Ademir Monteiro*
Quando criança, recordo, em todas eleições ficávamos com ouvido colado no rádio de pilha (transglobo), quem tinha um era todo parolagem com seu potente meio de comunicação, ouvindo as apurações. Os eleitos, em sua maioria, senhores respeitáveis, tinham muito a acrescentar à vida publica. Era um aprendizado de raro prazer, todos eleitos impunham respeitabilidade, era um prazer ler sobre seu passado público e como viam o futuro do país, do estado, ou do município.
Hoje é triste a constatação da deterioração do caráter humano, e por extensão dos políticos e da administração pública. Foram esquecidos os princípios básicos: imparcialidade, honestidade, moralidade, lealdade às instituições e aos eleitores. Perdemos o referencial ético neste país. Políticos e bandidos transitam de braços dados, mensalões, sanguessugas, não escapa um, nem os evangélicos. Por que tantos bispos (?) candidatos a deputado? Quantos já foram envolvidos em falcatruas?
Acordos preservam a comodidade de alguns governantes, a troca de interesse resulta em nomeações cruzadas, o nepotismo é prática comum. O Legislativo e o Kudiciário trocam favores enquanto bandidos impõem condições de boa convivência às instituições estabelecidas, muitas vezes com aquiescência de governantes. O Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho dominam o país, impõem terror à sociedade, bandidos buscam o esconderijo nas eleições tentando alcançar os foros privilegiados, e imunidade parlamentar.
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O STJ manda soltar bandidos do colarinho branco. Enquanto a sociedade aprecia estarrecida essa dança de ratos, lhe faltam saúde, educação, segurança e principalmente paz. Pois em nome desta se faz a guerra. Milhares de vidas são ceifadas: crianças, idosos, enquanto fabricantes de armas enriquecem e reuniões de faz-de-conta tentam a paz. A palavra guerra só deveria ser usada para significar uma luta sem trégua contra a ignorância, a fome, as doenças, as desigualdades, a descriminação, a intolerância, a espoliação do homem e a violência contra as mulheres.
Essa situação está posta por falta de uma postura crítica dos eleitores, que trocam seus votos por migalhas e favores, enquanto espertalhões agem como ratos, que na calada da noite invadem as cozinhas dos pobres, roubam-lhes o que lhes restam de alimentos, deixando fezes, urina e doença, trocando de esconderijo para não ser encontrado.
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos”.
* Ademir Monteiro, 54 anos, é técnico legislativo.
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