Cheguei em Barcelona em março de 2008. Assim que tive um tempo, fui comprar um celular. Como ainda não tinha residência fixa e nenhum documento espanhol, tive que optar por um pré-pago. Escolhi a Telefónica de Espanha, ou a Movistar.
Aqui começa a novela. São alguns capítulos.
O maldito pré-pago que não fala
Comprei o tal pré-pago e a moça da loja não conseguiu ativá-lo. As linhas estavam congestionadas, pensei que era uma “broma”, mas não era brincadeira, a moça falou sério. E me disse, fique tranquilo, em 45 minutos o celular vai estar funcionando. Uma hora depois, voltei à loja e nada. A moça chamou um moço que também não conseguiu colocar o celular para falar. Fique tranquilo (aqui você deve sempre estar tranquilo), amanhã vai estar funcionando. Se por acaso não estiver… você entra na página na web e ativa em dois minutos. Mas tem que ser amanhã. OK, fazer o quê?
Chegou o amanhã, e o celular continuava morto. Tentei a página na web. Quebrei a cabeça, liguei para o atendimento ao (pobre) cliente e nada. Passei de novo na loja e a novela só terminou uns dois dias depois da compra do maldito – ou bendito, não sei bem – celular pré-pago da maldita – tenho certeza – Movistar.
Bom, continuou um pouco mais. Comprava crédito de 20 euros e, de quando em vez, o crédito terminava meio repentinamente. Reclamar pra quem? Pro bispo? O bispo já não manda mais. Mandava quando Franco estava por aqui. Mas essa é outra história.
O iPhone inexistente
A Apple lança o iPhone na Espanha e escolhe a Movistar como representante. Oba, vou ficar livre do pré-pago! Já com documento espanhol e com endereço devidamente registrado na prefeitura de Barcelona, atravessei a rua e fui comprar o caríssimo iPhone. Cheguei na loja e pedi a “última maravilha” do século XXI. Ah, hoje não tem, acabou, volta amanhã. Volto sim, mas não dá pra reservar, colocar o nome numa lista de espera, deixar o número de telefone ou um e-mail? Não dá não. Só chegam uns três ou quatro e acabam logo. Como assim? Chegam aqui na loja e logo aparecem os clientes e levam. OK, mas eu moro ali do outro lado da rua, você me liga ou grita, que eu venho correndo comprar. Ah, não dá não…
Bom, fiquei passando de tempos em tempos na lojinha da Movistar. Entrava e os vendedores se escondiam ou fingiam que estavam muito ocupados. A impressão que eu tinha é que eles me viam e pensavam… ih, lá vem aquele chato que quer comprar um iPhone.
Um dia, um dos atendentes resolveu me despachar. Olha, aqui você não vai conseguir comprar o seu iPhone. Vai na loja da Praça Catalunha, a loja é grande e lá eu sei que tem. Gracias, e o bobo foi pra Praça Catalunha. Loja grande, bonita e entupida de gente. Pego a senha, espero uma hora para descobrir que só tinha o iPhone 8 Gb. Poxa, eu quero um de 16 Gb. Dá para encomendar, blablablá e tal.
Mostro o meu documento espanhol e o documento emitido pelo governo espanhol não vale. Com esse DNI (Documento Nacional de Identidade) você não pode comprar, você é estrangeiro. Claro que sou estrangeiro, mas vivo aqui em Barcelona e tenho identidade emitida pelo governo da Espanha. Ou não? Sim, mas o computador não reconhece essa identidade.
Desisti da Telefónica e do “maravilhoso” iPhone e comecei a pesquisar um outro celular em uma outra operadora. Nesse meio tempo, uma amiga conseguiu comprar um iPhone numa lojinha de bairro e me deu a dica. Fui lá e em 30 minutos estava com o celular funcionando, ativado e falando. Mas para ter esse iPhone demorou mais de um ano e me custou muita dor de cabeça.
O telefone ficou mudo, a internet foi para o espaço e a televisão saiu do ar
Um dia, o telefone da casa, o fixo, ficou mudo. Chamei, pelo celular, a Telefónica de Espanha, e relatei o acontecido. Vamos averiguar… aguarde. Aguardei e como não tive resposta, chamei de novo. Estamos averiguando…aguarde. Claro, isso depois de teclar vários números e ficar aguardando e ouvindo aquelas abomináveis musiquinhas eletrônicas e aqueles recadinhos ridículos: “Não desligue, sua chamada é muito importante para nosotros.”
Aguardava e nada de resposta. Chamava de novo e nada. Depois de 24 horas, sem saber o que havia acontecido e sem nenhuma previsão da Telefonica, já não tinha mais paciência. O pobre coitado do outro lado da linha é que tinha que escutar minhas reclamações contra a Telefonica de Espanha. Fiquei mais de 36 horas sem o telefone de casa e, assim como emudeceu, assim ele voltou a falar. E a Telefonica nem aí, só averiguando. Do meu lado, eu averiguei que os telefones dos vizinhos estavam funcionando. Eu só queria entender…
E foi mais de uma vez, haja paciência! Aconteceu com o telefone fixo, aconteceu com o sinal da internet. Poupo vocês da lenga-lenga de introdução, a história é a mesma, ou quase.
