Eduardo Militão
Um
depoimento à Justiça Federal mostra que parlamentares tinham o hábito de trocar
créditos de passagens entre si, algumas vezes sem o conhecimento de todas as
partes envolvidas (veja o vídeo, clicando na imagem acima). A ex-gerente de
contas da Varig Jussara Gomes de Souza, 53 anos, foi à 12ª Vara Federal em
Brasília para prestar explicações no processo criminal que acusa o ex-deputado
Lino Rossi (PP-MT), o ex-assessor parlamentar Marlon de Araújo e o agente de
viagens Pedro Damião Rabelo de estelionato, peculato e crime contra a
administração pública (leia
mais).
O interrogatório aconteceu no dia 28 de maio e é o último andamento relevante
da ação penal que tramita desde 2007. Na conversa com a juíza Pollyanna Kelly
Alves, Jussara Souza confirma todo seu depoimento prestado à Polícia Legislativa
da Câmara em 2005.
A ex-gerente diz que, em 4 de maio de 2005, foi avisada pela supervisora da
Varig Elaine Pontes que uma requisição de passagens da então deputada Thaís
Bergo Barbosa (PMDB-MT), suplente de Lino Rossi, tinha sido falsificada.O ofício
concedia um crédito de passagens de R$ 300,00 a Pedro Damião, dono da agência
Morena Turismo e ex-funcionário da Varig e do gabinete do deputado Pompeu de
Matos (PDT-RS).
À época, Jussara procurou a deputada Thaís Bergo, que não reconheceu sua
assinatura no documento. A funcionária da Varig alertou-a de que possíveis
fraudes poderiam estar acontecendo em outras companhias aéreas. Depois, Jussara
solicitou aos funcionários da loja da empresa na Câmara que confirmassem
despesas com milhagens.
Foi aí que descobriu que uma passagem internacional para José Amando, marido
de Thaís Bergo, saiu da cota do deputado Francisco Turra (PP-RS). A deputada
disse desconhecer o fato, mas Turra disse que sabia o que estava fazendo.
O parlamentar gaúcho afirmou a Jussara, segundo o depoimento, que pensava
“estar ajudando” a colega. Foi Marlon Reis, assessor de Lino Rossi e de Thaís,
quem teria pedido o “empréstimo” aos servidores do gabinete de Turra.
Atual presidente da Associação Brasileira de Produção e Exportação de Frango,
Turra afirmou ao Congresso em Foco que pensava estar ajudando a
deputada, e não seu marido. “Segundo o pedido, ela [Thaís] não teria cota. Eu
disse: ‘Devolvendo, sem problema’.”
Porém, Turra negou ter o hábito de emprestar sua cota para colegas de outros
gabinetes e afirmou desconhecer quem também fizesse isso. O ex-deputado afirmou
que não se lembrar de nenhum caso de venda de passagens na Câmara.
Jussara Souza e assessores de parlamentares confirmaram ao Congresso
em Foco que os deputados costumavam trocar e emprestar créditos entre
si. Julião
Amin (PDT-MA), por exemplo, devolveu R$ 1.143 após um episódio em que sua
cota foi “emprestada” e não mais localizada. O benefício parlamentar acabou
servindo à família
do ex-diretor de Recursos Humanos do Senado, João Carlos Zoghbi .
Desconforto
Durante os seis minutos e seis segundos do depoimento gravado em vídeo,
Jussara se mostra visivelmente desconfortável. Coça frequentemente o nariz,
apoia a cabeça com as mãos algumas vezes, tem expressão abatida e aparenta estar
resfriada.
No processo, Lino Rossi é acusado pelo Ministério Público de usar
passagens da Câmara para beneficiar familiares e terceiros. Ao deixar o cargo
por conta de uma licença médica, manteve Marlon Reis no gabinete e continuou a
usar passagens da Casa, segundo contou Thaís Bergo.
Além da ação penal na 12ª Vara, Lino Rossi, o assessor e o agente Pedro
Damião são réus em uma ação de improbidade administrativa que tramita na 13ª
Vara Federal de Brasília.
Procuradores do Ministério Público Federal no Distrito Federal investigam a
eventual ocorrência de outros crimes com passagens aéreas. Para apressar as
conclusões, dividiu o trabalho com colegas de cinco
regiões do país.
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