em greve, os garis conquistaram piso salarial de R$ 1,1 mil (crescimento de 37%), adicional de insalubridade de 40% e aumento de 66% no valor do tíquete-alimentação, que passou a R$ 20. Conseguiram, ainda, a garantia da prefeitura de que as 300 demissões declaradas anteriormente, como absurda punição pelo legítimo exercício do direito de greve, seriam revertidas.
A vitória histórica veio após uma luta dura e perseverante. Começou com o anúncio de um aumento de apenas 9% para o piso salarial de R$ 802 (sem contar os descontos), após uma negociação a portas fechadas e sem participação da categoria. Os garis não aceitaram. Denunciaram suas péssimas condições de trabalho, os conchavos do sindicato com os patrões e ameaçaram greve para o Carnaval. Sem resposta, a greve estourou.
O prefeito Eduardo Paes, a Comlurb e a mídia grande promoveram então um jogo sujo de desinformação, ataques e ameaças aos trabalhadores. Afirmaram que não se tratava de greve, mas de um ‘motim’ feito por uma ‘minoria’ de ‘200 ou 300’ garis ‘manipulados’ por lideranças que teriam ‘vínculos partidários’ e ‘interesses escusos’. Em entrevista no RJTV e na GloboNews, o Prefeito chegou a dizer: “É um grupo de marginais coagindo quem quer trabalhar, num processo de guerrilha”.
Demissões em massa, policiais utilizados como em capitães do mato para vigiar os garis, discurso de deslegitimação e criminalização do movimento, boicote do próprio sindicato, infiel à sua categoria. Nada disso adiantou. As passeatas e as montanhas de lixo acumuladas pela cidade escancaravam as mentiras oficiais: o movimento era forte e não de uma ‘minoria amotinada’. Uma onda laranja tomou as ruas do Rio.
Desta vez, os poderosos não conseguiram empurrar o lixo para debaixo do tapete. A Prefeitura, a Comlurb, a mídia grande e todos os que se julgam donos do Rio então se curvaram aos ‘delinquentes’, aos ‘manipulados por partidos’, aos ‘intimidadores’, à ‘minoria amotinada’??? Por que se negociou, afinal, com os líderes de uma ‘greve inexistente’??? Dos que disseram tantas vergonhosas asneiras até há pouco, inclusive dirigentes sindicais infiéis à sua própria categoria, não vamos esperar que varram de sua mente essas noções, aí sim, manipuladoras e falseadoras da realidade. As pessoas simples, que sabem que o trabalho dos garis é imprescindível, e que eles não reivindicavam nada mais do que dignidade, reforçaram sua certeza de que QUEM LUTA, COM UNIDADE E ORGANIZAÇÃO, CONQUISTA!
PublicidadeObrigado a vocês, ‘laranjinhas’ batalhadore(a)s, pela bela ‘vassourada’ nos arrogantes, nos pelegos, nos que só pensam nos seus poluídos lucros com os megaeventos da cidade ‘para inglês ver’. Vocês fizeram um Carnaval de tenacidade, de persistência, de cobrança LIMPA e justa.
Devemos aproveitar este momento para refletir também sobre o lixo que produzimos em grandes quantidades. No Rio de Janeiro, somente 3% do lixo é reciclado. Nacionalmente, apenas 14% dos municípios brasileiros, nos quais vivem 12% da população brasileira, oferecem serviço de coleta seletiva.
É responsabilidade federal ampliar significativamente o fomento, suporte financeiro, logístico e político às políticas públicas relacionadas aos resíduos sólidos, baseadas nos pilares da sustentabilidade ambiental e do trabalho digno.
Esta Casa deveria, para começar, tratar com maior respeito aquele(a)s que recolhem o lixo produzido aqui dentro. Registro a minha indignação com o atraso no pagamento do vale-transporte do(a)s trabalhadore(a)s terceirizado(a)s da Câmara, que está dez dias atrasado.
Agradeço a atenção,
Sala das Sessões da Câmara dos Deputados, 11 de março de 2014.
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