O serviço de TV a cabo da Telefónica tem o simpático nome “Imagenio”. Funciona mais ou menos, vira e mexe a imagem congela, desaparece, volta, etc. Mas como não vejo muita TV, não ligo muito. Só não pode acontecer durante o jogo do Barça. Haveria uma revolução em Barcelona.
Pois bem ou pois mal, o sinal sumiu. Desliguei, liguei, “resetei” o decodificador, o modem e fiz tudo que poderia fazer. O imagenio se recusava a aparecer na tela. Me enchi de paciência e chamei a Telefonica. “Um momento, estamos transferindo sua chamada para o departamento técnico, não desligue, sua chamada”…e mais um pouco daquelas malditas musiquinhas.
Para minha surpresa, atendeu um amável técnico e através da própria televisão fomos fazendo todos os procedimentos, checando inclusive o endereço “IP” da internet que também estava fora do ar.
Putz, genial! Funcionou e a Telefonica funcionou! Genial.
A TV voltou e a internet rodou. Agradeci ao técnico e pensei…até que essa Telefonica não é tão ruim, eu é que dei azar nas outras vezes.
Aconteceu de novo. Tranquilo, pensei, ligo para o departamento técnico e resolvemos a questão rapidamente.
Liguei e pedi para falar no tal departamento técnico. A resposta…mas nós não temos esse serviço de ajuda ao cliente. Expliquei que uma vez eu tive um problema e etc, etc. Sinto muito, Don Claudio, o señor deve estar equivocado. Insisti e a moça do outro lado da linha insistiu também, não temos esse serviço. Fiquei sem saber o que fazer. Será que eu estava sonhando? Sonhei ser cliente da Telefonica de Espanha, um verdadeiro pesadelo!
O iPad, o cartão “SIM” de outra pessoa e a eficiente Nuria Alonso
Último capítulo. Minha filha me deu de presente mais uma “última maravilha do século XXI”, um iPad. Ela comprou na página web da Apple e junto com alguns acessórios escolheu uma “tarjeta SIM” para conectar o iPad usando o sinal 3G. Ela escolheu a operadora Movistar. Chegou o brinquedinho e junto a tal “tarjeta”. E uma simpática cartinha da Movistar. “Estimado cliente…gracias por confiar en Movistar”. E as instruções para ativar o cartão SIM.
Liguei para 1004, ouvi a mesma mensagem de sempre, umas musiquinhas e a resposta que já esperava. Nesse momento, não podemos ativar sua tarjeta. Basta ir a uma loja Movistar, ativar e sair navegando no seu iPad. Gracias.
Eu sabia, não poderia dar certo!
Lá foi o bobo na tienda Movistar da esquina. A atendente, muito simpática, me perguntou o que eu queria. Eu só quero ativar uma tarjeta “SIM” para um iPad. Ah, o señor tem que ligar para 1004 e ativar pelo telefone. Eu sei, mas o 1004 me mandou ativar numa tienda Movistar. Um momento…fulana, você sabe como se ativa uma tarjeta “SIM” para iPad. Tem que ligar para 1004, respondeu a fulana. Ih, o señor vai ter que ligar para 1004. Repeti a história, por favor ligue você e explique a situação para o 1004. Ela ligou, explicou, tentou ativar pelo computador da loja enquanto ouvia as instruções do 1004. E veio o veredicto. Impossível! Esta tarjeta pertence a outra pessoa. Como assim? Perguntei. Ela foi enviada para outra pessoa, não está no nome do señor, lo siento. Agradeci e saí.
Caiu a ficha. Isadora pagou e enviou o brinquedo para outra pessoa. Essa era a confusão.
Liguei umas duzentas vezes e não consegui explicar a situação para o 1004. Ele não gosta de ouvir ninguém. 1004 gosta mesmo é de falar: “Não desligue, sua chamada é…”
Liguei para o “atendimento ao cliente” e descobri a Santa Nuria Alonso. Mais uma vez, expliquei e ela me ouviu atentamente. Ficou de ver o que poderia fazer e chamaria de volta. E a amável e eficiente Nuria chamou mesmo. Cancelou a tarjeta e está enviando outra pelo correio. Deve chegar em 10 dias. Muito melhor do que ir a uma loja Movistar. Chega de pesadelo.
Epílogo
Resumo da ópera. A Telefónica presta um serviço ruim. Ponto final. O monopólio já não existe mais, mas são poucas opções para quem quer trocar de operadora.
A Espanha tem uma das piores conexões de internet da Europa e, ao mesmo tempo, uma das tarifas mais altas do continente. Para piorar a situação, do consumidor, as grandes teles jogaram no ar mais uma brilhante idéia. Quem consome mais internet, deveria pagar mais. Na verdade, é um balão de ensaio, se colar, colou. A chiadeira já começou. Ou como comentou um leitor do jornal Público: por que não cobrar menos de quem consome menos?
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