Antônio Augusto de Queiroz*
A tempestade financeira, para usar uma expressão do ministro da Fazenda, Guido Mantega, ou o terremoto, como diz Ignácio Ramonet, do Le Monde Diplomatique, são os adjetivos mais amenos para qualificar a maior crise do sistema financeiro, depois de 1929.
O mundo virtual, de faz de conta, que movimenta seis vezes a riqueza mundial sem qualquer regulamentação, algo como 250 bilhões de euros, veio a baixo. Os prejuízos são incalculáveis, mas ninguém discute as causas dessa tragédia. Discute-se apenas o que o governo de cada país ou Estado fará para estancar as larvas do vulcão, que derretem mercados mundo afora.
Um debate das causas levaria, inevitavelmente, ao reconhecimento do fracasso das políticas neoliberais, que tinham como slogan, na gestão Reagan, “O Estado não é a solução, é o problema”. Porém, quando o “deus mercado” falha – e falhará sempre porque sua ganância não aceita limites – recorre-se sempre ao Estado, subtraindo recursos que deveriam ser aplicados em favor dos povos. A lógica dos capitalistas, notadamente os rentistas, é sempre a mesma: privatizar os lucros e socializar os prejuízos.
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A irresponsabilidade dos banqueiros dos países centrais, especialmente dos EUA, nunca punida de forma exemplar, prejudica a todos, num efeito dominó por força da globalização dos mercados. Assim, país como o Brasil, cujo sistema financeiro estava saneado, sofre as conseqüências da crise, seja com a transferência de recursos das multinacionais aqui instaladas para socorrer suas matrizes, seja com a especulação nas bolsas de valores e no câmbio, seja com a redução das exportações.
O fato é que a crise sai do mundo virtual e atinge em cheio a economia real, com a escassez de crédito, com a redução dos investimentos e, conseqüentemente, com a desaceleração da economia mundial. Tudo isso resulta em menos investimentos e menos produção, especialmente em países cuja pauta de exportação é fundamental para o equilíbrio da balança comercial e de serviços com o resto do mundo, como é o caso brasileiro.
O desafio, agora, é punir os responsáveis e superar a crise com garantia de crédito, regulamentação dos mercados, e estímulo e apoio aos investimentos, para preservar os empregos e manter a renda das famílias, sob pena de uma grande recessão ou mesmo depressão econômica mundial.
O irônico é que somente o Estado, aquele ente que os neoliberais apresentavam como o “problema”, poderá evitar essa tragédia, fornecendo os meios: crédito, regulação e investimento.
*Antônio Augusto de Queiroz é jornalista, analista político e diretor de Documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).
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