Na quarta-feira, Sarney diz que vai ficar no cargo. Assista
Eduardo Militão
De 3 a 7 de agosto de 2009, as cenas do Senado quase tornaram-se capítulo de comédia pastelão. Aos olhos de quem viu de perto ou pela televisão, o temor era de que as iradas “excelências” fossem resolver com socos e pontapés suas divergências sobre a permanência de José Sarney (PMDB-AP) no comando da Casa.
De um lado, a oposição, o PT, o PDT e o PSB e parte do próprio PMDB. De outro, o partido de Sarney, o PTB e outros senadores historicamente ligados ao ex-presidente da República. Incluem-se no segundo grupo o ex-presidente Fernando Collor (PTB-AL) – que já passou um bom tempo na vida criticando Sarney – e Renan Calheiros (PMDB-AL), ex-presidente do Senado, que teve de deixar o cargo exatamente por sofrer pressão semelhante à existente hoje.
Entre o fim de semana e segunda-feira, as notícias anunciavam que Sarney iria abrir mão do cargo. Mas o PMDB já havia avisado em pleno domingo que os membros rebeldes da legenda podiam deixar o partido “sem risco algum de perder o mandato”.
Indiferente ao aviso, Pedro Simon (PMDB-RS) foi discursar na tarde de segunda-feira (3) pedindo, mais uma vez, a saída de Sarney. Foi interpelado por Renan, que acusou o colega de perseguir o presidente do Senado porque não fora escolhido candidato a vice-presidente da República em 1985, na chapa com Tancredo Neves. À época, Tancredo venceu na votação indireta, mas, doente, morreu, e Sarney assumiu o governo.
Simon se irritou e disse que Renan estava sempre com os governos, quaisquer que fossem eles. E mencionou o fato de o colega ter sido escudeiro de Collor para, depois, abandoná-los às vésperas do impeachment, em 1992. Collor acabou cassado e ficou com os direitos políticos suspensos por oito anos. “Depois, na véspera do Collor ser cassado, vossa excelência largou o Collor. Tchau, tchau!”, provocou Simon.
Foi aí que Collor entrou no plenário, visivelmente irado. Manteve os olhos fixos em Simon enquanto falava e depois disso surpreendeu: “Eu lhe peço, encarecidamente, que, antes de citar o meu nome desta tribuna, engula, digira, e faça dela [a palavra] o uso que julgar conveniente”, reclamou o senador. Collor ainda fez uma ameaça, até agora não cumprida: “Da próxima vez que o senhor pronunciar meu nome nesta Casa, vou ser obrigado a relembrar alguns fatos, alguns momentos talvez extremamente incômodos para vossa excelência” (confira aqui).
Frase incompleta
Na terça-feira (4), Simon fez, na Corregedoria da Casa, um pedido de explicações a Collor. Questionado por jornalistas, o ex-presidente da República reagiu com ironia: “Ah, manda ele…”, sem terminar a frase.
A população foi ao Senado fazer valer sua voz. Um grupo de sindicalistas e metalúrgicos foi à tribuna na terça-feira e abriu uma faixa “Fora, Sarney”. Mas se manteve em silêncio. Mesmo assim, os manifestantes foram enxotados do plenário pelos seguranças. Uma mulher chegou a ser derrubada escada abaixo. Os policiais do Senado foram chamados para dispersar o protesto a pedido de Adelmir Santana (DEM-DF).
Arquivamento sumário
Na quarta-feira (5), Sarney subiu à tribuna e garantiu que ficaria no cargo (veja o vídeo no início deste texto). Depois, o Conselho de Ética enterrou tudo que havia contra o presidente da Casa para ser julgado.
O Conselho deveria analisar 12 denúncias e representações contra Sarney e Renan. Escolhido pela tropa de choque para presidir o colegiado, o segundo suplente de senador Paulo Duque (PMDB-RJ) fez o serviço conforme se esperava. Arquivou quatro denúncias contra Sarney e uma contra Renan de imediato, sem nenhuma investigação pelos colegas.
A história se repetiu na sexta-feira (7), quando Duque engavetou as outras sete denúncias contra o presidente do Senado. Em todas, usou a justificativa de que as representações estavam baseadas apenas em recortes de jornais.
Discussão com palavrões
O clima voltou a esquentar na quinta-feira (6). Os aliados de Sarney leram uma representação a ser levada ao Conselho de Ética contra o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), adversário contumaz do presidente da Casa.
Virgílio iria responder da tribuna, quando Tasso Jereissati (PSDB-CE) exigiu que um manifestante pró-Sarney fosse retirado do plenário. Sarney negou o pedido e começou uma suja discussão, com palavrões trocados entre Tasso e Renan.
Tasso: “Senador Renan, não aponte seu dedo sujo para mim”.
Renan: “O dedo sujo, infelizmente, é o de vossa excelência. Dedo sujo é o dos jatinhos que você anda [sic] com dinheiro público, que o Senado pagou”.
Tasso: “Pelo menos era com meu dinheiro, o jato é meu, sou eu quem paga. Não ando em jatinho pago por empreiteiros, seu cangaceiro de terceira categoria!”
Renan: “Seu merda. Coronel de merda”.
Tasso: “Seu o quê? Repita, repita o que você disse aí! O senhor Renan Calheiros quebrou o decoro. Exijo que seja apresentada representação contra ele.”
Homenagem em inglês
Na sexta-feira (7), os rescaldos. Os senadores anti-Sarney voltaram à carga, mas falando apenas para os televisores. Simon disse que a culpa era do presidente Lula, Sarney validou 152 atos secretos e houve o arquivamento do resto das denúncias.
Para acalmar os ânimos em uma semana tão tensa, Eduardo Suplicy (PT-SP) fez uma homenagem ao Dia dos Pais e cantou, em inglês, a música Father and son, de Cat Stevens. Assista:
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