Jesus foi infinitamente ’crucificado’. Coloco entre aspas porque literalmente ele morreu na cruz e, até hoje, muitos dos seus seguidores são perseguidos, torturados e mortos. Em seu nome, muitos continuam perseguidos e podem ainda vir a ser ’crucificados’.
O inverso também é verdadeiro. Em nome de Jesus, a Inquisição perseguiu, prendeu, torturou e matou. Tanto num caso como em outro, a razão de tantos crimes está na profunda intolerância, na falta de solidariedade e de humanismo.
A intolerância sempre foi causa de violência. Por não compreender, e as razões são várias (burrice, desinformação, ignorância, imbecilidade, etc.), os semelhantes, procura-se eliminá-los. Eliminá-los psicologicamente (bullying) e mesmo fisicamente. Na intolerância, estimulam-se e praticam-se agressões de todos os tipos, inclusive o assassinato, como é caso dos assassinatos de homossexuais, negros e mulheres.
No caso do Brasil, inclusive está se agravando, há grupos que pregam a violência (e até o extermínio) dos que pensam diferente deles na política. Pregam a eliminação dos que lutam pela igualdade (econômica e social), pelo humanismo e pela solidariedade.
Esta breve introdução é para me manifestar em apoio a Viviany Beloboni, que último dia 7 de junho desfilou na Parada do Orgulho LGBT, em São Paulo, presa de braços abertos em uma cruz. Desfilou “crucificada”, em protesto à violência contra as Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT). O recado do protesto estava afixado no cartaz sobre a cabeça de Viviane: “Basta de HOMOFOBIA GLBT”.
Por faltar luz (divina), os homofóbicos não leram. Não leem porque a intolerância leva às trevas.
Viviany protestava contra a violência. Os intolerantes, os fundamentalistas religiosos, os homofóbicos, os que são contra os direitos humanos e o direito à orientação sexual deveriam cobrar punição aos criminosos, e não “crucificar” infinitamente a Viviany. Como não cobram a punição dos crimes cometidos contra pessoas, entendo que são favoráveis a tais crimes.
PublicidadeSobre o número de crimes contra os homossexuais, recorro ao Relatório 2013/2014 do “Grupo Gay da Bahia”. Segundo o grupo, em 2013 foram “documentados 312 assassinatos de gays, travestis e lésbicas no Brasil, incluindo uma transexual brasileira morta no Reino Unido e um gay morto na Espanha. Um assassinato a cada 28 horas!” (…). “O Brasil continua sendo o campeão mundial de crimes homo-transfóbicos: segundo agências internacionais, 40% dos assassinatos de transexuais e travestis no ano de 2013 foram cometidos no Brasil”.
O Brasil concentra, segundo o “Grupo Gay da Bahia”, 4/5 de todas execuções do planeta. “Nos Estados Unidos, com 100 milhões a mais de habitantes que nosso país, foram registrados 16 assassinatos de transexuais em 2013, enquanto no Brasil, foram executadas 108 “trans”. O risco, portanto, de uma travesti ser assassinada no Brasil é 1280 vezes maior do que nos EUA”.
Estes números não retratam a realidade. Ela é pior. Nem todo homossexual se manifesta publicamente pela sua sexualidade e muitos, assim que ‘descobertos’, são assassinados, quando não se suicidam. Ainda a nossa ineficiente polícia não registra todos os casos de assassinato homofóbico como a razão do homicídio.
Terminei de ler o livro “Las Aventuras del Niño Jesús” de Alberto Manguel. Já a capa da edição do livro que li seria profana para os intolerantes. É o ‘desenho’ de uma mulher com uma criança (seria “el niño Jesús”) nua, deitada de bruços sobre suas pernas e a mulher com a mão erguida para dar um tapa na bunda. Provavelmente “el niño” teria aprontado alguma.
Manguel faz uma excelente seleção de textos sobre a infância e adolescência de Jesus Cristo, e neles é fácil notar contradições. Por isso, apesar de a maioria dos textos terem sido escritos por cristãos, estão fora da literatura cristã. Alguns dos textos mostram uma criança maldosa, como o registrado no texto “Travesuras del Niño Jesús”.
Um dos melhores e mais encantador dos textos ali publicado é de Oscar Wilde, homossexual condenado e preso por sua orientação sexual.
Seria melhor para o Brasil se aqueles que oraram em protesto à ‘profanação’ a Jesus trabalhassem para a aprovação da lei que criminaliza a homofobia.
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